Os fãs da velocidade que já estão nos consoles de nova geração passam por uma grande carência. A coisa fica ainda mais feia quando se fala em simuladores, com Forza Motorsport 5 sendo o único expoente, exclusivo para o Xbox One, e levantando controvérsias quanto à sua faceta mais realista. Enquanto isso, a oferta de volantes também é escassa, com os únicos disponíveis, da Thrustmaster, sendo exclusivos para o PS4.
Depois de muita expectativa e ainda mais atrasos, chega o game que, para muita gente, mudaria esse cenário. Com Project CARS, a desenvolvedora Slightly Mad Studios trabalha da maneira que sempre desejou, longe das amarras previstas por parcerias com distribuidoras ou marcas.
Mais do que isso, faz isso de forma diretamente conectada ao público – não apenas ouvindo as palavras deles, mas também permitindo que eles participassem ativamente de seu desenvolvimento. O resultado de tudo isso é um título incrivelmente completo, cheio de detalhes e nuances que, infelizmente, podem acabar passando despercebidos por boa parte do público.
A primeira e principal dica que precisa ser dada para quem quer jogar Project Cars é: tenha um volante. Aqui, ao contrário de outros simuladores e games de corrida, o acessório é essencial não apenas para se ter uma experiência completa, mas também para perceber tudo aquilo que o game é capaz de proporcionar. O título é ajustado especificamente para esse fim, e no controle, não proporciona a melhor das jogabilidades.
A primeira e principal dica que precisa ser dada para quem quer jogar Project Cars é: tenha um volante.
Esse ponto é, ao mesmo tempo, uma qualidade e um defeito. Com um bom acessório, dá para sentir até mesmo as imperfeições do solo. Sem ele, muitos veículos podem se tornar bem complicados de se dirigir, principalmente com as assistências desligadas. O jogo exige dedicação e você vai bater algumas vezes até se acostumar com seu funcionamento.
Os usuários de joysticks convencionais poderão sentir falta, entre outras coisas, da sensibilidade maior dos pedais. Em alguns carros, principalmente nos mais antigos, afundar o pé no acelerador nem sempre é uma boa opção e pode fazer com que o veículo perca o controle até mesmo em uma reta. O mesmo vale para os freios. Trabalhar com isso tudo nos controles pode acabar sendo bem complicado.
Sobre os auxílios de direção, vale a pena mais um comentário, já que são eles os responsáveis por facilitar a entrada de muita gente nos games de corrida. A falta de uma graduação, aqui, faz diferença, já que como somente é possível ativá-los ou não, os jogadores acabam sem uma curva de aprendizado. Ou o carro freia para você, ou não existe nenhuma ajuda nesse sentido, e você terá que aprender a pilotar na marra.
Com tudo isso, fica claro que Project Cars é um game feito para os apaixonados não apenas pela velocidade, mas também pela simulação, e que já possuem experiência em games do tipo. Quem já manja dos paraneuês não vai perder muito tempo. Project Cars não se preocupa com sistemas de progressão, e desde o começo, permite que o jogador corra tanto online quanto offline utilizando qualquer carro ou pista disponível no game.
Da mesma forma, no modo carreira, poderá iniciar em qualquer categoria, sem precisar galgar os degraus de um piloto iniciante. Se você quiser, pode sim começar nas categorias de base, dirigindo os incontroláveis karts que exigem precisão e cuidado, ou então, se preferir, voar a mais de 350 quilômetros por hora usando um protótipo que parece prestes a levantar voo.
Mas isso não significa que você ficará até o final dirigindo os mesmos carros, ou terá que esperar o final da temporada para pilotar novos. Ao longo da carreira, o jogador é prestigiado com eventos especiais e convites para outras provas que trazem a variação necessária ao game, além de um toque de humildade – de um monoposto, você pode se ver dirigindo um Escort dos anos 70 na corrida seguinte, e lutando contra o peso de um automóvel que insiste em não fazer curvas.
Nos quadrinhos, Senninha tinha boa parte de suas aventuras acontecendo contra seu grande rival Braço-Duro, que não se importava com nada além de vencer. Em Project Cars, você é como o personagem mocinho, e muitas vezes, vai sentir que está competindo contra toda uma tropa de clones do vilão.
O cuidado apurado da Slightly Mad Studios com a sensibilidade dos carros e o controle, por outro lado, não transpareceu na programação da inteligência artificial dos oponentes. Eles dirigem como se você não estivesse lá, obrigando o jogador a perder segundos preciosos de tempo de prova por ter de se preocupar não apenas com a própria pilotagem, mas também com a dos outros.
Não é como nas partidas online, em que curvas são apenas um detalhe e a coisa toda mais se parece um Twisted Metal sem tiroteio do que um game de simulação. Mas ainda assim, não dá para não ficar triste ao ver aquele tempo perfeito ou uma posição que você sofreu para ganhar perdidas por causa de um adversário que acha que está participando de um filme da série “Mad Max”.
O cuidado apurado da Slightly Mad Studios com a sensibilidade dos carros e o controle, por outro lado, não transpareceu na programação da inteligência artificial dos oponentes.
Caso isso não tenha ficado claro até aqui, Project Cars é um game de simulação. E é justamente nesse aspecto que a desenvolvedora focou todas as suas atenções, acabando por deixar a desejar em outros aspectos, como o visual. Não é como se os gráficos fossem ruins, pelo contrário, eles estão entre os melhores dos games multiplataforma, mas não dá para deixar de notar que o PS4 e o Xbox One, principalmente, poderiam dar muito mais.
Pelo menos quando o assunto é performance, algo essencial para um jogo de velocidade e precisão, Project Cars não faz feio. O título pode até não rodar a 60 quadros por segundo e com resolução 1080p nos consoles, mas ao mesmo tempo, não apresenta quedas de frames em momento algum. Os modelos de veículos tem qualidade, assim como as pistas, e o conjunto visual é bastante coeso.
É possível perceber também alguns bugs, que acontecerão aqui e ali. Durante nossos testes, por exemplo, o som dos motores foi desativado automaticamente ao início de uma corrida, por motivos misteriosos, enquanto mexíamos na interface de usuário. Em outro, durante uma grande batida, carros começaram a atravessar uns aos outros, em um resultado até divertido, mas meio errado.
Project Cars é um título incrivelmente completo, cheio de detalhes que, infelizmente, podem acabar passando despercebidos por boa parte do público.
Em um mundo que é dominado por grandes franquias, Project Cars chega como o sopro de ar fresco necessário. Não é exatamente o game que vai conquistar a todos, mas passa longe das amarras de jogos como Gran Turismo, extremamente tradicionalista, e Forza Motorsport, com aspectos mais amigáveis para a simulação. Aqui, a Slightly Mad cria algo único e, acima de tudo, orgânico.
A recomendação de jogar com um volante vai bem além da qualidade na pilotagem ou nos motores físicos que movimentam a simulação. Há também um fator difícil de ser descrito em Project Cars, e que só será percebido por aqueles que realmente apreciam o mundo da velocidade. Uma pequena inércia, aquela mudança sutil que um pequeno toque no volante, em alta velocidade, é capaz de proporcionar, ou ver o bico do seu carro levantando do chão em uma reta a 300 km/h. Pilotar em um video game, poucas vezes, é tão divertido assim.
O game foi analisado no PlayStation 4, em cópia cedida pela Bandai Namco.