Entre o fim de abril e o começo de maio, a Capcom liberou para jogar de graça todos os personagens de DLC da 4º temporada de Street Fighter V. Seth, que seria o primeiro do tão esperado quinto ano, que começou oficialmente em fevereiro, também chegou para fechar a Arcade Edition, com todos os chefes finais reunidos e a adição de novas V-Skills. Agora é só alegria, correto? Depende de quanto você tem apego por masoquismo, pois ao mesmo tempo que o jogo conquista 4,5 milhões de unidades vendidas, os clientes estão abandonados e humilhados.

Antes de abordarmos as contradições e polêmicas, falemos dos três personagens que ficamos de comentar por falta de Fight Money:

E. Honda: o último dos clássicos retorna

A reunião dos oito clássicos personagens de Street Fighter II agora está completa, pois o roliço campeão de sumô retorna mais poderoso do que nunca. Incrivelmente, conseguiram colocar fatores novos para ir além de suas versões anteriores, apesar de ele ser considerado o World Warrior dispensável segundo os pro players e muitos casuais, que talvez tenham mudado de ideia agora que ele está mais forte e cheio de artimanhas marotas.

A primeira grande característica do novo E. Honda é sua grande capacidade de fazer mais combos sem deixar de ser um tanque de guerra. Agora, podemos ver um gordão com Target Combo, Kara Throws e mais oportunidades de Juggling. Com socos sólidos e chutes com longo alcance, ele surgiu como uma boa surpresa para quem já o conhecia de longa data e só o considerava um homem-torpedo

E. Honda se diferencia do próprio passado através das V-Skills e V-Triggers. Elas potencializam seus Super Golpes, mas ele não ganhou nenhum novo, infelizmente. Os antigos têm aplicações muito práticas para tipos de jogadores como o retranqueiro, que destrói magias com a V-Skill I – Neko Damashi e já pode cancelar em Super Cabeçada ou em V-Trigger com a vítima no ar. Isso é diferente da V-Skill II – Sumo Spirit, que funciona como um EX Super Tapas grátis, sem gastar uma barra de Super, pois funciona como a versão EX do Super Golpe, permitindo mais danos para um jogador ofensivo, que certamente vai escolher o V-Trigger I – Onigawara, que permite um Sumo Headbutt duplo automático com um simples apertar de dois botões, que também pode ser carregado para quebrar defesas.

Se formos falar de seu V-Trigger – Tajikarao, teremos o golpe mais sumô de toda sua história, onde Honda avança sobre o inimigo e o arremessa na parede mais próxima. Tem escudo na ativação solo e pode ser cancelado após o Super Golpe Hundred Hand Slap para danos adicionais, muito bom para situações tensas de pressão, sem falar que garante uma queda do oponente em um canto. Como ainda mantém seus mesmos Super Golpes desde Super Street Fighter II Turbo, seu diferencial está no que pode ser feito mesclando essas novas técnicas que priorizam apenas o Hundred Hand Slap. Por isso o Sumo Smash tem tanta prioridade, com se fosse uma compensação ao jogador

Poison: mais Final Fight na parada

Apesar do que muitos pensam, Poison tem grande apelo frente aos fãs da franquia desde que retornou em Street Fighter X Tekken e adentrou a franquia principal com novas técnicas que, felizmente, fazem sua participação em Final Fight Revenge ser esquecível. Com o cabelo curto no estilo Knuckles e com um chicote maior, seu estilo dominatrix está mais perigoso, pois muitos de seus recursos de jogos clássicos estão de volta e não se tornaram mais uma adaptação de sua última aparição na franquia.

Claro que o destaque vai direto para o chicote, que a permite ter um alcance gigantesco e tem alguns movimentos que lembram a infante Whip (nome original) de King of Fighters no manejo, seja carregando de costas ou descendo a chibata repetidas vezes nos mais atrevidos. Não chega ao ponto de se poder afirmar que ela é uma Whip da Capcom, mas até o ataque de prender o chicote no topo e avançar chutando temos aqui, mas de forma mais marginal, digamos. Sua V-Skill I – Perfume Swing permite ser continuada após chutão pra cima EX Shocking Heel e finalizado com um ataque forte, e também escapar do canto quando em um momento propício.

Outra grande diferença dela para Whip é o o bom uso das pernas, que não só finalizam combos como os inicia também, apesar que o seu maior trunfo é um soco curto, abaixado, contra os puladores mais atrevidos, acertando até além do alcance de seu punho, algo místico. Voltando a falar em chutes, seu V-Skill II – Cartwheel é o salto mortal clássico do primeiro Final Fight, que pode ser continuado com um chute que envia o adversário para o ar, o ponto forte de Poison quando no chão. Com seu V-Trigger I – Poison Cocktail, que nada mais é que a oportunidade de lançar dois molotovs na fuça do condenado, seja em combo ou para pressionar, já que o chão fica em chamas aumentando a possibilidade de mais danos, diferente de seu V-Trigger II – Toxic Glamour, que é um agarrão curto ou distante com o chicote, que serve tanto para concluir combos como para surpreender, técnicas poderosas que levaram IDom a vencer a Capcom Cup de 2019.

Seth: a doll definitiva

Ainda falando de personagens trans, temos o retorno do chefe do último Street Fighter, agora como mulher, mas com a mesma voz masculina de antes, por nenhum motivo aparente além de a representar como a Doll Zero, a maior invenção da Shadaloo, que ainda mantém os problemas de megalomania de seu criador. Ainda tentando ser rainha do mundo, Seth retorna com um visual mais elaborado do que o de um simples homem pelado com um calombo giratório na barriga. Apesar do desnecessário implante de seios para um ciborgue, seu estilo de combate está praticamente reformulado, apesar de fazer referências ao antigo modelo.

