Nesta semana, os afortunados proprietários de PlayStation 4 receberam o mais novo e importante episódio da saga The King of Fighters, que começou há 22 anos e já passa pelo seu terceiro renascimento. Isso não quer dizer que a saga já morreu duas vezes, apesar de a SNK, empresa criadora, já ter falido em um número de ocasiões semelhante, mas a série não foi interrompida nem por esse pequeno detalhe.
Antes de explicar porque este episódio é o mais importante, vamos começar pelo passado da saga KOF, em 1994.
The King Of Fighters’ 94
Em 1994, a SNK, criadora do video game mais desejado pelos jogadores de fliperama, o NeoGeo, estava competindo de igual para igual com sua eterna rival, a Capcom, e foi neste período que a saga KOF roubou o lugar do Mortal Kombat no páreo de melhor jogo de luta da época, trazendo em um mesmo título vários personagens carismáticos e famosos de outras franquias da empresa. A mistura de Art of Fighting, Fatal Fury, Ikari Warriors, Psycho Soldiers e, claro, personagens originais, com um inovador sistema de times, era algo inédito até então.
A aparência do jogo remetia a Fatal Fury Special, enquanto as músicas e cenários eram bem animados, mas nada muito chamativo. O destaque estava na jogabilidade e estratégia dos times, tornando os contras algo além de contar sempre com o mesmo personagem. Você precisava saber jogar com os três integrantes da equipe, algo que mudaria mais adiante. Uma versão melhorada foi lançada ano seguinte, pois a inocente premissa era de que o torneio seria realizado anualmente, e, assim, o hype era mantido para saber o que mudou nos amados personagens a cada versão e esperar como o chefe Final, Rugal, estaria apelando desta vez. Foi aí que veio o primeiro renascimento de KOF, em 1996.
KOF’ 96
The King Of Fighters 96 foi o primeiro divisor de águas na série e gerou muita discussão, na época, pois removia muitas tradições que já estavam consagradas. Rugal não era mais o chefe final, Takuma e Heidern não faziam mais parte do jogo e o time do Iori estava totalmente diferente. Certamente este “mimimi” conservador não durou, mesmo que muitos projéteis tenham sido cortados e os ComBugs (combos possíveis graças a bugs do jogo) e apelações devido a falta de programação orientada a isso existissem. Não só a arte, mas os cenários, história, chefes (trio de chefões + sub-boss e inimigo final são lembrados sempre) e a trilha sonora que é reverenciada até hoje como uma obra-prima. Dizem que ela foi composta pelo criador de Guilty Gear, Daisuke Ishiwatari.
KOF 96 ditou a nova tradição para a franquia com seu gameplay mais sólido, maiores recursos de jogo, a versão especial dos Supers, chamados de SDM (e depois MAX), intro especial entre personagens que têm relação um com outro, finais alternativos e, nas versões de console, muito conteúdo para o fã como as galerias de ilustrações, principalmente as rejeitadas, e os combos 100%, que exigem muito da técnica do jogador.
Esta tradição durou até o The King Of Fighters XI, que, mesmo perdendo a periodicidade anual, manteve-se sobrevivendo a duras penas após o icônico KOF 2002, perdendo o posto de rival da Capcom. Devido a tantas mudanças de direção e uma sofrível versão em 3D, com o jogo entrando na era HD e abandonando os sprites em baixa resolução, chegou o KOF XII, pela SNK Playmore, a segunda dona da saga.
The King Of Fighters XII
O tão aguardado segundo renascimento da franquia, com personagens gigantes, visual HD e toda a potência da placa Taito Type², a mesma usada no Street Fighter IV e BlazBlue, trouxe uma decepção que até hoje está cicatrizada na mente dos fãs. Talvez por pressão do setor de vendas da produtora, o game estava planejado pra ser o glorioso renascimento da saga, maior que a transição de KOF 95 para a versão 96, zerando a cronologia das franquias que seguiam os episódios, como personagens do Garou e o Terry Bogard com cabelo curto, Vice e Mature mortas, New Faces mortos, tudo seria recomeçado.
Nostálgico para os velhos fãs e convidativo para os novos adeptos, o resultado final foi um produto inacabado e sem sentido, com times desfalcados, sem Arcade Mode ou até mesmo chefe final. Haviam pouquíssimos cenários e o design de muitos personagens estava grotesco.
Tentando salvar o pouco que lhe restou de prestígio, a SNK Playmore criou The King Of Fighters XIII, sanando alguns dos problemas que seu antecessor havia criado. Após o lançamento da versão console, com mais personagens, modo história e até dois chefes, a credibilidade da franquia voltou a crescer, mas era tarde demais. Diante de títulos como Super Street Fighter IV, Tekken 6, BlazBlue Continuum Shift e até o retorno de Mortal Kombat, a franquia foi relegada ao posto de adicional da EVO, como Super Smash Bros Brawl era na época.
The King Of Fighters XIV
Para explicar porque este é o episódio mais importante da saga, basta dizer que é a maior aposta da nova SNK, agora comprada por chineses. Todos os esforços para manter a série viva estão neste novo título, e apesar dos tropeços encontrados nos primeiros vídeos, a empresa teve o bom senso de ouvir seus fãs e as melhorias foram realizadas. Isso era perceptível a cada trailer liberado.
Além disso, a empresa não só seguiu a tendência de fazer um Story Mode detalhado, como empregou variados estilos de se contar a história: CGI, Cutscenes em 3D e imagens estáticas em HD com pequenas animações, como uma HQ com Motion Graphics.
Além da nova trilha sonora, tiveram o cuidado de trazer de volta temas musicais clássicos de versões anteriores, que aparecem em combates específicos, remasterizados. Outro ponto interessante é que já começaram ousadamente apresentando 50 personagens sem DLC ou destravamento, todos disponíveis desde o lançamento.
Certamente ainda existem muitas coisas a serem melhoradas, como os gráficos que parecem aquém desta geração, mas a diversão está mantida e este é o principal em qualquer jogo, principalmente em se tratando deste clássico que inspira não só os campeonatos competitivos pelo mundo, mas os criadores Indie também com tantos fatores novos e nostálgicos.
Decepcionando os mais pessimistas, King Of Fighters XIV representa o renascimento da saga que trouxe ao segmento de jogos de luta o status de cultura específica, com suas tramas complicadas, grande variação de personagens com estilos de lutas variados, sistema de combate avançado, mas amigável, e até os modelitos que sempre mudam e chamam a atenção.
Se você está inseguro ainda, recomendo baixar a demo grátis na PSN e testar os sete personagens disponíveis, não se deixando influenciar por reviews e opiniões pessoais de todo tipo. Tire suas conclusões ao experimentar este jogo de luta que nos remete ao sentimento de ver um velho amigo voltar depois de tanto tempo ausente.