Está chegando o final de ano, época de amigo secreto, presentinhos e muita comilança. E nas brincadeiras de amiguinho oculto, muitos optam por livros, normalmente baratos e acessíveis para todos os tipos de público. É pensando nisso que faço aqui minha primeira indicação literária dessa coluna, a obra de Ernest Cline chamada “O Jogador Número Um”.
Se você é fã de Star Wars, talvez já tenha ouvido falar sobre outro trabalho de Cline, a comédia Fanboys, de 2009, onde um grupo de fãs da saga espacial se aventura em uma viagem para garantir que o amigo, moribundo, tenha a chance de assistir ao Episódio I antes de sua morte, cuja previsão era para antes da estreia do filme.
Em sua estreia no universo literário, o autor continua fortemente ligado ao passado. Apesar de contar uma história futurista, “O Jogador Número Um” fala muito de nostalgia. No ano de 2044, a escassez de recursos naturais, a altíssima poluição nas cidades e o distanciamento pessoal entre as pessoas levou todos a se refugiarem em um jogo online chamado, convenientemente, de Oasis. A galera trabalha, se relaciona e, praticamente, vive lá dentro, reduzindo ainda mais o contato com o mundo real.
As coisas mudam um pouco quando o criador do título, James Halliday, morre e, em seu testamento, afirma que existe um easter egg muito bem escondido no jogo. Quem o encontrar terá direito não apenas a se tornar o diretor da corporação que regula o Oasis, mas tambem será o herdeiro de toda sua fortuna. Desnecessário dizer que a notícia criou toda uma nova categoria de jogadores, que vivem em função de encontrar o “Ovo”. Mas após cinco anos de buscas infrutíferas, muitos começaram a perder o interesse e até mesmo desconfiar que ele realmente exista.
É aí que entra o protagonista adolescente, Wade Watts, que se depara meio que sem querer com a primeira parte do segredo. A notícia coloca toda a procura em evidência novamente, além de atrair o personagem para o centro dos holofotes e colocá-lo na mira de pessoas muito perigosas, dentro e fora do Oasis. Na sequência, o que temos é uma sequência de aventuras, desilusões e muita, muita nostalgia.
Não se engane com a descrição inicial do livro, que apesar de ter cara de infanto-juvenil, é completamente voltado para os mais velhinhos. Não é como se ele tivesse cenas de sexo e violência extrema ou perturbadora, até porque elas não existem, mas sim, por toda a pegada anos 80, neon, fliperamas e poeira que permeia as muitas e muitas páginas da publicação, de leitura rápida.
É engraçado notar que coisas da nossa infância (falo com vocês que já estão nas proximidades dos 30), no livro, parecem ser de outro mundo ou um mistério gigantesco. Os jogos que jogávamos e, muitas vezes, nem gostávamos, se tornaram relíquias e pistas extremamente valiosas, enquanto o mundo dos quase zero bits se transforma completamente dentro de um ambiente online gigante e bastante semelhante com muita coisa que temos visto hoje em dia.
A semelhança imediata é com Second Life e, por muito tempo, bastante gente acreditou que esse seria, realmente, o futuro do game: uma comunidade online semelhante à vida real, só que melhor, onde as pessoas ganhariam dinheiro, descobririam amores e manteriam relacionamentos, tudo mantendo em sigilo suas verdadeiras aparências e sem sair de casa, nem tirar o pijama.
Vale a pena dar uma olhada. Eu não costumo ler muito por simples falta de tempo, mas “O Jogador Número Um” foi um livro que me manteve extremamente ligado nas páginas, principalmente depois de seu primeiro terço. Para quem tem preguiça, ele também vai virar filme pelas mãos da Warner Bros. O roteirista Zak Penn, de “Os Vingadores” e da antiga saga cinematográfica dos X-Men, será o responsável pelo argumento, ao lado de Cline.
No Brasil, o livro chegou em 2012 e, em uma pesquisa rápida, consegui encontrá-lo em grandes varejistas por preços abaixo de R$ 20. Vale cada centavo.