Quem acompanhou a E3 2018 viu, no palco da conferência da Electronic Arts, um Martin Sahlin bem mais seguro de si. Longe da tremedeira e do nervosismo demonstrado durante o anúncio do primeiro jogo de sua desenvolvedora, a Coldwood, o produtor sueco apareceu logo no comecinho de evento para revelar que o sonho e os rumores, sim, eram reais, e o melhor de tudo, estavam disponíveis imediatamente.
É esse amadurecimento, também, que podemos perceber em Unravel Two. Lançado ainda durante a apresentação da Electronic Arts, o game vem como mais um expoente de um estilo que muitos consideravam morto. É a representação de que o poder da amizade pode mudar as coisas, mas também, a fixação de uma companhia tão mal falada como uma das principais expoentes do bom e velho coop de sofá.
O jogo traz o mesmo estilo contemplativo do anterior, com belos cenários fotorrealistas servindo para representar uma jornada íntima e pessoal. Desta vez, em vez do fio condutor ser o da vida, que nos leva adiante passo a passo e geram consequências de acordo com o que ficou para trás, o grande mote é a união, com a lã não mais sendo deixada pelo cenário, mas sim, conectando um personagem (ou jogador) a outro.
É a partir de uma projeção da história dos dois protagonistas, também, que se desenrola uma trama paralela, mas menos sutil que a do antecessor. Enquanto o primeiro Unravel tratava de memórias e deixava o próprio jogador preencher muitas lacunas com suas próprias, esta sequência é um pouco mais direta ao ponto, mas com uma vagueza que não necessariamente abre espaço à exploração e imaginação.
O que vemos é a saga de dois garotos e temas como abuso familiar e uma fuga se desenrolando na medida em que os dois Yarnys seguem adiante, pelos menos cenários pelos quais os jovens passaram. No primeiro, o fio era das memórias de uma senhorinha, agora, ele pode ser uma alegoria para a união entre a dupla em um momento de dificuldade extrema. Mas as interpretações meio que param por aí.
Unravel Two continua a saga do antecessor, agora, de maneira cooperativa e mais objetiva. É um game sobre laços e a resiliência necessários para seguir em frente.
A jogabilidade também se tornou mais direta ao ponto. Com dois personagens na tela, os enigmas também se tornaram um pouco mais complexos, mas não complicados. Ao contrário do primeiro, cuja dificuldade na medida podia complicar um pouco a vida daqueles que agissem sem pensar muito, o segundo traz um desafio um pouco menor, mas com muito uso da cooperação.
Essa objetividade também se traduz em colecionáveis mais fáceis de serem coletados, mas ao mesmo tempo, novos modos e extras que aumentam o fator replay. Todos os estágios possuem um modo cronometrado, em que o tempo é um fator importante, assim como o número de mortes ou a ausência delas. Fases adicionais adicionam um desafio avançado, com quebra-cabeças mais complicados que os vistos no game central, com novas cores e modelos para os Yarnys sendo liberados em troca.
A boa notícia para os mais solitários é que, apesar deste foco, dá para jogar Unravel Two sozinho perfeitamente, com os protagonistas sendo capazes de se fundirem ou, então, controlados um de cada vez. De dois, entretanto, a jogabilidade se torna bem mais interessante e a resolução dos desafios muito mais rápida.
O novo título não representa um grande avanço em relação ao antecessor e nem traz grandes inovações – e nem precisava ser assim. É o retorno tão pedido de um personagem que se tornou querido pela simplicidade
Justamente por isso, chega a soar estranha a ausência de um modo online. Dá para dizer que o lag seria um motivo aqui, apesar de uma boa saúde dos servidores resolver esse problema facilmente. Mais provavelmente, a Coldwood optou por seguir um caminho semelhante ao de A Way Out, com a jogatina entre amigos sendo mais uma metáfora para os laços que são criados nas telas, entre os dois Yarnys. Vale a pena lembrar, entretanto, que o game de Josef Fares trazia o gameplay conectado, mas somente entre contatos adicionados.
A saga, no final, é de objetividade e resiliência. É, também, uma demonstração de aprendizado, principalmente, sobre saber fazer o melhor com as ferramentas que se tem em mãos (apesar de as trilhas calmas, mas repetitivas do original terem retornado). O novo título não representa um grande avanço em relação ao antecessor e nem traz grandes inovações – e nem precisava ser assim.
A mudança de abordagem em termos de enigmas traz o sopro de ar fresco necessário para que o game não seja um mero repeteco, ao mesmo tempo em que atende aos anseios de quem ficou querendo mais depois do primeiro. Acima disso, é o retorno tão pedido de um personagem que se tornou querido pela simplicidade não apenas de si mesmo, mas também de seus realizadores.
A Coldwood continua sendo um estúdio pequeno, mas que soube ocupar seu espaço não apenas no imaginário dos jogadores, mas também dentro de uma estrutura corporativa que privilegia as grandes franquias. Yarny é miúdo, assim como Unravel Two, diante de nomes como FIFA e Battlefield. Mas tamanho não é documento, como a dupla, agora, faz muita questão de mostrar.
A marca EA Originals foi iniciada com o primeiro jogo do protagonista e deu origem a outras pérolas como A Way Out e Fe. Unravel Two é mais uma destas, um título intimista e menor, mas com vontade de gente grande. Um ótimo sinal não apenas para a Coldwood e a EA, mas para toda a indústria dos games.
Unravel Two foi analisado no PS4, em cópia cedida pela Electronic Arts.