Existem jogos que sobrevivem com glória às barreiras do tempo, e mesmo décadas depois de seu lançamento, ainda são capazes de entreter, seja pela inovação mostrada na época ou por seu gosto de nostalgia. Mas são poucos que, ao serem colocados frente a frente com jogos atuais, conseguem bater de frente e, acima de tudo, vencer, quanto o assunto é profundidade, jogabilidade e conjunto visual. Resident Evil Remake é um exemplo desse segundo tipo.
A diferença é que, ao contrário de outros hors concours da saga, como RE2, este não era exatamente um jogo lá muito acessível. Fruto de um acordo de exclusividade firmado no início dos anos 2000 entre a Capcom e a Nintendo, o título, até agora, estava disponível apenas para GameCube e Nintendo Wii. Mas tudo mudou em 2014, quando a desenvolvedora finalmente anunciou que ele chegaria a mais consoles e realizou o sonho de milhares de fãs.
O resultado desse relançamento, chamado agora de Resident Evil HD Remaster, é uma melhoria bastante significativa em algo que já era muito próximo do perfeito. Um jogo com mais de 12 anos de idade que já podia bater de frente com muito lançamento do ano passado mesmo em sua versão original, e agora, aparece com muito mais força para nos lembrar dos bons e velhos tempos da saga.
É um tanto quanto desnecessário falar aqui sobre os aspectos que tornaram Resident Evil Remake um clássico. A ideia de reimaginar o título que começou toda a franquia surgiu a partir de uma necessidade de adequar a história aos rumos que ela seguiu depois de CODE: Veronica, mas a Capcom não parou por aí. Com as alterações no enredo, vieram também uma das melhores jogabilidades e os gráficos mais belos de toda a saga.
O maior trunfo aqui não é a remasterização propriamente dita, e sim, o fato de o jogo, agora, estar disponível para toda uma nova parcela de jogadores.
Usando com criatividade os recursos do GameCube, Shinji Mikami e sua equipe transformaram a já imponente mansão de Spencer em um local muito mais ameaçador. A ambientação é incrível, com relâmpagos a todo o momento, árvores batendo nas janelas, fogo crepitando, insetos pousados nas luzes, marcas nas paredes e até poeira voando sob os pés do personagem. Uma riqueza de detalhes como existem poucas na indústria.
Em alta definição, tudo aparece ainda melhor e mais bonito. Mesmo tendo de refazer alguns dos cenários para essa remasterização, todos aparecem exatamente como eram no game original. O aumento de resolução, o aspecto de tela widescreen e os movimentos de câmera inéditos que vieram com tudo isso dão ainda mais destaque no que importa, revelam novos detalhes da assustadora casa e, acima de tudo, firmam ainda mais o status de Resident Evil Remake como o mais belo da franquia. Se puder, jogue em um console da nova geração e prepare-se para ficar impressionado.
Quanto ao conjunto gráfico, vale apenas uma única ressalva. Repetindo um erro já cometido no passado, a Capcom não retrabalhou as cutscenes do jogo. Assim, abertura, finais e alguns poucos vídeos no meio da aventura aparecem em baixa resolução e com as cores lavadas, aparecendo especialmente esquisitas nos consoles de nova geração. São trechos de poucos minutos, mas que se tornaram tão icônicos quanto todo o resto e, aqui, destoam do exímio trabalho de remasterização feito em todo o restante do título.
No restante, tudo continua idêntico às versões originais, não que precisasse de alterações. A adição de um sistema de conquistas vai levar muita gente a virar o título de cabeça para baixo novamente, como se os visuais em alta definição e a altíssima qualidade do game em si já não fossem motivos suficientes para isso.
Em alta definição, tudo aparece ainda melhor e mais bonito. A remasterização firma ainda mais o status de Resident Evil Remake como o mais belo da franquia.
Um dos motivos que sempre dou quando afirmo que não quero nem ver um remake de Resident Evil 2 é a possibilidade de algo acabar sendo estragado no processo. Temos, hoje, pessoas muito diferentes trabalhando na Capcom e, na conversão de um jogo do passado para o presente, muito pode se perder pelos mais diversos motivos.
E em Resident Evil HD Remaster, isso acontece no conjunto de controles, mas felizmente, apenas nas versões asiáticas, território de onde virão as cópias físicas que muita gente preferiu, no lugar da versão digital do Ocidente. Por desatenção, falta de cuidado ou seja lá qual for o motivo, não existe nenhuma opção de comandos igual à utilizada na franquia desde 1996 e consagrada até mesmo nos jogos mais recentes, quando apesar da mudança para um estilo mais focado na ação, o funcionamento dos botões continuou semelhante.
Essas mudanças pontuais vêm para deixar tudo diferente. Em uma das opções, a mais aproximada do estilo clássico, a Capcom separou o botão de coleta de itens e abertura de portas daquele usado para confirmar itens ou selecioná-los dentro do inventário, que agora é ativado com o quadrado, ou X no Xbox 360. Em outro, andar para a frente é feito com o Bola, ou B no aparelho da Microsoft, enquanto a corrida é ativada com dois pressionamentos simultâneos do botão. Simplesmente bizarro, e se você é um fã veterano, pode se preparar para, praticamente, aprender a jogar tudo de novo.
Apesar dos novos visuais serem o principal destaque aqui, o maior trunfo de Resident Evil HD Remaster não é a remasterização propriamente dita, e sim, o fato de o jogo, agora, estar disponível para toda uma gigantesca nova parcela de jogadores. Seja você um fã da série que nunca pôde colocar as mãos nele por causa de exclusividade, um novato que conhece a franquia apenas de RE4 em diante ou alguém que nunca jogou nenhum deles, este é um jogo altamente recomendado.
Vendido por um preço mais baixo que lançamentos tradicionais e disponível nas redes online e disponível em praticamente todas as plataformas atuais, não existe desculpa para que você deixe de experimentar o jogo. Para os fãs, é a melhor coisa que poderia ter acontecido. E para todos os outros, é uma amostra dos áureos tempos de Resident Evil e de uma época em que os jogos de terror não confiavam nos jump scares para assustar o jogador.
Resumindo, temos aqui um dos melhores games de horror de todos os tempos, agora ainda melhor e mais acessível. Resident Evil Remake não precisa de explicações e é o tipo de jogo obrigatório para todos os gamers.
O jogo foi analisado nas versões PlayStation 4 e PS3.
Atualização 15/01 14h47: A análise foi atualizada com a chegada das versões ocidentais e de nova geração do game, que não trazem o mesmo problema de controles da edição japonesa.