Uma das personagens mais originais e divertidas, apesar dos golpes copiados de outros personagens da franquia, Seth permite muitas variações nos ataques e tem aquele apelo que todos adoram: referências! A lutadora possui Super Golpes de personagens famosos como o Hecatoncheires, que é o clássico “muda muda”, os socos repetidos de Dio, a fonte suprema de inspiração de toda a obra Street Fighter, agora usada plenamente em um personagem, com direito a pose final e tudo. Outro Super Golpe, este não tão claro em sua referência, Cruel Disaster, se trata de um chute comprido após um rodopio e a força do botão define quanto a personagem vai rodopiar antes de chutar, com seus respectivos efeitos, melhorando a cada nível de força. Sua versão EX manda o inimigo para cima, indefeso, para ser espancado ainda no ar ou ao cair.

Pra substituir o Shoryuken, Seth ganhou o anti-aéreo do vampirão Demitri, de Darkstalkers, Mad Cradle, que não é tão eficiente quanto a versão original, mas faz seu papel e serve para continuar combos dados como perdidos por se ativar muito rápido. Já o último Super Golpe é o Tsurugi da pequena karateka Makoto, Annihilate Sword, uma versão rápida que pode ser usada também com a técnica do pulo mínimo para surpreender de perto e média distância. Lembrando que todos esses Super Golpes sofrem efeito da V-Trigger I – Tanden Ignition, e quase todos da V-Skill II – Tanden Booster, que adiciona o impulso do Dash para alterar o formato das técnicas, algo comumente visto em jogos da SNK.

Não é à toa que virou a personagem escolhida para iniciar a quinta temporada e novo sub-título de Street Fighter V, pois a tal edição campeã até agora não entregou o que prometeu. Seth é bem divertida e com recursos que variam muito seu modo de jogar, seja qual for, pois além de ataques criativos e inéditos, permite roubar uma técnica de todos os lutadores, algo nunca visto desde a Vampira no Crossover de 1996, X-Men vs Street Fighter, usando a V-Skill I – Tanden Engine, mas a diferença é que só se pode usar a técnica roubada uma vez por sucção, para não virar festa. Em compensação, isso ajuda em combos e, dependendo da finalização, pode ser continuado com a ativação do V-Trigger I, que complementa todos os Super golpes nas suas quatro versões disponíveis.

O V- Trigger II – Tanden Maneuver é uma esfera de poder controlável em direções e tem uma praticidade maior que a bola de cristal de Menat, com o mesmo critério explosivo opcional, mas mais ameaçadora, pois continua ativada, criando estratégias de pressão na defesa. A parte mais interessante deste personagem é a possibilidade de mesclar suas técnicas com variações de Super Golpes e ativações que somadas ao golpe sugado do oponente, podendo gerar situações inéditas e combos inesperados das situações mais atípicas, como chutar o rival para o ar, ativar um Super Golpe EX, V-Trigger, acertar no ar mandando para baixo, ativar o V-Trigger para ele voltar pra cima, outro Super Golpe, cancelar na técnica roubada e finalizar com o complemento do golpe roubado, que talvez permita continuar a acertar.

Somado tudo isso que foi falado com seus ataques normais eficientes, Target Combos e ataques de comando, Seth é a personagem mais criativa em tempos no universo Street Fighter, fazendo lembrar personagens da SNK dados os golpes criativos que permitem continuações e sem possuir magia, algo comum em chefes finais da empresa.

Diante dos outros analisados percebemos, uma grande disparidade na atenção que a Capcom dá para certos lutadores e isso não é pelo critério de popularidade. Certamente existem equipes para cuidar de certos combatentes e, às vezes, a roleta russa da preguiça ou prazos apertados sem nenhuma lógica fazem um icônico protagonista ter cinco variações do mesmo Super Golpe, aparecendo até no seu Critical Art, enquanto outros novos surpreendem pela criatividade na concepção. Isso sem falar no equilíbrio, um dos grande problemas desde Street Fighter IV, que incrivelmente não afetou o crossover com Tekken, mas o sabotou no modo como lidaram com o projeto.

Lembremos que já se passaram três meses desde o lançamento do último personagem e, enquanto esperávamos pelo menos a sombra dos outros cinco a serem lançados em 2020, os fãs receberam… nada. Os Extra Battles ainda não dão Fight Money, as missões e patrocínio que davam esmolas não garantem a compra de nada e quando um fã fez, em casa, o conserto do Netcode, tudo o que a Capcom fez foi remover o trabalho desse herói anônimo e entregar um Netcode pior que o caseiro, mas melhor do que antes, para responder a uma pressão antiga de seus clientes, sem frutos.

Vale lembrar que a EVO de 2020 será totalmente online devido ao isolamento social causado pela pandemia, e pelo visto, o evento principal ficará de fora este ano por puro descaso. Sem Netcode decente, novos personagens, outro jogo de luta no mercado ou investir nos clássicos para esta nova geração, balanceamento de personagens e tudo mais, a Capcom está em maus lençóis enquanto assiste seus rivais como Tekken 7, Soul Calibur VI, Samurai Shodown, Dragon Ball Fighters Z, Granblue Fantasy Versus e o empolgante Guilty Gear Strive no forno.

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