Rage 2

Rage 2

por Caio Vicentini

Raivoso, mas não o suficiente

Rage 2 é uma continuação inesperada, após o primeiro aparentemente ter ficado dormente por tantos anos, sendo relegado após os retornos bem-sucedidos dos medalhões da Id Software como Doom e Wolfenstein. É um jogo que parecia tomar muitos acertos de outros, mas nunca conseguiu encontrar sua identidade própria. A continuação, agora pelas mãos da Avalanche Studios, tenta fazer de tudo para se tornar mais distinguível do resto, mas ainda parece uma colcha de retalhos de outras franquias.

A história avança muitos anos no futuro, com o mundo abandonando um pouco da sua estética Mad Max. Agora temos visuais muito mais variados, com alguns locais bem arborizados e coloridos, sem a mesma repetição de cenários industriais do original de 2012; não que eles não existam, mas Rage 2 parece abraçar mais a ideia de como seria uma civilização se reerguendo de um evento apocalíptico, do que apenas sobrevivendo com o que resta.

O gancho para inserir o jogador nesse mundo violento e caótico não poderia ser menos inspirado: o vilão General Cross, líder do exército/seita chamada Autoridade, ataca o quartel general dos Rangers, a equipe de patrulheiros da qual o protagonista Walker (que pode ser um homem ou uma mulher, de acordo com a escolha do jogador) fazia parte, e cabe a você, como o único sobrevivente do ataque, devolver a gentileza para Cross e seu exército de monstros cibernéticos.

E é isso que ele faz, não existem muitas reviravoltas e a história por si só segue de maneira bem linear. É necessário atravessar o mapa de ponto A até B fazendo tarefas para personagens capazes de te ajudar nessa empreitada (alguns deles retornando do primeiro jogo) até chegar em uma missão central para a história, sem muitas surpresas ou desvios da fórmula.

É uma descrição genérica que se encaixa perfeitamente para outros jogos, como Borderlands, que por sua vez também é um FPS de mundo aberto pós apocalíptico, reforçando a ideia de que Rage 2 tem muito dos outros e pouco que o torna único. A campanha é bem curta, então, se você não tiver paciência para explorar o território devastado, dada a quantidade de jogos de mundo aberto atualmente, é capaz de finalizar a história relativamente rápido.

Rage 2 tem pouco que não seja encontrado de alguma maneira em jogos mais bem resolvidos, apresentando diversão rarefeita demais.

Mesmo com a curta duração, por volta de 10 a 12 horas, Rage 2 não torna a experiência de se locomover pelo cenário menos morosa. É possível transitar pelo território do Ermo com uma variedade boa de veículos, mas isso também cai na mesma falha em dar atenção à experiência de explorar o mapa, com um leque limitado de coisas a se fazer.

Existem sim algumas atividades alternativas, como as corridas e um programa de TV na qual você precisa sobreviver a hordas cadas vez mais agressivas de inimigos, mas, infelizmente, todo o restante gira em torno de invadir territórios inimigos e expulsá-los de lá. No final, existe um número de postos de gasolina que podem ser destruídos antes de ficar repetitivo demais.

Por ser um jogo da Avalanche, muitos elementos de Just Cause foram inseridos no que tange as mecânicas de mundo aberto, tais como objetivos a serem cumpridos no mapa antes de conseguir progredir com a história, criando uma sensação de longevidade artificial para a campanha. Como no quarto game da franquia de Rico, esses objetivos são muito repetitivos, e salvo as mecânicas de combate que tornam tudo muito divertido, dão a sensação de que o jogo seria muito mais bem aproveitado numa experiência mais linear, como os companheiros Doom e Wolfenstein.

Falando em espetáculo, toda a cacofonia de sons e explosões pela qual o estúdio é conhecido foi felizmente transplantada para criar alguns dos momentos mais visualmente bonitos em um jogo desse ano. Em dado momento, me intrometi em uma briga de duas facções rivais jogando uma granada em um barril próximo a eles, criando uma bela festa de fogos de artifício. Esse momento, aliás, foi uma das poucas qualidades que posso mencionar de seu mundo aberto, com as facções tendo suas próprias desavenças e não necessitando da presença do jogador para que a anarquia se desenrole entre eles. Algumas dessas explosões mais intensas, infelizmente, causaram alguns pequenos engasgos no meu PS4, com uma queda de FPS nada prejudicial, mas perceptível.

Os bons combates do game não têm protagonismo e a sensação é de que seriam muito mais bem aproveitados em uma experiência mais linear, como as de Wolfenstein ou Doom.

De fato, é necessário pontuar como Rage 2 tem um mundo aberto aquém do que deveria entregar, como também precisamos enfatizar como o combate acaba amenizando essas partes mais morosas. Tudo funciona de maneira muito fluída, como a troca de armas, que é muito rápida e permite fazer experimentações como atirar com a metralhadora em um inimigo distante para atordoa-lo, e então finalizar com a espingarda ou um de seus poderes.

Estes, aliás, são o grande chamariz do jogo, pois criam uma camada de combinações muito divertidas e variadas. Adquiridos em câmaras espalhadas pelo mapa, alguns poderes capazes de virar os combates a seu favor, como um soco que Walker dá no chão e cria um abalo sísmico que arremessa os inimigos para longe dele.

Os oponentes, que vão dos tradicionais com armas até alguns que ficam invisíveis e atacam sorrateiramente com armas brancas, exigem que o jogador mude de estratégia constantemente, de ser puramente agressivo em um combate aberto com espingarda, como também se distanciar e ser mais comedido com armas de longo alcance. Tudo relacionado ao combate em Rage 2 deve ser elogiado, só que a maneira como ele é distribuído, obrigando o jogador a andar de 10 a 15 minutos para, às vezes ter cinco minutos de tiroteio, torna a experiência no geral tediosa e um pouco frustrante com o potencial desperdiçado.

Eu comecei a jogar Rage 2 como uma maneira de suprir aquela vontade de jogar um FPS honesto e frenético até Doom Eternal sair no final de 2019, e nos momentos em que eu não precisava ficar vagando de carro pelo deserto, eu tive isso. Mas é uma diversão rarefeita demais, que só me fez ficar ainda mais ansioso pelo retorno do carro chefe da Id.

O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Bethesda.