Em um mundo pós-apocalíptico, a economia de recursos é tudo. Cada bala conta e os disparos precisam ser friamente calculados. Nas não estamos falando do fim do mundo em The Division, mas sim, de um momento posterior à primeira grande onda de devastação. Nem tudo está perdido, ainda existe esperança e pequenas tentativas de normalidade. E, acima de tudo, nem tudo funciona da maneira como estamos acostumados.
A diferença de cenário e a fuga do óbvio poderia ter dado origem a um shooter bastante interessante e cheio de recursos. Mas pelo menos pelo que se percebeu durante os testes Beta fechados do título, The Division deve soar mais como um game de tiro com pouca alma e que, acima de tudo, deve representar um pesadelo para aqueles que gostam de progredir devagar, com estratégia e fazendo o melhor uso possível de cada disparo de suas armas.
Os conceitos de exploração de cenários e de diversas atividades para serem realizadas, tudo com o auxílio de alta tecnologia e um sistema de progressão que dá liberdade ao jogador, caem por terra quando The Division falha em seu principal aspecto. Com inimigos que são verdadeiras esponjas de balas, fica difícil enxergar o tiroteio como algo além de uma jogatina burra, vencida por quem pressiona o botão de atirar primeiro.
Nos testes, não foram nada raros os momentos em que inimigos não morriam, mesmo após receberem dois, ou até três, disparos de M16 diretamente na cabeça. Esqueça atirar de longe, e mesmo utilizando silenciadores que podem ser encontrados ao longo da aventura, a estratégia pouco importa. Basta ser visto por um dos oponentes ou disparar contra um deles para que todos os outros saibam sua localização e venham como loucos para cima de você.
The Division também investe em um realismo interessante, que também acaba subutilizado. Ao contrário da maioria dos games, o seu personagem não é incrivelmente mais forte que os inimigos, e mesmo com o uso de equipamento tático e itens que melhoram a proteção, alguns disparos já são suficientes para sua morte.
A estratégia, então, deveria ter um papel ainda mais presente no título, mas não é o caso, pelo simples fato que, como já dito, os inimigos não hesitam em correr para cima do protagonista como nas velhas tropas medievais. São diversos os momentos “surpresinha”, em que um oponente armado de bastão ou armas pequenas surge por trás de um ponto de esconderijo do jogador, obrigando que ele saia da cobertura e, nesse processo, acabe vulnerável aos tiros dos outros oponentes, morrendo rapidamente.
Jogando com amigos, a coisa não melhora tanto. Flanquear os adversários ajuda um pouco, e quando se sabe exatamente de onde as ameaças virão, as coisas ficam um pouco mais fácil. Para chegar a esse ponto, entretanto, jogadores devem passar por um frustrante processo de algumas tentativas e erros, até que “peguem o jeito” em uma jogabilidade que, na realidade, já é velha de guerra.
Acima de tudo isso, não dá para compreender ao certo quando, em pleno 2016, era de controles precisos e imagens com milhares de pixels, desenvolvedoras ainda apostam em títulos com inimigos que absorbem tiros e mal reagem. Com essa decisão equivocada, The Division se junta a um panteão do qual também fazem parte nomes como Just Cause e Resident Evil: Operation Raccoon City. O tiroteio pode até ser de qualidade, mas a sensação não.
Problemas de interface
Na tentativa de seguir o mote tecnológico presente, principalmente, no cinema, e deixar claro que o mundo continua existindo mesmo quando o jogador está nos menus, a Ubisoft adota um estilo já bastante conhecido para as telas de The Division. Ao melhor estilo do assistente Jarvis, de Tony Stark, as imagens aparecem projetadas no ar, enquanto o mapa ajuda não apenas na orientação, mas também na localização de objetivos e no melhor caminho para seguir até eles.
Como todo RPG – e The Division é tanto um shooter quanto um título desse gênero –, a quantidade de textos e informações exibidas na tela, principalmente nos menus, é grande. O problema é que essa quantidade de informações também aparece durante as cenas de jogabilidade, e acabam dificultando a vida de quem está jogando.
O tempo todo, temos letras e indicadores aparecendo na tela, principalmente na parte superior. Muitas vezes, fica difícil entender exatamente qual o objetivo a ser cumprido naquele momento, enquanto waypoints se multiplicam e podem te levar ao mais absoluto nada. Você pode achar que está indo para o objetivo central, mas encontra uma missão secundária ou uma caixa de munições, apenas.
A quantidade de indicadores é um atestado quanto à variedade de The Division, mas se acostumar com o labirinto de letras e setas é um desafio à parte. Mais do que treinar a mira – ou não, já que não dá para contar com a precisão –, é preciso fazer com que os olhos aprendam a identificar as informações relevantes e ignorem aquelas que não importam no momento.
Aqui, entretanto, temos uma característica que, sim, pode ser resolvida por meio de uma atualização que traga mudanças de interface. O mesmo, entretanto, não pode ser dito sobre as esponjas de balas nas quais os oponentes se transformaram, por mais que um update lançado durante o período Beta tenha tornado eles um pouco mais fracos. Não era isso, entretanto, que os jogadores queriam.
O principal problema de The Division, no fim das contas, está em seu coração, e é por isso que tanta gente está se sentindo frustrada nesse primeiro contato com o título. Ao construir um mundo vasto e rico, aliado a uma trama totalmente palpável, a Ubisoft parece ter se esquecido dos aspectos que fazem um shooter de verdade, entregando uma experiência que, por fora, pode parecer interessante, mas sem alma, por dentro.
Aqui, a velha esperança de que “esse é só um Beta” e as coisas devem melhorar no futuro, infelizmente, parece não ser um apoio. Uma pena, pois mais uma vez, temos uma ideia com gigantesco potencial, mas que falha em sua execução. The Division chega em 8 de março para PC, PlayStation 4 e Xbox One.