Falar de Red Dead Redemption II é falar de elementos que são, ao mesmo tempo, próximos de nós e incrivelmente distantes. Afinal de contas, estamos no Velho Oeste decadente, uma época que, principalmente para nós, brasileiros, não tem vestígios nem mesmo em nossa realidade cotidiana. É outro mundo, um universo antigo, mas que, quando embarcamos nele por meio dos consoles da atual geração, soa tão amigável quanto hostil, se é que isso é possível.
A hostilidade é óbvia, pois estamos em um momento da história em que até mesmo as disputas mais idiotas poderiam ser resolvidas na base da pistola. Ao mesmo tempo, encontramos no jogo uma saga de companheirismo e sobrevivência, em um ambiente plenamente reconhecível para quem jogou o primeiro game da série. Ao mesmo tempo, tudo está diferente e muito mais incrível, algo que pode ser percebido em absolutamente todos os seus aspectos.
Estamos 12 anos antes do jogo original, em uma era na qual a gangue Van Der Linde ainda está unida e, mais do que isso, lutando para não sucumbir. Os tempos do Velho Oeste estão inevitavelmente chegando ao fim, enquanto a sociedade luta para se adaptar aos novos tempos. A gangue Van Der Linde, enquanto isso, batalha apenas para sobreviver, mantendo vivos seus ideias de união, honra e companheirismo, mesmo entre ladrões e assassinos que nem sempre veem o mundo da mesma maneira. No papel de Arthur Morgan, um dos protegidos de Dutch, o cabeça do grupo, estamos no centro disso tudo.
Somos um exemplo, um alicerce e, também, um farol, o que só aumenta as nossas responsabilidades. Em Red Dead Redemption II, precisamos tomar conta de nós mesmos e dos companheiros, prestar atenção nos mantimentos da gangue, no cavalo e na saúde do acampamento, resolver disputas pessoais, ouvir as baboseiras de estranhos e, acima de tudo, observar as mudanças que operamos no mundo. O progresso é implacável e, neste game, tudo está sempre mudando.
A espera de cinco anos desde o último game da Rockstar, Grand Theft Auto V, de 2013, é mais do que justificada quando se observa não apenas a vastidão deste mundo, mas também o que está em seu interior. Os elementos do passado estão de volta, junto com os próprios ambientes do primeiro jogo. Novidades foram adicionadas, é claro, mas sobre tudo isso, o que mais chama a atenção é a sinergia entre seus aspectos.
O que temos aqui não é só o melhor jogo do ano, mas também o apogeu de uma indústria e um dos maiores títulos de todos os tempos.
A gente chega ao ponto de, muitas vezes, não saber exatamente se estamos diante de uma missão principal e secundária. É possível passar horas nesse Velho Oeste e não avançar nem 1% na campanha, sem jamais ter a sensação de estar perdendo tempo. É envolvente nesse nível.
Mesmo após dezenas de horas de jogatina, o usuário ainda pode se surpreender com a descoberta de uma nova mecânica ou, então, dar de cara com um tutorial de um elemento que, por um motivo ou outro, ainda não havia visto. O que parece ser uma mera missão bizarra dada por um estranho pode ter consequências maiores no acampamento da gangue, enquanto a entrega de uma esmola para um mendigo pode significar o recebimento de uma informação importante, capaz de mudar o andamento das coisas.
Nossas vestimentas fazem a diferença, assim como o fato de elas estarem sujas ou manchadas de sangue. Capotar com o cavalo pode fazer o coitado gostar menos de você, enquanto não cuidar dos companheiros de bando vai dificultar muito o avanço no dia a dia. E, em meio a tudo isso, é melhor dar uma passada no barbeiro e cuidar desse cabelo desgrenhado, afinal de contas, ninguém vai respeitar um cara seboso, mesmo que ele esteja vestindo roupas de luxo. E cuidado com a cabeça, pois um pássaro meio atribulado com o barulho pode dar um rasante e bater de cara com você no caminho.
É claro, quando se observa de maneira mais analítica, o que se percebe é que Red Dead Redemption II é como um castelo, em que cada tijolinho foi pensado especificamente para estar aí. Remova um e toda a estrutura da construção será prejudicada. Neste caso, os alicerces são as centenas, talvez milhares, de eventos scriptados que aparecem durante a jornada. Esse olhar mais técnico não depõe contra o resultado, mas sim, é mais uma amostra do cuidado tomado pela Rockstar com seu novo game.
