Schrödinger's Cat and the Raiders of the Lost Quark

por Felipe Demartini

Uma boa ideia e nada mais

Uma das principais características que chamam a atenção para um bom game independente é a inventividade. Longe das pressões das grandes companhias e ao largo do chapéu pesado e opressor de uma gigantesca franquia, os pequenos desenvolvedores têm espaço livre e terreno fértil para criar.

Alguns criam coisas completamente inéditas, enquanto outros apostam no retorno de ideias antigas. Um terceiro grupo, talvez o mais interessante de todos, mistura tudo isso na criação de algo que tem gosto de passado, mas apresenta elementos novos que tornam tudo mais instigante. É justamente dessa turma que faz parte a desenvolvedora Italic Pig e seu mais recente game, Schrödinger’s Cat and the Raiders of the Lost Quark.

Como o nome já diz, a grande pira aqui é a física, mas não de forma a enrolar sua cabeça. A ideia é utilizar a diferença entre elementos, conceitos e teorias para criar um ambiente completamente fora da nossa realidade. Estamos no Zoológico das Partículas. Tudo aqui deu errado e, agora, é responsabilidade do Gato de Schrödinger colocar tudo de volta em seu lugar. Afinal de contas, como ele veio do mundo exterior, é soberano aqui, mesmo sem saber exatamente o que está fazendo com sua vida.

Criativo…

Olhando por cima, Schrödinger’s Cat and the Raiders of the Lost Quark pode se parecer com um game de plataforma tradicional, uma mistura do estilo interessante e cartunesco da série Rayman, da Ubisoft, com o humor e a bizarrice de clássicos como Bubsy, por exemplo. No cerne de sua jogabilidade, porém, estão os quarks, responsáveis pelo principal aspecto que faz com que esse indie seja digno de atenção.

Cabe ao jogador escolher a melhor forma de ação e pensar em como seguirá em frente, utilizando os recursos que estão à sua disposição.

Na física, os quarks são as partículas essenciais da matéria, que se fundem para formar prótons e nêutrons, por exemplo, compondo os núcleos atômicos. Já no jogo, eles são os responsáveis por te levar adiante através dos obstáculos, seja protegendo o gato, quebrando paredes ou criando plataformas para que ele possa acessar lugares altos.

Disponíveis nos botões de ombro do controle, eles se unem em grupos de três e, na medida em que o jogador vai avançando, vão ganhando mais e mais propriedades. Unir quarks que levam o personagem para cima com outros que criam plataformas, por exemplo, é capaz de dar origem a uma versão móvel delas. A bolha de proteção, quando unida a um elemento de destruição, por exemplo, cria uma granada que pode ser jogada à distância. E por aí vai.

Schrödinger's Cat and the Raiders of the Lost Quark

Os cenários não-lineares também trabalham a favor da jogabilidade. Uma solução nunca é absoluta e os quarks estão espalhados em diversos locais diferentes dos cenários. Cabe ao jogador escolher a melhor forma de ação e pensar em como seguirá em frente, utilizando os recursos que estão à sua disposição e experimentando com as combinações para obter diferentes resultados. Quase como em um experimento científico.

…porém, distrativo

Sendo assim, é triste pensar que a grande falha de Schrödinger’s Cat and the Raiders of the Lost Quark também aparece neste aspecto. Na mesma medida em que apresenta os cenários abertos e com diversas possibilidades, o game não é muito claro em mostrar até onde, exatamente, o jogador precisa chegar.

Muitas vezes, você terá certeza de que está seguindo em frente para, pouco depois, perceber que deu a volta e retornou para onde tudo havia começado.

A ideia não é que o título seja linear, mas sim, que nos instigue a experimentar com o cenário. Sabendo o que precisamos fazer, mas ao mesmo tempo, querendo perder horas explorando cada espaço e vendo todas as possibilidades apresentadas. Não é o que acontece aqui, já que, muitas vezes, você terá a certeza de que está seguindo em frente para, pouco depois, perceber que deu a volta e retornou para onde tudo havia começado.

Essa falta de direcionamento também se aplica no roteiro, que traz piadas batidas e que não seriam cômicas nem mesmo nos piores episódios de “The Big Bang Theory”. Temos também um problema sério de coesão – o Gato de Schrödinger sabe tanto quanto nós sobre o que está acontecendo no Zoológico das Partículas, e coleta suas informações com guardas e outros personagens espalhados pelo cenário.

Schrödinger's Cat and the Raiders of the Lost Quark

O problema é que, a cada novo encontro e diálogo, muitas informações são repetidas e até mesmo algumas das tiradas acabam sendo feitas novamente. A vontade, quase sempre, é avançar o diálogo, mesmo sabendo que, em meio a todo aquele blablabla, está a informação de que precisamos. Um desafio nada agradável para sua paciência.

Levando esses dois aspectos gritantes em consideração, Schrödinger’s Cat and the Raiders of the Lost Quark termina na média. É um título com uma proposta interessante e que poderia ser muito mais divertido caso fosse tão bem executado em seus outros aspectos. Infelizmente, não é o que acontece aqui, e o título da Italic Pig deve acabar fadado ao limbo em meio a outras propostas independentes melhores e, acima de tudo, com divulgação bem maior.

O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Italic Pig.