Comenta-se bastante sobre o fato de os games cada vez mais estarem emprestando elementos dos cinemas, com nomes como Metal Gear Solid, The Last of Us, The Order 1886 e tantos outros trazendo enquadramentos, narrativas e formas de se contar uma história que apareceram inicialmente nas telas. O que muita gente muitas vezes não presta atenção é que a recíproca também pode ser verdadeira.

Não, não estou falando de jogos virando filmes e levando suas histórias pura e simplesmente para o cinema. O que quero dizer é que, muitas vezes, os longas podem carregar consigo uma estrutura semelhante a de games, com fases, momentos de descanso, desafios de dificuldade crescente e até mesmo chefes finais, que deixam tanto o herói como o espectador com uma sensação de dever cumprido ao subir dos créditos.

Por isso, se você quer se sentir com o controle na mão, só que não, confira o que está nessa lista. Mas não só por isso, pelo menos metade deles realmente vale a pena ser assistido por serem muito bons. Encare a estética de video game, então, como um DLC gratuito que só torna tudo mais divertido.

Mad Max: Estrada da Fúria (2015)

https://www.youtube.com/watch?v=OeszhEbFEoY

Pode ler, não tem spoilers aqui. 😉

Na verdade, essa texto existe só porque eu queria um motivo para falar sobre esse, um dos melhores do ano e a melhor coisa que aconteceu ao cinema de ação em muito tempo. Com uma história que fala sobre opressão, mas mais sobre uma revolução dos oprimidos, “Mad Max: Estrada da Fúria” é uma gigantesca cena de perseguição, com alguns momentos de respiro.

É, exatamente, como um jogo. No primeiro nível, Max está fugindo a pé. Na segunda, tem acesso aos carros e a dificuldade de toda a corrida vai ficando cada vez mais difícil na medida em que uma horda de inimigos que parece sem fim vai se aproximando. Temos até os chefes de fase, interpretados por figuras como Immortan Joe, Rictus Erectus e até o malucão da guitarra, que pontuam desafios ainda maiores que os soldados “comuns” e suas lanças-granadas.

Apesar de o filme se passar em um deserto, temos também uma variação de terrenos, que seriam as fases. Tudo está devastado, claro, mas temos trechos pantanosos, nas montanhas, em campo aberto e até mesmo em ambientes internos. E se você é desses que reclama do pouco protagonismo de Max, um DLC poderia resolver seu problema, contando como ele acabou com uma pequena tropa e conseguiu armas para todo o grupo, em um momento que não é efetivamente exibido no filme.

Sério, assista “Mad Max: Estrada da Fúria”. Mas leve uma aguinha e um remédio, caso você seja asmático, pois vai faltar ar.

Adrenalina (2006) e Adrenalina 2: Alta Voltagem (2009)

Aqui, temos uma franquia cuja estética não é apenas tirada dos games, como é completamente inspirada neles. Em uma trama que só poderia ser idealizada por alguém sem muita noção e sob uso de potentes entorpecentes, seguimos a piração absurda de Chev Chelios, que é envenenado por um agente que entra em ação caso a adrenalina em seu sangue baixe. Isso no primeiro filme, já que no segundo, ele está com um coração artificial movido por bateria, e que precisa de eletricidade para continuar funcionando.

Na tela, essas necessidades se traduzem em, por exemplo, aplicar um choque na própria língua ou fazer sexo em frente ao estádio lotado. Seria, como bem definiu o site GamesRadar (que, inclusive, foi uma inspiração para alguns títulos da lista), uma adaptação de GTA, sem a parte da trama mas transferindo para a tela a piração de ficar andando pelo mundo aberto fazendo merda.

Como filme, inclusive, “Adrenalina” é um jogo bastante variado. Os roteiristas e diretores Mark Neveldine e Brian Taylor usam de todo tipo de ângulo, desde uma visão em primeira pessoa até a câmera sobre o ombro do protagonista, para exibir a ação. Para ver sem levar muito a sério e se divertir com algo que, simplesmente, não faz sentido algum.

Vingadores: A Era de Ultron (2015)

Avengers Vingadores Era de Ultron

Aqui também não tem spoilers.

Mais um filme recente, que antes mesmo de sair, já era elogiado por sua estética bem parecida com a dos quadrinhos, como é evidenciado pela imagem acima. Os games também são lembrados e, aqui, Joss Whedon faz melhor em termos de video game do que muitos dos títulos dos heróis da Casa das Ideias.

O filme, como já falei na segunda edição d’O assunto da semana, é fortemente focado no enredo e na evolução de personagens, principalmente daqueles que foram subaproveitados no primeiro. Porém, “Vingadores: A Era de Ultron” também traz aquele clima de história em evolução, com desafios cada vez maiores, protagonistas muitas vezes em posição de desvantagem e, acima de tudo, uma tonelada de capangas mecânicos para serem destroçados.

