Mighty Morphin Power Rangers: Mega Battle

por Durval Ramos

De volta aos anos 90

Ao longo dos últimos 20 anos, a série Power Rangers vem sobrevivendo na base do saudosismo. Ainda que uma nova temporada seja lançada a cada ano, a verdade é que somente as primeiras fases do programa continuam imortais em nossas memórias. Não por acaso, a Saban — detentora dos direitos da franquia aqui no Ocidente — faz questão de ordenhar essa vaca colorida com toda a nostalgia possível.

E Mighty Morphin Power Rangers: Mega Battle se apoia exatamente nisso. Ao nos levar de volta ao confronto dos Rangers originais contra o exército de Rita Repulsa e Lord Zedd, a Bandai Namco e a Saban apelam à nossa memória afetiva do jeito mais barato possível: recriando tudo aquilo que a gente viu e amou quando éramos crianças durante a década de 90. E isso é simplesmente ótimo.

É claro que o jogo está longe de ser perfeito. Como um Beat ‘em Up dos anos 90 sendo lançado em pleno 2017, ele traz uma série de problemas que comprometem sua execução de modo geral. No entanto, é impossível negar como ele consegue atingir a esse propósito saudosista. Para quem cresceu acompanhando os primeiros Rangers e jogando os primeiros games para SNES, revisitar o gênero com os mesmos heróis é um prato cheio que vale muito a pena ser conferido — nem que seja para dizer que na sua época era melhor.

Hora de morfar

Apesar do visual mais cartunesco, Power Rangers: Mega Battle não tem vergonha de referenciar o material clássico. Das falas idiotas às poses originais, tudo está ali para conquistar quem acompanhava os heróis coloridos há mais de duas décadas.

Esse cuidado com nossas memórias é tão grande que o novo jogo não se preocupa nem mesmo em modernizar o gênero e atualizar o conceito. Como dito, ele é um Beat ‘em Up dos anos 90 sendo lançado em 2017. Isso faz com que a pequena aventura — é possível concluí-la em apenas três horas — seja leve e descompromissada, se preocupando apenas com o apelo nostálgico dos jogadores.

Tanto que ele lembra muito o clássico Mighty Morphin Power Rangers: The Movie, lançado em 1995. A ideia de começar como um adolescente comum, fazer a transformação no meio da fase e todo o sistema de golpes especiais é algo que remete diretamente ao jogo de SNES. Até mesmo algumas passagens, como os carros cruzando o cenário ou a luta em meio a um rio, são diretamente retiradas de lá.

Essa semelhança faz com que esse saudosismo fale ainda mais alto. A trilha sonora marcante tocando enquanto vemos os adolescentes de Alameda dos Anjos se transformando nos Power Rangers é algo que anima todo mundo que já passou da casa dos 20 anos. Além disso, Mega Battle tem o cuidado de adicionar um sistema de progressão que ameniza aquela sensação de que todos os personagens são iguais, dando movimentos e habilidades especiais para cada um dos heróis.

Só que, ao mesmo tempo em que esse cuidado em manter o jogo com cara de anos 90 conquista os jogadores velhacos, ele também cria brechas que revelam os principais problemas de Power Rangers: Mega Battle.  E o principal deles é exatamente aquele que condenou o gênero: a falta de evolução.

Do começo ao fim, o game mantém o mesmo tom e não consegue empolgar. O surgimento do Ranger Verde ou a batalha com o Mega Zord pode até arrancar uma ou outra expressão mais animada em um primeiro momento, mas certamente não vai muito além disso. O game se posiciona em uma constante e permanece sobre ele sem se preocupar em criar situações que realmente envolvam o jogador.

Isso é sentido em vários momentos, seja na péssima utilização da trilha sonora — que simplesmente some em muitos momentos, fazendo com que você avance no mais absoluto silêncio — até a falta de ritmo dos confrontos. Como são poucos os inimigos existentes ao longo das 18 fases, você acaba caindo na mesma rotina repetitiva que existe dentro de um seriado Sentai, com a diferença de que dificilmente o jogador vai ter entre 5 e 7 anos para ignorar esse fato.

Essa monotonia fica bastante evidente quando Power Rangers: Mega Battle não consegue empolgar nem mesmo nos momentos em que isso é necessário. Como dito, o confronto com o Ranger Verde está no mesmo nível das batalhas contra os Bonecos de Massa, sendo que deveria ser um dos grandes pontos altos de toda a história. E a situação fica ainda mais frustrante quando controlamos o Mega Zord: além de ser um confronto que se repete de maneira idêntica em todos os capítulos, ele não é divertido.

Ver o robozão é legal, mas enfrentar um inimigo gigante com Quick Time Event é algo que vários outros jogos já nos mostraram que não funciona. É brochante, com o perdão do termo.

Siga acompanhado

Esse problema com o ritmo de Power Rangers: Mega Battle fica ainda mais evidente quando você joga sozinho. Ele foi feito para ser aproveitado no multiplayer, assim como acontecia na geração off-line. O problema é que, por se apoiar demais nessa lógica, ele acaba tropeçando em pontos básicos.

Primeiramente, seguir em carreira solo apenas evidencia a monotonia do jogo como um todo. Você logo identifica a cadência dos golpes e segue avançando de maneira quase mecânica. Isso não muda quando você está com amigos, mas o simples fato de ter mais gente na tela cria uma bagunça um pouco maior que, de uma forma ou de outra, adiciona um novo ritmo à coisa toda. Até mesmo a dinâmica do QTE do Mega Zord muda, já que todo mundo precisa apertar os botões para que o golpe funcione.

Em segundo lugar, temos aquele que pode ser o grande defeito do game todo: a falta de um modo online. Ele se apega tanto à ideia de ser um jogo dos anos 90 que decide não colocar suporte à internet, o que ajudaria a minimizar os problemas citados anteriormente. Sim, multiplayer local é ótimo e a gente adora jogar com amigos ao nosso lado, mas essa não pode ser nossa única opção.

Heróis de memórias

No fim das contas, assim como toda a franquia Power Rangers, Mighty Morphin Power Rangers: Mega Battle também depende muito da nostalgia para funcionar. Quem cresceu querendo ser o Tommy ou mesmo batizou sua filha de Kimberly ou Aisha — por que você fez isso? — vai adorar reviver esse pedacinho dos anos 90, que se estende da história às mecânicas. No entanto, esse apelo saudosista é algo que não atinge todo mundo e nem é capaz de maquiar todos os problemas que o jogo carrega.

Ainda assim, não há como negar que ele é divertido. Descompromissado como um Beat ‘em Up deve ser e bastante acessível, esse retorno à Alameda dos Anjos é perfeito para ser feito ao lado dos amigos que brincavam de Power Rangers com você quando eram crianças ou mesmo para apresentar os seus heróis da infância para seu irmão ou primo mais novo.

No fim, Power Rangers: Mega Battle adapta muito bem o espírito de toda a série: ele não quer que você cobre qualidade, apenas que você seja capaz de se divertir com pouco — e não há nenhum mal nisso.

O game foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Bandai Namco.