Quando jogos medianos passam desapercebidos por baixo das sombras dos grandes “triple A”, dificilmente é permitida a chance da melhoria em uma sequência. Por mais que o primeiro Styx não tenha sido primoroso e tenha cometido alguns erros, como ser lançado apenas para os consoles atuais sem grandes motivos gráficos para isso, sua continuação foi capaz de aproveitar as críticas que sofreu, entregar uma narrativa bem mais envolvente, um stealth melhor estruturado com seus vários caminhos e abordagens e um maior aproveitamento do seu cenário de fantasia medieval.
Sabiamente sem um numeral em seu título, Styx: Shards of Darkness serve como ponto de partida para o jogador que não conhecia a série. Dessa vez, recomeçando sua jornada mostrando todo potencial que detém, mesmo que ainda com alguns problemas.
Se formos estruturar as raças pequenas nos cenários de fantasia medieval do nosso sagrado e cada vez mais raro hábito de jogar RPG, invariavelmente cairemos no estereótipo do ladino furtivo dos dedos leves e da adaga afiada. Já os goblins, porém, mesmo encaixando-se nesse formato, são os sacos de pancadas dos personagens de primeiro nível. Com Styx, isso muda.
O desenrolar da boa história, o carisma dos personagens e o gameplay redondo servem de incentivo ao jogador querer ir atrás do primeiro título e descobrir as origens da série.
Em Shards of Darkness, somos inseridos em mais um dia de trabalho do goblin incomum que nasceu com inteligência, humor negro e um acervo invejável de palavrões em um mundo no qual sua raça é considerada estúpida, sendo caçada e morta pelo agrupamento C.A.R.N.A.G.E, liderados pela capitã Helledryn. Porém, os caminhos e objetivos de Styx e da capitã se cruzam e ambos passam a trabalhar juntos, iniciando um enredo com intrigas políticas entre elfos negros, humanos e rituais bizarros.
A trama, dividida em nove missões ao todo, cada uma com suas objetivos principais e secundários, é bem contada e cheia de referências a outros jogos e filmes. No entanto, em algo que incomodou logo nas cutscenes iniciais, nota-se uma falta de sincronia na dublagem das animações, um problema que aparece ao longo de todo o game.
A jogabilidade é o ponto alto. Apesar das muitas possibilidades de sair do ponto A para o ponto B, ponto quase definidor dos jogos stealth, e mesmo que em outros jogos do gênero essa abordagem seja plenamente possível, em Styx: Shards of Darkness o combate direto é um suicídio, mesmo nos níveis mais baixos.
Styx: Shards of Darkness acaba se sustentando mais como uma divertida história de dark fantasy sendo contada do que um sofrido jogo de stealth.
Devido à fragilidade natural da raça, Styx morre com poucos golpes, e, para avançar no jogo, a arte da ladinagem do goblin serve como contraponto a essa fraqueza. Poderes de invisibilidade, geração de clones, dardos envenenados e punhados de areia para apagar tochas acesas são algumas das ferramentas que podem ser aprimoradas na árvore de habilidades do jogo.
O diferencial dela, no entanto, é a possibilidade de mudar os pontos gastos no decorrer do jogo. Recurso muito útil nas primeiras missões, esse método auxilia o jogador a alcançar os três objetivos fixos das fases – além das missões principais e secundárias – como não ser visto, não matar nenhum inimigo e finalizar a fase em um curto período. Dependendo da pontuação alcançada em cada uma delas, são disponibilizados pontos extras para gastar na arvore de habilidades.
Um ponto dúbio que deve ser analisado é o nível de dificuldade de Styx: Shards of Darkness. Nos mais altos, algumas funções deixam de funcionar, como o aprimoramento do bloqueio dos golpes, por exemplo, mas ainda assim o jogo segue fácil caso o jogador tenha paciência e alguma familiaridade com o gênero.
A inteligência artificial dos inimigos é um tanto lenta e simples de manipular. Com isso, o jogo aparenta servir como uma porta de entrada para o estilo, o que pode frustrar jogadores mais antigos. Assim, Styx: Shards of Darkness acaba se sustentando mais como uma divertida história de dark fantasy do que um sofrido jogo de stealth. Uma particularidade que pode ser vista como negativa ou positiva, dependendo de como o jogador irá desenvolver a sua campanha.
Apesar do jogo ser ligeiramente fácil, isso não significa que não haverá mortes. Algumas serão até propositais. Similar ao que acontece na série Arkham, onde os vilões aparecem e debocham a cada morte do Morcego, em Styx: Shards of Darkness, quando morremos, o próprio goblin aparece e despeja todo seu arsenal de esporros e outros xingamentos para cima do jogador.
Pérolas como “Façamos assim, eu vou aí e pego o controle e você vem pra cá e morre. Dolorosamente!” e “Você tá fazendo o streaming disso? Quero minha porcentagem do seu BEST GOBLIN DEATH COMPILATION!” e outros bem mais agressivos, são detalhes interessantes onde a quebra da quarta parede não tira a imersão do jogo. Pelo contrário, isso dá uma personalidade ao game e acaba casando bem com o jeito do goblin ladrão.
Sabiamente sem um numeral em seu título, Styx: Shards of Darkness serve como ponto de partida para o jogador que não conhecia a série.
E para os caçadores de Platina, Styx: Shards of Darkness possui uma lista bastante simples, com a conquista mais complicada sendo conseguir medalha de ouro em todos os três objetivos fixos de todas as fases. Nada impossível, levando em conta que elas ficam abertas para podermos voltar quando quisermos refazer a missão.
Finalizando, o desenrolar da boa história, o carisma dos personagens e o gameplay redondo servem de incentivo ao jogador, que pode desejar ir atrás do primeiro título e descobrir as origens da série. E tratando-se de uma sequência sem grandes relações com a história anterior, esse é o melhor elogio que um segundo jogo pode receber.
O jogo foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Sony Music Entertainment Brasil.