Principalmente nas cenas derradeiras, é impossível não afastar a ideia de que estamos assistindo a um beat’em up protagonizado por Capitão América, Homem de Ferro e sua turma. No começo, a pira é de um game de ação cooperativa, como Battlefield, em que cada integrante do time tem sua forma de atuação específica e contribui para o objetivo final. A batalha de Hulk contra a Hulkbuster, então, é digna de um grande game de luta.

A mesma coisa que comentei sobre “Mad Max” também acontece aqui. Temos fases em diferentes cenários, desafios crescentes a cada estágio e até mesmo os clássicos momentos em que chefes de fase retornam para serem enfrentados de novo. “Vingadores: A Era de Ultron” só me deixa triste quando penso que não temos games dos heróis com qualidade equivalente.

Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles (2011)

Fazendo menção a um momento real em que a Força Aérea Americana abriu fogo contra OVNIs nos céus da Califórnia, temos aqui um filme de qualidade questionável, que não agradou muita gente. Mas quando o assisti nos cinemas, na época do lançamento, não consegui deixar de pensar que eu estava diante do ensejo perfeito para um jogo de tiro em primeira pessoa, no melhor estilo caótico e insano da série Call of Duty.

Aqui, nada de prodígios cientistas ou soluções mirabolantes. Boa parte do longa se passa no campo de batalha, durante uma guerra entre tropas humanas e alienígenas robóticos que estão invadindo o mundo. Seria algo mais ou menos como a franquia Star Wars Battlefront, só que sem laser, com muito chumbo e muito mais intenso.

Partindo desse princípio, inclusive, teríamos algo ainda mais poderoso já que, ao contrário do universo reconhecível de George Lucas, as tropas do filme não sabem com o que estão lidando. É só tiro pra todo lado, muita gente morrendo e, acima de tudo, um “sistema de habilidades” progressivo, já que os soldados vão aprendendo, pouco a pouco, a lutar de forma mais eficiente contra os invasores.

Em tempo: já existe um game de “Invasão do Mundo: Batalha de Los Angeles”, desenvolvido pela Live Action Studios (atual Saber Interactive) e publicado pela Konami. É péssimo e foi produzido a toque de caixa apenas para acompanhar o lançamento do filme. Vamos ignorá-lo e continuar sonhando com um jogo de verdade aqui.

Resident Evil 5: Retribuição (2012)

Para uma franquia baseada em uma grande série de jogos, os filmes de Paul Anderson tem muito pouco dos games. Ainda assim, não dá para ignorar uma das poucas coisas que se salvam no quinto longa dessa saga infeliz: a estética, que transforma a aventura da super poderosa Alice em, quase que literalmente, um video game.

O filme se passa quase que completamente dentro de um complexo da Umbrella Corporation, onde a empresa testava diferentes cenários de apocalipse sabe-se lá por que motivo, uma vez que o fim do mundo, de verdade, já aconteceu. E, seguindo de sala a sala, a protagonista inimigos do passado e do presente, se reencontra com aliados e vê amigos se transformando em ameaças.

As cenas de ação são quase como caminhos até a próxima cutscene, que introduz os fiapos de enredo para que a próxima batalha comece. Tem até um X-Ray Attack, trazido diretamente da série Mortal Kombat – que, ironicamente, também foi levada aos cinemas pelo mesmo Paul Anderson. “Resident Evil 5: Retribuição” é um filme tecnicamente bonito, mas pouco mais do que isso.

Sucker Punch – Mundo Surreal (2011)

O longa do “visionário Zack Snyder”, que é um diretor bem overrated, na minha opinião de merda, tem praticamente as palavras video game tatuadas na testa. Como em um jogo, as protagonistas são super poderosas, realizam movimentos fora do normal e partem em uma busca por artefatos, sendo que cada um deles está em um mundo diferente.

Esses universos, na verdade, se traduzem em alucinações das protagonistas. Mesmo fora destes sonhos, porém, toda a ambientação é estilizada. O abuso de câmeras lentas, momentos épicos, filtros de cor e, principalmente, a mistura entre tecnologia e tradição, ressoam a Final Fantasy.

Sem falar, claro, nas próprias personagens, que lutam com espadas, armas de fogo e outros equipamentos contra inimigos que vão desde monstros até robôs nazistas, passando pelos samurais. No que definou como uma homenagem a “Alice no País das Maravilhas”, mas com metralhadoras, Snyder entrega um filme exagerado, mas que poderia funcionar perfeitamente no PC, PS3 ou Xbox 360.

E ainda tem a Jena Malone em um dos papeis principais. <3

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