Há 20 anos, chegava um pioneiro jogo no qual se controlava um maluco de patins com a missão de sair grafitando pela cidade nos lugares mais inacessíveis e fugir da polícia com muito groove e estilo, deixando sua marca de artista urbano rebelde por aí. Jet Set Radio era muito divertido e trouxe algo que não se viu em muitos jogos nesse intervalo de tempo até chegar Sludge Life, que nos coloca na pele do grafiteiro sem muito talento Ghost em uma visão em primeira pessoa.
A primeira coisa que o jogador vai perceber é que o título é tridimensional, mas simula uma aparência pixelada para passar uma imagem de baixa resolução que mais parece desculpa para encobrir as falhas de modelagem, mas sem perder o carisma. Os personagens são simples e esquisitos, com poucas frases e sem muita paciência para a sua pessoa, mesmo ao lado de seus colegas grafiteiros.
Sludge Life tem uma missão muito simplória, que é sair pelos ambientes pichando sua tag, a marca de rua do grafiteiro, e isso acaba atraindo o desgosto de muitas pessoas. Não tem problema, pois palavras de desaprovação são sua maior ameaça no jogo, por isso, se sua auto estima estiver baixa, você vai se dar bem.
É uma pena que tanto potencial e boas ideias sejam desperdiçados pela falta de conceitos básicos de game design, em um título sem objetividade, carisma e respeito à cultura urbana do grafite.
Os comandos são simples e semelhantes aos da maioria dos FPS. O mouse é usado para disparar tinta ou conversar com as pessoas, enquanto o botão direito ativa uma ação secundária que depende de itens que vão aparecer no caminho. Eles permitem fotografar obras, por exemplo, ou fazem com que Ghost atinja lugares antes inalcançáveis para que ele possa deixar sua marca em todo lugar — o que não é grande coisa.
Você logo vai notar que Sludge Life, além dos péssimos controles de direção, não tem muita profundidade no desafio e nem muito o que fazer, na verdade. Não há desenvolvimento dos objetivos e o jogador caminha realmente como um fantasma, sem nenhuma parte do corpo aparecendo, obstáculo ou ameaça. Jet Set Radio, por exemplo, exigia que o personagem conseguisse tinta, fizesse comandos para preencher os grafites com desenhos elaborados e fizesse manobras com patins, além de possuir limite de tempo e policiais à procura. A interação com outros personagens era estilosa e não enfadonha.
Sludge Life acaba soando muito precário, apesar de ter uma ótima proposta e potencial pra ser muito mais divertido se trabalhado sobre a proposta de jogo e desafio. Já que é para propor um universo Hip Hop com muito estilo e temática da cultura urbana do grafite, por que desenhar não é mais elaborado? Onde estão os testes de criatividade? Quem achou que seria engraçado mijar aleatoriamente quando perto de uma privada? Tomar refrigerante por nada? Jogar basquete sozinho mesmo com pessoas ao redor?
A intenção de fazer o personagem não se importar com nada, como quando joga a máquina fora a cada foto ou descarta a latinha de refrigerante onde estiver, a cada novo jogo arremessar o notebook como descartável, corresponde ao humor do jogador, que está à frente de um jogo descartável. Parece que a equipe de conceito visual estava mais dedicada que a de conceito, transformando o título em um grande espaço para andar e pular pichando com um clique, sem evoluir nem ganhar nada com isso, conhecendo gente desinteressante e esquisita.
Um fator elogiável é a tradução e localização em português brasileiro, que traz gírias bem colocadas e sem erros, o que acaba não salvando os outros fatores. É uma pena que tanto potencial e boas ideias sejam desperdiçados pela falta de conceitos básicos de prototipagem e game design, por motivos que não se sabe e nem despertam interesse em descobrir, dada a decepção em jogar algo sem objetividade, carisma e respeito à cultura urbana do grafite.
A recomendação é aproveitar a gratuidade na Epic Games Store para conferir com seus próprios olhos esse grande besteirol digital.