A franquia Paper Mario sempre foi o lado mais criativo e menos preso às tradições dos games do encanador. Isso, também, poderia ser dito da desenvolvedora Intelligent Systems, que apesar de sua relação extremamente próxima e exclusiva com a Nintendo, prefere permanecer independente e nos entregando games fora da curva, como é o caso da série citada e, também, da marca Warioware.
Com Paper Mario: The Origami King, a primeira iteração da série no Switch, a desenvolvedora se volta à simplicidade das brincadeiras com papel, que apesar das criações impressionantes a partir da milenar técnica de dobradura, apresenta um estilo tranquilo e quase descolado em seu texto, aliado a uma direção de arte que chama bastante a atenção.
O mote é semelhante ao de todos os outros games do Mario, com o Reino do Cogumelo, mais uma vez, ameaçado por um inimigo externo. O oponente da vez é King Olly, que deseja transformar os adesivos de papel tradicional em origamis descerebrados que cumprem suas ordens. O processo é lento e, como logo percebemos, parece ser doloroso, com direito a cenas um tanto assustadoras em sua primeira hora envolvendo Bowser e a necessidade dos soldados do inimigo tentando conseguir informação.
O foco na criatividade, nas cores e nos cenários faz de Paper Mario: The Origami King um título divertido e cheio de personalidade.
O andamento, porém, é leve e quase despreocupado. Após se aliar à irmã de Olly, Olivia, e reviver uma floresta, Paper Mario: The Origami King efetivamente começa e permite que o jogador se encante com a exploração em 3D de um mundo 2D e se surpreenda com o roteiro. O texto, infelizmente não dublado, traz piadas ácidas e até com duplo sentido que, normalmente, não são vistas em um título do personagem.
Desenrola-se diante de nossos olhos, também, um título colorido e festivo, que utiliza os elementos de papel que constituem seu mundo em favor próprio. Paper Mario: The Origami King recompensa os jogadores pela exploração, com itens escondidos pelo cenário e diferentes mistérios para serem descobertos, sempre ocultados de maneira criativa e interessante.
O principal deles, e em maior número, são os Toads, que podem estar escondidos em absolutamente qualquer lugar. Desdobrados, eles sempre têm algo de engraçado ou divertido para dizer, e os encontrar constitui não apenas um dos sistemas de colecionáveis do game, como ajuda bastante nas batalhas, das quais falaremos a seguir.
Outro elemento interessante está no próprio cenário, rasgado pela ação dos inimigos e que pode ser consertado por Mario com o uso de confetes. O elemento é finito, mas está disponível em todo lugar e também serve para dar acesso a novos locais, liberar Toads ou, simplesmente, soltar moedas. Há sempre algo a ser coletado em algum lugar e é impressionante notar como quase nenhuma ação fica sem recompensa, por menor que ela seja.
Como sempre acontece nos exclusivos da Nintendo, as características únicas do console não ficam de fora, e no Switch, isso também se traduz em interação com o cenário. Em momentos específicos, utilizamos braços dobráveis com os controles de movimento do console para remover partes soltas do cenário. Basta localizar a ponta e puxar, em um resultado ao mesmo tempo satisfatório e simples, como quase toda a experiência proporcionada por The Origami King.
A objetividade e o estilo acabam sendo as forças do novo Paper Mario, mas nem sempre. Explorar o mundo é interessante e sempre estamos descobrindo coisas novas, ainda que trafegando pelos mesmos lugares, com o mapa do novo game não sendo tão expansivo quanto o visto em outros títulos da franquia. Claro, o que importa não é o tamanho em si, e sim, o que é feito dentro desse universo, e aqui, a Intelligent Systems acerta.
Isso não se aplica, porém, ao sistema de combate, que tenta dar um ar de tática e estratégia aos encontros com inimigos. A sensação esquisita dada por uma mecânica que lembra os nem sempre queridos encontros aleatórios dos RPGs mais antigos é confirmada com um sistema até interessante de grades circulares, com Mario no meio e os inimigos o cercando, devendo ser organizados de uma forma que otimize os ataques do usuário.
O formato seria bem mais legal se houvesse mais variedade nele. Talvez em uma tentativa de reduzir a barra e fazer o título ser acessível a absolutamente todos os públicos, os combates acabam seguindo alguns padrões que, uma vez entendidos, jogam o desafio a quase zero. Serão poucos os momentos em que o jogador se verá efetivamente ameaçado pelos confrontos, enquanto na maioria dos casos, enxergará padrões e saberá lidar com eles de forma rápida.
As situações repetitivas e os combates pouco desafiadores desviam o jogador da exploração, de longe a parte mais interessante do título, junto com o texto muito bem escrito.
Caso ainda assim se sinta ameaçado, o jogador sempre pode contar com a ajuda dos Toads, usando moedas para “comprar” o auxílio deles, que pode aparecer de diferentes maneiras, desde organizações automáticas da grade até itens de cura ou ataques diretos contra os oponentes. O pouco desafio existente, com isso, também acaba sendo deixado de lado, com os combates se tornando um tanto enfadonhos.
Os poucos momentos em que há, realmente, uma pressão significativa são as batalhas contra chefes, também as situações em que a mecânica brilha. Em tais batalhas, a mecânica é invertida e é Mario quem está ao redor do oponente, usando habilidades combinadas entre o braço dobrável e ícones na grade que transformam tais momentos em um jogo de tabuleiro mais estratégico do que o normal do próprio game, abrindo o rol de possibilidades e garantindo um pouco de experimentação.
Paper Mario: The Origami King, alias, ganharia muito se investisse mais na criatividade que vemos nos combates contra chefes, assim como nas cenas de exploração em que navegamos ou controlamos veículos. São momentos de respiro que dão fôlego para seguir em frente, principalmente diante dos tutoriais repetitivos e que dão as mesmas instruções diferentes vezes e não podem ser pulados nem acelerados.
Tais elementos se tornam problemáticos e chegam até a entrar no caminho da diversão proporcionada pelo começo lúdico do game, principalmente quando levamos em conta que o novo Paper Mario é um game que leva algumas dezenas de horas para ser finalizado. As situações repetitivas e os combates pouco desafiadores desviam o jogador da exploração, de longe a parte mais interessante do título, junto com o texto muito bem escrito.
Paper Mario: The Origami King é, sim, uma adição forte para a subfranquia, mas tem problemas que só não rivalizam com seus acertos pelo fato de estes serem tão bonitos e interessantes. Foque neles, explore o cenário e espalhe confete por tudo, principalmente quando o game te prender em outras atividades não tão legais quanto.
O jogo foi testado em cópia cedida pela Nintendo.