“Matar o chefe do Paraíso” é o objetivo de Ruiner, jogo desenvolvido pela Reikon Games e publicado pela Devolver. No título, você controla um homem com uma máscara que lembra muito as de couro, usadas em sadomasoquismo, mas com uma tela de LED que mostra elementos de acordo com as emoções do personagem.
O jogo começa com sua mente hackeada e a ordem “Kill the Boss” pulando na tela como glitches, vozes de ordem surgem junto dos alarmes e gritos dos inimigos. Pelo que parece, você está nos corredores cyberpunk do Paraíso, soldados parecidos com os integrantes do Die Antwoord se posicionam contra você, tudo com muito neon e metal.
Ruiner, como muitos jogos publicados pela Devolver, é um top-down shooter, contudo, esse é um dos primeiros em 3D, cheio de cinematics e efeitos visuais impressionantes. O mundo cyberpunk é incrível e se sobressai no título – não se deixe enganar pela premissa muito simples, em que o objetivo é matar todo mundo, melhorar suas habilidades e continuar fazendo isso por muito tempo. Os detalhes do mundo são a pérola que você quer encontrar.
Existem muitos detalhes em Ruiner, que o tornam único e muito interessante para qualquer fã do gênero. Há toda uma premissa sobre hackear cérebros, implantes corporais e um mundo futurista violento e revolto em tramas das ruas. Toda a cidade é construída com referencias que lembram “Blade Runner” e “Ghost in the Shell”, enquanto a história poderia muito bem ter saído das paginas de Willian Gibson. Como eu disse, o jogo é feito para fãs de cyberpunk.
No mundo do desenvolvimento de games, existe uma premissa importante: jogos difíceis causam imersão. Pelo foco em vencer um desafio, isso acaba prendendo ainda mais a atenção e forçando o jogador a entender profundamente os controles e mecânicas. Ao conseguir sincronizar suas habilidades com as do jogo, você acaba se envolvendo ainda mais com tudo.
Claro que não basta ser difícil, existe um longo estudo sobre as relações cognitivas do jogador com a arte e tempos de mecânica, mas isso é outra história. O que quero dizer aqui é que um game ser complicado não significa que ele é ruim. Veja Dark Souls, que, sozinho, é uma prova viva das teorias mais complexas de game design postas em prática, porém, com o sucesso sempre surge a maldição, e agora todo desenvolvedor quer fazer jogos com desafio alto.
Não se deixe enganar pela premissa simples de Reuiner, em que o objetivo é matar todo mundo, melhorar suas habilidades e continuar fazendo isso por muito tempo. Os detalhes do mundo são a pérola que você quer encontrar.
Ruiner começa difícil para caralho. A ideia é jogar o usuário na mesma posição de alguém com a mente apagada, aparecendo em um lugar estranho e recebendo ordens de uma voz chata e insistente. Eles conseguem te fazer se sentir confuso, perdido e caindo em algo que parece muito com uma cilada. Contudo, na dificuldade normal, levei uma era para conseguir passar do tutorial, quase desistindo de jogar para fazer um review sobre o jogo dizendo que ele era mais um top-down da Devolver, só que em 3D, e, após isso, me alongar em uma crítica aos jogos difíceis.
Contudo, eu dei uma chance ao jogo, pois sou um grande fã da distribuidora, e queria saber o que aconteceria quando eu encontrasse o Chefe do Paraíso. Degui em frente e fui recompensado.
Quem vencer o tutorial estará apto a encontrar o jogo de verdade. Bom, em partes, o que você é feito no início também será necessário em grande parte das missões do jogo, contudo, ele fica melhor balanceado. Quando você chega nas ruas de Rengkok, ai sim você começa a sentir curiosidade por Ruiner.
A cidade é perfeitamente cyberpunk, cheia de gente, aspectos de criminalidade e tecnologias de controle e informação valendo dinheiro. A inteligência artificial dos cidadãos fica conversando entre si, diálogos que aprecem inocentes, mas que, quando acompanhados, permitem entender um pouco mais sobre aquele mundo e suas nuanças. Às vezes, você acaba encontrando até umas side quests bem legais e curiosas para se fazer.
Existe muita coisa acontecendo e, parando para conversar com as pessoas, cada vez mais você acaba sentindo que todo o jogo foi cunhando aos moldes das melhores referências cyberpunk que poderiam existir. Tudo feito com cuidado, carinho e muito neon.
A premissa é que você teve seu cérebro invadido, foi salvo por uma Hacker chamada Ela, que diz estar te ajudando. Ela descobre que seu irmão foi sequestrado e vai ajudar a achá-lo. O motivo inicial por trás da invasão é a necessidade de matar o Chefe do Paraíso, uma frase que, por si só, já vende muito bem o jogo.
Entretanto, você é impedido de fazer isso e acaba direcionado a agir por vingança ao que foi feito com você. A graça é que a hacker Ela te chama de Totó, o que me faz pensar se isso não significa que ela também não está te usando de alguma forma. Existe um tanto de clichê nessa proposta, mas a ideia é manter o jogador no caminho da matança, criando mistérios ocultos que são revelados ao longo da narrativa.
Ruiner é um jogo interessante e a cidade de Rengkok é, sem dúvida, seu ponto alto do jogo. A dificuldade é um pouco exagerada e a pegada top-down 3D com tiros e porrada faz do game uma mistura de Hotline Miame com a narrativa de Superhot. Tudo é muito bem feito, bonito e bem resolvido. Qualquer fã de cyberpunk vai encontrar um prato cheio de referências, enquanto quem gosta da Devolver não irá ficar decepcionado com esse título.
O jogo foi testado no PC em cópia cedida pela Devolver Digital.