Shenmue 3

Shenmue 3

por Ana Cruz

Esquecido no estacionamento

Em 2019, tivemos jogos grandiosos, aqueles “mais ou menos” e os que doem de ruim. Existem também aqueles que são lançados, mas as pessoas nem lembram de sua existência, que acabam hypados e esquecidos rapidamente logo após chegarem. E Shenmue 3 pode ser um belo candidato para essa categoria neste ano.

Quando o game original saiu para o Dreamcast, trouxe uma revolução para os jogos de mundo aberto, com uma variedade de coisas para fazer, NPCs, trabalho, treinos, itens que podem ser comprados ou achados pelo mapa, jogos e outras atividades. Mesmo a galera não gostando do jogo em si, precisamos ter respeito pelo que ele fez e revolucionou.

18 anos depois do lançamento de Shemue 2, finalmente os fãs têm a sonhada continuação, graças a uma campanha de crowdfunding, para saber se Ryo finalmente vai enfrentar Lan Di e vingar a morte do seu pai. Quem não jogou os antigos pode ficar tranquilo em relação à história, pois o próprio game tem uma opção pela qual o jogador pode assistir um resumo e saber o que aconteceu anteriormente, para entender a trama.

Quem não está familiarizado com a jogabilidade e a história dos games do passado pode acabar frustrado com a jogabilidade e os problemas de Shenmue 3.

No começo de tudo, Ryo vê seu pai sendo assassinado e descobre que quem está por trás de tudo é Lan Di, que rouba o Espelho do Dragão, enquanto o protagonosta acaba com a posse do Espelho da Fênix. Viajando por diferentes lugares em busca do assassino, ele conhece pessoas, salva outras, trabalha e segue uma vida cotidiana até que conhece Shenhua, uma moça doce e sensível que está em busca do pai desaparecido.

Shenmue 3 começa logo quando termina a história o segundo jogo. Ryo e Shenhua vão para Bailu, vilarejo onde a menina vive, para saber sobre os Espelhos, o desaparecimento do pai dela, o paradeiro de Lan Di e as peripécias que bandidos estão fazendo no local.

É nessa hora que chegamos a um momento crucial, pois para enjoar do game e dropar é fácil, principalmente se o jogador não está familiarizado com a jogabilidade e a história. Shenmue 3 não é injogável, mas exige gana e paciência para quem não é fã da série.

Um dos motivos que podem levar o jogador a dropar o título é a quantidade insana de loadings. Boa parte do tempo investido no jogo se passa nos carregamentos, incluindo o inicial, já costumeiramente longo, mas também naqueles no meio do game. Você está lá correndo para finalmente avançar no mapa ou na história, aí a tela escurece e o pensamento é “de novo?”.

Se cada vez que o jogo parasse para mostrar uma cena, o um diálogo fosse útil, até seria entendível. Mas o problema é que temos a jornada interrompida por um simples “até logo, Ryo” ou “está olhando o quê?”, e isso tira a imersão do jogo. Mais uma coisa que, com o tempo, fica extremamente irritante.

As legendas em português ajudam bastante, já que o uso do diário de Ryo é constante. A dublagem em japonês é bem feita, mas em inglês, deixa a desejar.

Outro ponto que faz torcer o nariz é o “mundo aberto”. Há bastante coisa para fazer: trabalhar, treinar, explorar (de forma limitada), compras, vendas e conversas com as pessoas da vila. É bem importante que o jogador tenha contato com os habitantes, seja lá onde estiver, pois, apesar da promessa de se poder fazer o que quiser, não é bem assim que as coisas funcionam.

Caso você esteja no meio de uma missão e tente ir para outro lado, apenas para explorar o mapa, pode esquecer. O jogo vai te dizer que “não tem nada para fazer” ali ou que Ryo “precisa descobrir mais sobre tal missão”. Isso quando, novamente, não há um loading de Shenhua nos falando algo irrelevante.

O tempo certo veio e foi embora para Shenmue 3. Resta aos fãs dizer se a continuação é aquilo que tanto esperaram.

Acredito que os fãs não se incomodarão com os controles, gráficos e a arte de Shenmue 3, pois estão acostumados. Quem jogou provavelmente reparou nas quedas de frame, nos movimentos robotizados dos personagens, na ambientação com paredes invisíveis, plantas e folhagens de concreto e jogabilidade travada.

A trilha sonora é bonita, lembra bastante “Kung Fu Panda”, no bom sentido, enquanto a dublagem em japonês é muito boa. Já no inglês, é apenas honesta com Ryo e a Shenhua, mas para o restante, pareceu feita de qualquer jeito. Há legendas em português que ajudam muito, principalmente para quem tem dificuldade com a leitura, pois o diário do protagonista é usado constantemente.

Shenmue 3 levou tanto tempo para ser lançado que, quando saiu, poucos se importaram. Talvez os que têm algum carinho pelo game vão curtir o que veio, enquanto aqueles sem familiaridade com a saga e seus personagens acabarão o deixando no backlog após encontrarem a zueira com o Palmeiras. O game talvez tenha uma sobrevida caso saia de graça na PlayStation Plus ou Game Pass, isso, se você ainda lembrar que ele existe.

O jogo foi testado no PS4, em cópia cedida pela Deep Silver.