Entre o pouco mais de uma dezena de jogos que compunham a line up de lançamento do Switch, Super Bomberman R era uma das poucas propostas efetivamente exclusivas. Apostando forte na nostalgia, o game trazia de volta a velha jogabilidade para um público que, não coincidentemente, aprendeu a explodir os amiguinhos justamente nos velhos consoles da Nintendo.
O caminho até o lançamento do jogo, entretanto, soa esquisito, para dizer o mínimo. Ao mesmo tempo em que aparece como um dos principais títulos do console ao lado de The Legend of Zelda: Breath of the Wild – com direito a preço “cheio” e versões física e digital – sua divulgação foi extremamente morna. E quando se olha o game em si, percebemos uma aposta bem maior no passado do que no conteúdo, como se apenas trazer o que funcionava antigamente de volta fosse suficiente para vender um jogo.
Super Bomberman R apresenta a boa e velha jogabilidade da franquia, quase intocada. O layout das fases em grades permanece, assim como os blocos destrutíveis e os power ups que aparecem aleatoriamente para esquentar o combate entre os jogadores. Rivais mortos podem retornar à vida jogando bombas nos que estão ativos, e caso o tempo comece a se esgotar sem um vencedor, o cenário começa a reduzir de tamanho, até que seja impossível escapar das explosões.
Parece ótimo, não é mesmo? A questão é que Super Bomberman R não passa disso. No modo Battle, que deve ser o mais jogado pelos usuários, são apenas oito mapas liberados no início, todos extremamente parecidos. As diferenças de elevação em alguns deles até trazem certa variação, mas fazem pouco para modificar a jogabilidade e as estratégias utilizadas.
Novas fases são liberadas com créditos, obtidos na campanha principal. E é justamente aí que começam os problemas da Konami com o título. Enquanto a empresa manteve a jogabilidade original e atualizou de forma divertida os gráficos para serem compatíveis com um console de atual geração, o restante passa longe de ser interessante como no passado.
Super Bomberman R oferece muito pouco para sustentar o jogador por horas à frente do console. Um bom jogo dentro do que se propõe, mas que não vale o preço cheio.
Cutscenes bem desenhadas e um humor leve abrem o modo história, que coloca o jogador para resolver puzzles simples e combater inimigos básicos em cinco mundos. Os desafios são progressivos, mas o intelecto do jogador não vai ser colocado à prova em nenhum momento, pois a repetição é extrema. Se você já jogou Bomberman alguma vez na vida, saberá exatamente o que fazer aqui.
Cada mundo é finalizado por um boss, em combates, normalmente, com falhas nos sistemas de colisão. Explosões certeiras podem não tirar energia do chefe de fase, enquanto soa um tanto esquisito – mas diferente – utilizar os explosivos em um ambiente completamente sem barreira. Mas esses momentos de diferenciação são rápidos, e a campanha logo retorna ao mais do mesmo de antes.
O sistema de créditos também dá as caras na história, permitindo que o jogador compre continues caso morra demais. Mas a implementação não faz muito sentido, levando em conta que Super Bomberman R é bem fácil. Ao fim das vidas, a opção de adquirir mais contrasta com a ideia de retornar ao começo do mundo, um trajeto simples, de poucos minutos e estágios.
O grande destaque de Super Bomberman R, no final das contas, acaba sendo mesmo o modo Battle, com combates entre os jogadores – essa, inclusive, é a primeira opção do menu principal. A modalidade acaba também servindo como uma bela demonstração do potencial dos Joy-cons individuais e nem mesmo a ausência de um direcional digital é sentida durante as batalhas, que são tão precisas e fluidas quanto sempre foram.
O modo multiplayer também funciona, apesar de certa demora para encontrar partidas e um pouco de lag em algumas delas. A Nintendo nunca foi reconhecida por seu grande suporte online, e no momento, a infraestrutura do Switch nem está plenamente no ar. Durante nossos testes, a maioria das partidas pode ser finalizada, apesar dos problemas, e a expectativa é de melhoria na medida em que a arquitetura conectada do console começar a funcionar de verdade.
Mesmo aqui, entretanto, existem problemas. A Konami parece ainda se bater com as diferentes formas de se utilizar as funcionalidades do Switch e criou menus confusos para dar acesso às jogatinas. Uma opção chamada “Local”, que remete à jogatina entre dois ou mais jogadores em um mesmo console, nos leva, na verdade, à opção de conectividade entre diversos Switches. Então temos os redundantes “Multiplayer” e “Online”, onde, por eliminação, o primeiro nos leva aos embates locais em um único Switch.
Tais críticas podem parecer o famoso trabalho de encontrar pelos em ovos, mas pequenos problemas como esse mostram um certo desleixo da Konami com o título, principalmente quando se leva em conta que, de maneira geral, ela não foi além em nenhum dos aspectos de Super Bomberman R. Ao criar um título sobre bases sólidas, a empresa teria pleno espaço para inovar e seguir adiante, mas preferiu não fazer isso, entregando o inverso – um trabalho que parece ter sido feito de qualquer jeito.
Há de se argumentar que foi justamente ao inovar demais que a Konami matou Bomberman – provas disso seriam as péssimas edições em 3D e a inexplicável versão ultrarrealista do personagem em Act Zero, considerada por muitos como a derrocada final. Aqui, entretanto, estamos na outra ponta. Ao se propor a trazer a jogabilidade clássica de volta, a companhia não fez nada mais do que isso.
Os fãs do passado ou aqueles que estão em busca de bons multiplayers para o Switch vão se divertir. A falta de variedade, entretanto, fará com que esse seja um processo rápido e curto, para jogatinas curtas e descompromissadas. Super Bomberman R oferece muito pouco para sustentar o jogador por horas à frente do console, servindo quase como uma aquisição complementar a Breath of the Wild, grande game atual para o console. Um bom jogo dentro do que se propõe, mas que não vale o preço cheio.