Trine 4: The Nightmare Prince

por Caio Vicentini

Um conto de fadas digno

Trine 4: The Nightmare Prince é o novo jogo da Frozenbyte, que conta com o retorno de ótimos puzzles, belos visuais e um combate que não faz jus ao restante do pacote oferecido. Diferentemente do antecessor, este volta a ser um título de visuais em 3D, mas com as mecânicas voltadas para a perspectiva 2.5D, como era nos anteriores. Então, nada de brigar com os controles para levar um objeto para o fundo do cenário.

Falando nisso, a direção de arte do jogo é impecável no que tange transmitir a ideia de estar em um conto de fadas jogável. Cada fase é distinta com sua temática e os artistas tiraram o máximo de proveito de sua experiência com outros jogos para tornar Trine 4 o mais visualmente deslumbrante de todos, mesmo na versão de Switch, que claramente faz algumas concessões para conseguir rodar sem travamentos no modo portátil. Desde as partes tangíveis do cenário como as salas que os personagens entram até mesmo os backgrounds, todas são de um trabalho excelente de ambientação.

Toda essa fábula tem um contexto simples que funciona, mesmo sendo apenas uma desculpa para quebrar a cabeça com os obstáculos do jogo. A trupe é reunida dessa vez para resgatar o príncipe Selius, que ao entrar em contato com magias malignas, acaba por materializar os seus maiores medos, como também daqueles que vivem no reino. Assim, monstros em formas de lobos, aranhas e outros começam a aterrorizar os camponeses. Não existem muitas reviravoltas na história e tudo segue de maneira mais ou menos linear, mas é mais uma peça importante para criar a ambientação fantástica do jogo.

Em meio a esse conto de fadas em movimento, o jogador poderá tomar controle de três heróis, cada um com um leque de habilidades. Pontius, o cavaleiro, pode cortar e quebrar superfícies frágeis, além de seu escudo refletir projéteis e rajadas; a arqueira Zoya cria pontes com cordas amarradas à sua flecha, como também usa flechas especiais para congelar ou queimar elementos; por último, o mago Amadeus pode levitar objetos como também conjurar um cubo que serve para uma infinidade de coisas.

Ainda que com algumas dessas descrições pareça que o jogo é um plataformer de combate, o foco da série sempre foi a resolução de puzzles. Com o uso inteligente das virtudes de cada personagem, os maiores obstáculos são, na verdade, cerebrais, exigindo mais raciocínio lógico que reflexos para finalizar as fases.

Trine 4 é um jogo para quem quer algo menos caótico e mais cerebral. Os puzzles e a ambientação são o forte do game, enquanto os poucos trechos de combate não recebem a mesma atenção.

Caso o jogador esteja sozinho em uma campanha, precisará transitar entre os personagens e fazer uso de suas habilidades, como, por exemplo, quebrar uma parede com Pontius, que revela uma caixa que Amadeus pode levitar, criando um espaço propício para Zoya jogar sua flecha com corda e escalar um obstáculo. É um exemplo simplório, mas que serve para explicar como é a sinergia do jogo que, se tratando de puzzles, funciona muitíssimo bem.

Nenhum enigma pareceu injusto ou muito difícil, mesmo aqueles que eu não conseguia solucionar e acabava tendo de procurar pela solução online. Eles sempre me traziam aquela sensação familiar de “porque eu não pensei nisso?”. A sinergia entre os personagens funciona de forma muito orgânica e sempre parece que todos têm sua importância em pé de igualdade com os outros.

Ainda que o foco do jogo não seja o combate, ele ainda existe e é possível perceber que o esmero aplicado nos puzzles não se refletiu nessa parte, que parece ser mais uma inserção de última hora do que algo planejado desde o início. Não existe algo necessariamente ruim nele, mas é evidente o contraste na qualidade das sessões de puzzles com as partes de luta.

Os personagens contam com algumas habilidades ofensivas que podem ser melhoradas ao longo da campanha, mas sempre pareciam ser desajeitadas de se usar, com a exceção de Pontius, que tinha uma facilidade de desferir golpes rápidos nos inimigos. O combate é simples demais e, por conta da falta de variação, mesmo com três personagens disponíveis, acabou sendo repetitivo e representando uma quebra de ritmo em relação aos outros segmentos.

Felizmente, o jogo tem consciência de que o seu forte está nos puzzles a serem resolvidos nas sessões de plataforma, então, essas breves sessões de combate não são tão frequentes a ponto de prejudicarem a experiência como um todo.

No geral, Trine 4: The Nightmare Prince é um jogo para quem quer algo menos caótico e mais cerebral. Os puzzles são divertidos e a dificuldade deles é na medida certa. O combate incomoda um pouco, mas não é nada que torne a experiência ruim, ainda que seja um ponto baixo bem pontual na experiência.

O jogo foi testado no Switch, em cópia cedida pela Modus Games.