Na maioria dos jogos de tiro em primeira pessoa, pressionar o gatilho no momento certo é tudo o que basta para ser bem-sucedido em uma missão, seja ela na campanha ou no multiplayer. Muitas vezes, não é preciso nem mesmo saber administrar a munição, enquanto a correria e a loucura dão a tônica das partidas.
Rainbow Six: Siege, porém, deixa essa tradição de lado para investir na estratégia, não apenas como uma sugestão de modo de jogar, mas como uma das únicas maneiras possíveis de sobreviver. Aqui é para valer: entrar atirando em um local dificilmente será a melhor maneira de ganhar, e muitas vezes, é possível contribuir de verdade para o time vencedor sem efetuar um disparo sequer.
O novo game da Ubisoft já mostra que a estratégia e a calma são as tônicas logo de começo. Seja qual for o modo em que o jogador esteja, toda partida começa com uma fase de preparação – no comando dos mocinhos, é possível verificar o ambiente e encontrar os oponentes e objetivos, enquanto com os terroristas, a ideia é preparar o ambiente para que os heróis não sejam capazes de completar sua missão.
Rainbow Six: Siege é para valer – entrar atirando em um local dificilmente será a maneira de vencer, e muitas vezes, é possível contribuir de verdade para o time sem efetuar um disparo sequer.
Acredite, o sucesso nessa empreitada pode ser essencial para o sucesso ou fracasso de uma missão. Em ambos os lados, jogadores estarão pensando em maneiras de agir, levando em conta não apenas o próprio rol de habilidades, mas também os dos oponentes. Não localizar o objetivo, por exemplo, ou esquecer de colocar aquela armadilha bem em um local vulnerável, então, pode acabar colocando tudo a perder.
Ao começo da fase de ação, é possível perceber exatamente porque isso é tão importante. Ao contrário de outros jogos como Call of Duty e Battlefield, em Rainbow Six: Siege, os personagens se movem como soldados reais, carregando alguns quilos de equipamento. Ou seja, mais devagar.
Recarregar armas e saltar janelas não são ações acrobáticas, feitas com a facilidade que vemos normalmente nos games de tiro. Uma explosão próxima causa dano e deixa um zumbido no ouvido, dificultando a percepção do que está acontecendo ao redor. E, acima de tudo, poucos disparos são capazes de matar, mesmo que você esteja usando colete, e como na vida real, a energia não se regenera rapidamente.
Rainbow Six: Siege, então, convida os jogadores a sempre estarem de olho nos arredores e seguirem com cuidado. As habilidades dos personagens ajudam aqui e ali, mas de nada adiantarão se o próprio jogador não souber exatamente o que está fazendo. A comparação, aqui, pode ser feita com os simuladores de corrida, pois temos a experiência que mais se assemelha a uma operação real com soldados de elite.
Esse foco na estratégia foi uma preocupação levantada por nós desde nossos primeiros momentos com o game, ainda em versão Beta – como a Ubisoft faria para garantir que os jogadores fossem realmente estratégicos, em vez de partirem para o mata-mata de uma vez, ignorando armadilhas, itens e outros atributos?
Isso se dá não apenas pela realidade dos controles, mas também no tratamento dos cenários. Times de elite utilizam armas pesadas, enquanto nos Estados Unidos, é comum termos paredes de gesso, madeira ou dry wall. A soma disso são combates que, muitas vezes, podem ser decididos sem que os oponentes nem mesmo estejam na mesma sala e nos quais correr por cobertura dificilmente será mais eficaz do que uma bomba bem plantada.
Novamente, entrar atirando para todos os lados serve não apenas para atingir os oponentes, mas também revelar sua posição. Disparos através de uma parede, então, podem servir para que o oponente saiba exatamente onde você está e, com uma única bala, encerre sua carreira como agente de forças especiais.
Uma nota extremamente positiva se refere à engine gráfica do game, que retrata com bastante fidelidade os cenários e, principalmente, sua detonação, com partículas voando por todos os lados e uma destruição natural de paredes e objetos. Tudo rodando com uma taxa de quadros estável e sem quedas perceptíveis, a não ser pelos raros momentos de lag que aparecem pouco, mas podem incomodar durante a jogatina.
No cotidiano online, não serão incomuns as partidas que serão decididas por um único indivíduo, que sabe atirar de forma precisa e no momento certo, enquanto todo o restante de seu time decide brincar de Call of Duty. Conversar com os parceiros, por sinal, é altamente recomendado durante a experiência, desde antes da ação, com a montagem adequada do time, durante, por motivos óbvios, e depois de morto, quando seu espírito ainda persiste como um observador de câmeras de segurança e pode indicar a localização de inimigos.
Felizmente, para os novatos ou acostumados a outro tipo de incursão, Rainbow Six: Siege também tem sua boa cota de modos para treinamento. Logo de início, por exemplo, é impossível seguir para a ação sem passar por pelo menos alguns tutoriais, que ensinam os comandos e princípios básicos, além de garantir pontos para a compra de um personagem.
Uma nota extremamente positiva se refere à engine gráfica do game, que retrata com bastante fidelidade os cenários e, principalmente, sua detonação.
Esse, porém, é o mais próximo que se chega de um modo single player, já que como tantos outros games de tiro recentes, Rainbow Six: Siege se posiciona como um título estritamente online. Falamos isso não como uma crítica, mas sim como um alerta. Para a visão que a Ubisoft quis passar, a colocação de uma IA jamais seria suficiente, tornando a opção apenas conectada como bastante acertada.
Caso você ainda esteja inseguro na hora de seguir para a ação, pode sempre optar pelo modo Caça ao Terrorista, que o coloca lado a lado com jogadores de verdade, mas contra oponentes controlados pela inteligência artificial. Uma boa oportunidade para aprender as mecânicas, testar heróis recém-adquiridos e aprender o layout dos cenários antes da ação real.
O maior destaque de Rainbow Six: Siege é, também, seu maior problema. Temos aqui um jogo difícil, extremamente difícil, e que, justamente por isso, deve parecer pouco interessante para aqueles que estão acostumados às pílulas rápidas e violentas da maioria dos jogos de tiro em primeira pessoa.
Como tantos outros games de tiro recentes, Rainbow Six: Siege se posiciona como um título estritamente online.
Para quem não entrar na pira proposta pela Ubisoft, a movimentação mais vagarosa será confundida com jogabilidade ruim, enquanto a quantidade de elementos nos cenários e a confusão dos personagens durante os momentos de maior ação serão vistos como obstáculos, e não realismo.
Acima de tudo, o conceito de estratégia imposto pela desenvolvedora tem suas limitações, e mesmo agora, apenas algumas semanas desde o lançamento de Siege, já é possível ver a comunidade moldando as partidas. Isso nem de longe poderia ser considerado ruim, não fosse o fato de que essa “intimidade” transformou todas as partidas em um jogo para ver quem mata primeiro o time adversário.
Quem jogar perceberá rapidamente que são raros os momentos em que uma incursão em busca de bomba termina com um desarmamento. Durante nosso tempo com o game, então, não vimos nenhuma situação de partida finalizada com o resgate de um refém. Em praticamente todas as rodadas, o fim sempre é alcançado com a obliteração completa do oponente.
Isso, claro, é perfeitamente possível dentro das próprias mecânicas impostas por Rainbow Six: Siege. Mas pode, no final das contas, acabar o transformando de uma proposta diferente em uma versão mais lenta e difícil daquilo que nós temos aos montes por aí. E com isso, esvazia-se não apenas a proposta do game, mas também sua principal qualidade.
O game foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Ubisoft.