De todos os aspectos que transformaram Peaky Blinders em um sucesso, a postura de seu protagonista, Thomas Shelby, talvez seja o mais emblemático. Interpretado por Cillian Murphy, o protagonista é inteligente e, como diriam seus fãs, extremamente frio e calculista, uma característica que a desenvolvedora FuturLab tentou trazer a todos os membros da família no game inspirado no seriado.
Em Mastermind, tudo se resume a resolver obstáculos e enigmas de forma inteligente e combinada, utilizando as habilidades especiais de cada um dos membros da família e os controlando de forma sequenciada. O título para consoles e PC foca muito mais em suas mecânicas do que em qualquer outra coisa, com exceção do estilo artístico e de uma trilha sonora que chama muito a atenção, ainda que pareça deslocada da ação que ocorre na tela.
Peaky Blinders: Mastermind é quase como um passatempo rápido e descompromissado, com uma skin de uma série de renome e transformando o aspecto favorito dos fãs em um pastiche simplificado até demais.
As seis horas de jogo, porém, não carregam o mesmo interesse que uma temporada da série, que, inclusive, levaria tempo semelhante para ser vista do começo ao final. Com apenas dez fases, sendo que metade delas se assemelham a um longo tutorial das mecânicas diferentes de cada personagem, Peaky Blinders: Mastermind se parece muito com aqueles jogos mobile da década passada, que tentavam levar para os celulares as marcas e temas da televisão, para os momentos em que o espectador não está diante da tela.
A história insossa, passada antes da primeira temporada de Peaky Blinders, serve apenas como plano de fundo para o verdadeiro mote do título, que é sua jogabilidade. As fases devem ser finalizadas em um determinado limite de tempo e de uma forma até inovadora. O Mastermind do título se refere ao fato de o jogador não apenas estar no comando de todos os personagens, mas também ser o comandante da estratégia para que eles cumpram os objetivos.
Isso acontece por meio de um sistema de manipulação temporal, com uma linha do tempo que sobrepõe os eventos e ações de diferentes personagens. Certas portas só podem ser abertas por alguns deles, enquanto outros são capazes de passar por lugares pequenos ou desafiar inimigos com persuasão os punhos. Na combinação de tais habilidades, o objetivo é cumprido e seguimos para a próxima fase, onde devemos fazer tudo de novo.
Na prática, porém, tais elementos se resumem a seguir até um ponto de bloqueio, pelo qual um protagonista não pode passar, para então assumir o controle de outro, que resolve o problema e permite o avanço de ambos. Isso não é feito em tempo real, mas sim, pelo sistema de manipulação da linha do tempo, pelo qual realizamos as ações, uma a uma, até ver o resultado se desenrolando diante de nossos olhos.
Como dito, é uma proposta interessante, mas que com o tempo, se torna enfadonha. Peaky Blinders: Mastermind está sempre tentando nos ensinar alguma coisa, o que acaba se traduzindo em uma jogabilidade em linha reta, sem margem para manobras ou estratégias diferentes. Há um único jeito de fazer as coisas e nem mesmo um desafio existe aqui, já que o título não faz questão de esconder os enigmas ou variar as mecânicas, que se resumem, na esmagadora maioria das vezes, a pressionar um botão no tempo certo com o personagem correto.
Nem mesmo as medalhas por agilidade na finalização dos estágios representa um desafio. Não existe punição nem mesmo por usar a ferramenta de voltar no tempo sucessivas vezes e, se quiser, o jogador pode seguir até o final da fase desvendando os enigmas e, antes de a finalizar, retornar ao começo para fazer tudo de novo da forma mais prática e objetiva possível, trapaceando o sistema e garantindo a graduação máxima.
O título foca muito mais em suas mecânicas do que em qualquer outra coisa, com exceção do estilo artístico e de uma trilha sonora que chama muito a atenção, ainda que pareça deslocada da ação que ocorre na tela.
Mastermind permite que o jogador ande com as próprias pernas e pense um pouco, apenas, na última fase, quando o título já se sente confortável para não ensinar cada passo e permite o uso de todos os personagens em um só local. Levando em conta a morosidade das etapas anteriores, porém, parece improvável que o usuário chegue até lá.
Com tudo isso, a sensação inicial do game acaba se invertendo e a ideia de que este se parece com um game de celular das antigas acabaria depondo a favor dele, se fosse verdade. Peaky Blinders: Mastermind é quase como um passatempo rápido e descompromissado, com uma skin de uma série de renome e transformando o aspecto favorito dos fãs em um pastiche simplificado até demais. O tipo de game para ser jogado na fila do banco ou enquanto esperamos a entrega do almoço, e não para passar horas no sofá.
Para isso, prefira a série. E caso seja ou se torne um fã por causa disso, guarde Peaky Blinders: Mastermind no fundo da mente para uma eventual promoção, pagando barato por um game que é meramente um acessório, sem apresentar uma experiência legítima enquanto jogo ou extra aos episódios da televisão.
O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Curve Digital.