Talvez a maior prova de que a Capcom acertou ao fazer de Street Fighter V um jogo totalmente focado em comunidade é o modo como os jogadores receberam o game. Basta ver a quantidade de campeonatos que surgiram já na semana de lançamento do game. Isso é ótimo, pois mostra que essa mesma comunidade não está localizada apenas em São Paulo, como algumas empresas gostam de pensar, mas em todo o país. É claro que a cidade ainda concentra boa parte dos jogadores, mas os demais estados compensam isso ao mostrar uma organização igualmente apaixonada.
Exemplo disso aconteceu em Curitiba, onde o evento de lançamento do novo Street Fighter foi quase que inteiramente preparado pelos fãs. Encabeçada pela ICE, uma empresa formada por jogadores para fomentar o cenário local, as boas-vindas ao game da Capcom reuniu quase 200 pessoas, seja para participar do campeonato realizado no local, desafiar o melhor jogador de Street Fighter do Brasil, Keoma Pacheco, ou apenas dar uma olhada em como o game ficou. E isso inclui gente que nem tem familiaridade com jogos, como uma família que foi apenas para conhecer o brasileiro que brilhou na última Capcom Cup.
Para Pacheco, eventos assim são muito importantes pois mostram ao público que existe algo depois de Street Fighter II e, com isso, desperta a sua curiosidade para também conferir aquilo. E, como apontamos em nossa análise, o game favorece muito a entrada desses novos jogadores ao simplificar suas mecânicas. “Street Fighter IV tinha muitas coisas que dependiam da técnica do jogador e que, a partir de um ponto, afastava quem queria começar. E SFV muda isso. Agora é a estratégia sobre a força bruta. Ele beneficia o jogador que pensa mais”, explica.
SFV para profissionais
E essas mudanças não foram poucas. Keoma conta que, embora tenha começado a jogar Street Fighter de verdade apenas com o quarto game da série, se adaptou tanto às novidades que chegou a se esquecer de como era SFIV. Com apenas uma semana de contato com o novo game, ele disse ter tentado voltar ao título que o apresentou ao mundo das competições e que achou tudo aquilo muito estranho. “Street Fighter V é quase como um SF III redesenhado, principalmente na movimentação”.
Jogando atualmente de Karin, Keoma mostrou aos curitibanos o porquê de ter chamado a atenção de toda a comunidade internacional com suas habilidades. Muitos tentaram, mas ninguém conseguiu derrubá-lo. Diante disso, não é difícil imaginar como ele conseguiu alcançar rank Silver dentro do game com apenas um dia de partidas online.
Porém, isso não quer dizer que ele não tenha encontrado desafios — e até tem uma personagem para tirar seu sono. “Laura é, sem dúvidas, a mais complicada. Ela tem um ou dois macetes que te obrigam a ter uma leitura do jogo que chamamos de 50/50: ou você sai dos seus ataques ou vai ser pego de novo. E já tem gente dominando isso”, conta. Ainda assim, ele não acha que isso é algo que precise ser revisto. “O jogo está totalmente balanceado. Até agora, não encontrei nenhum problema de equilíbrio”.
Holofotes pós-Capcom Cup
Como não poderia deixar de ser, o bom desempenho na Capcom Cup, quando ficou entre os oito melhores jogadores de Street Fighter IV de todo o mundo, trouxeram os holofotes do cenário internacional de fighting games para o Brasil — além de abrir muitas portas. Keoma conta que não esperava toda a repercussão sobre o torneio e que ficou surpreso com as proporções que tudo isso tomou. Porém, ele logo percebeu as oportunidades que viriam daí.
“Se eu não conseguisse um patrocínio depois disso, aí eu teria certeza de que nunca iria ter um”, brinca o jogador. E ele não teve com o que se preocupar em relação a isso. Tanto que, ao voltar para o Brasil para tentar retomar sua vida normal, ele logo percebeu que o resultado havia o transformado em uma celebridade entre os jogadores, o que fez com que sua caixa de mensagens ficasse lotada. “Era tanta coisa que eu perdi algumas propostas de contrato em meio ao flood”, conta. Pelo menos, o contato com o Team Innova não passou despercebido e hoje ele conta este patrocínio que o permite treinar de verdade com Street Fighter V.”Um jogador nacional ter essa visibilidade dá uma força enorme para o cenário. Por aqui, ainda falta oportunidade para que o pessoal possa se dedicar”.
Já em relação ao seu desempenho no novo jogo, Keoma diz que ainda é cedo para falar. Mesmo com sua rápida evolução no ranking online, ele diz que é preciso de mais tempo antes de qualquer avaliação. “Toda a base mudou, então é preciso aprender com a comunidade. Todo mundo vai evoluir junto”, diz. “Por isso o online é fundamental, pois vai melhorar o nível dos jogadores como um todo. Só aí vai ser possível avaliar a competitividade de todos”.