Caso não tenha ficado claro ainda, Red Dead Redemption II pode ser o que você quiser. Dá para encarar o game como uma saga de companheirismo, uma história sobre o fim do Velho Oeste ou um título para desopilar o fígado e causar o caos após um dia intenso de trabalho. Ele também poderia ser um quadro em sua parede.
O título é realista e artístico ao mesmo tempo e, em uma viagem longa, é impossível não se impressionar com a mudança de ambientes enquanto saímos de uma mata fechada para um trecho seco, chegando ao nosso destino em uma região montanhosa. Ao longe, dá para ouvir o som dos animais e das cidades em funcionamento, enquanto nos orientamos pela fumaça de uma fogueira à distância ou pela luz do fogo durante a noite.
Isso quando a luz do dia não ofusca nossa visão ao entrarmos em um local escuro ou o sol acaba encoberto pela névoa densa de uma região reconhecida pelos gêiseres e águas termais. Quando não deixa o jogador posicionar a câmera por ele mesmo para realizar a composição, a Rockstar também chama a atenção por um trabalho apurado de direção, fazendo o melhor uso dos gráficos impressionantes que apresenta aqui. Prepare seu disco rígido, pois, além da gigantesca e demorada instalação de Red Dead Redemption II, você vai tirar muitas screenshots.
Não é novidade para ninguém que a atual geração de consoles está se aproximando de seu fim e o game da Rockstar, sem dúvida alguma, deve representar o ápice do que ela tem para oferecer. O título é um deleite aos olhos nos aparelhos mais poderosos, como o Xbox One X e o PS4 Pro, mas também se comporta lindamente nas versões convencionais dos video games.
Red Dead Redemption II não é uma obra para se ler sobre ou assistir no YouTube, mas sim, uma experiência para ser vivida. É muito mais do que palavras conseguem descrever.
E voltando ao polimento já citado, não temos problemas de performance mesmo nas edições mais básicas das plataformas. A taxa de FPS se mantém estável mesmo quando há maior agitação e não se percebem falhas gráficas. O resultado é consistente com o trabalho envolvido e impressiona pelo fato de, simplesmente, não imaginarmos que os aparelhos tinham tanto para dar e poderiam chegar a esse nível de excelência.
Novamente, como no título, vamos repetir a palavra triunfo, mas nem mesmo ela é adequada para definir o que está diante de nós. O jogo é muito mais do que isso. A vastidão, o cuidado, o carinho, a quantidade de elementos e o trabalho é tamanho que meras palavras não poderiam definir o título. Falar sobre ele seria descrever elementos, enaltecer características ou chamar a atenção para pontos específicos, mas é no todo que está sua maior força.
A somatória de anos de experiência da Rockstar nos trouxe até aqui, para um dos universos mais complexos e gigantescos criados em um video game. Ele atende a todos, esteja você vindo atrás de uma boa história, um ótimo game de tiro, minigames interessantes para passar o tempo ou, simplesmente, visuais incríveis para descansar os olhos. Não há nada que não seja, pelo menos, ótimo.
A minha experiência nesse mundo, com toda certeza, será diferente da sua, assim como a sua abordagem com o game e as sensações que passarão por sua cabeça durante a experiência. As hipérboles são totalmente justificadas e o hype criado durante os anos que antecederam à chegada deste game é plenamente atendido. Em um mundo em que isso é cada vez mais raro, o abraço dado em nós pela Rockstar só torna tudo ainda mais especial.
Desde antes de seu lançamento, Red Dead Redemption II já era considerado um dos grandes candidatos a melhor jogo do ano, e a confirmação dessa aposta é facilmente percebida nas primeiras horas com o jogo. Quanto mais tempo passamos com o título da Rockstar, entretanto, percebemos que ele também vai bem além disso. Aqui, estamos presenciando o apogeu de uma indústria e, sem dúvida nenhuma, um dos melhores jogos de todos os tempos, daqueles que serão usados por anos e anos como demonstração e prova do potencial da indústria dos games.
Obrigado por ter chegado até aqui e conferido esta análise até o final, mas ela não é digna do quanto este título é magistral. Nenhuma é, pois todas são formadas apenas por palavras, enquanto Red Dead Redemption II é muito maior do que isso. Não é uma obra para se ler sobre ou assistir no YouTube, mas sim, uma experiência para ser vivida.
O game foi analisado no PlayStation 4.