O mundo não é mais o mesmo, mas estranhamente, se parece bastante similar com aquilo a que estamos acostumados. A Terra foi invadida e os alienígenas venceram a batalha, entretanto, parecem benevolentes a ponto de manterem o nosso estilo de vida. Quem foge dos trilhos instalados pelos invasores, entretanto, sofre com o braço forte da lei imposta por aqueles vindos de fora.
É um planeta que se vê abatido, derrubado, completamente subjugado à vontade de terceiros. E enquanto a maioria das populações aceita tudo aquilo como uma rotina, a ponto de, muitas vezes, o papel de “invasores” dos alienígenas chegar a ser questionado, um pequeno grupo, agora visto como rebelde, ainda confia na possibilidade de fazer com que tudo volte a ser como era.
E é com apostas mais altas, inimigos mais perigosos e desvantagem ainda maior que XCOM 2 começa. Após uma sequência de resgate que serve para ambientar o jogador e exibir algumas novidades, o título o deixa livre para seguir em frente da forma como preferir, mas sempre deixando algo muito claro – por mais que se tenha a capacidade de reagir, esta continua sendo uma batalha na qual nós, os humanos, estamos perdendo.
XCOM 2 se comporta basicamente como seu antecessor no que toca a jogabilidade. Aqui, ainda temos o bom e velho sistema estratégico baseado em coberturas, com o posicionamento do personagem não somente pelo mapa, mas também por trás de elementos dele, sendo a chave para a vitória. Saber usar as classes de soldados e o terreno em favor próprio é essencial para vencer os inimigos.
Na sequência, entretanto, a desenvolvedora Firaxis acrescenta alguns truques novos que não apenas dão novas armas no combate, como também criam mais oportunidades estratégicas. As classes de personagens continuam semelhantes às do passado, mas agora, elas ganharam novos apetrechos, como um drone que pode tanto atacar quanto proteger aliados ou uma poderosa espada capaz de desferir grande dano aos alienígenas, em troca de um contato bem mais próximo com eles e possíveis problemas no turno seguinte.
Ao iniciar a maioria das missões, também, o jogador estará operando de maneira furtiva. Por mais que em uma cutscene os soldados tenham descido de naves bastante barulhentas, sem cerimônia alguma, eles ainda assim não foram vistos pelos inimigos. Isso permite a criação de emboscadas, com os inimigos sendo flanqueados e aniquilados rapidamente sem que percebam que isso está acontecendo, ou até mesmo a realização de objetivos de forma silenciosa, sem combate.
Levando em conta o caráter de rebelião e resistência em que somos colocados, a adição faz sentido, mas se apresenta como um desafio a mais para os jogadores. Obter sucesso em uma missão de extração de dados, por exemplo, sem disparar um único tiro é bastante difícil, principalmente pelos movimentos erráticos dos oponentes. A habilidade de cada um continua dando o tom de todas as fases em XCOM 2.
A estratégia também ganhou mais relevância quando se lida com a base de operações e o mapa do mundo. Como no anterior, é preciso recursos e pessoal para manter a operação em andamento, e aqui, o gerenciamento de tempo será essencial. Coisas estão acontecendo o tempo todo, e assim como você avança no desenvolvimento de novas armas ou tecnologias para as missões, os alienígenas também estão fazendo o mesmo, realizando ataques ou explorando o mundo em busca de recursos.
Mesmo cheio de problemas, XCOM 2 é um bom game de estratégia e mostra que existe muito espaço para o gênero nos consoles de mesa, normalmente deixados de lado pelas produtoras.
Sendo assim, enquanto está em uma missão de exploração que leva alguns dias, o jogador pode ter seus esforços interrompidos pela chegada de uma nave alienígena, que exige uma manobra evasiva. Ou, então, ser surpreendido com um chamado de socorro de rebeldes aliados. Cabe a cada um fazer uma escolha, de acordo com as próprias necessidades – o melhor é continuar buscando recursos ou ajudar os companheiros, em troca de novos soldados ou especialistas?
E, principalmente, como tais decisões vão interferir no longo prazo e no objetivo principal, que é recuperar a Terra?
O senso de urgência é evidenciado por uma quantidade bem maior de cutscenes e diálogos em relação ao antecessor. Por mais que tais cenas não indiquem o caminho a seguir nem demonstrem o andamento da história de forma linear, XCOM 2 mostra, sim, estar mais preocupado com o enredo e, por mais que ainda permita que o jogador tome as próprias decisões e siga como quiser, mostra que suas ações estão mais envolvidas em um contexto global e, sendo assim, carregam mais importância.
São tantos elementos, apostas e ameaças acontecendo ao mesmo tempo que XCOM 2 chega a ser um título pouco amigável para jogadores de primeira viagem. Quem jogou o primeiro pode se sentir em casa e aprender rapidamente a usar as novas armas que estão à disposição. Os outros, principalmente aqueles desacostumados a títulos de estratégia, entretanto, podem acabar se perdendo e tomando decisões por desconhecimento, afetando gravemente o progresso futuro do combate.
Ao mesmo tempo em que traz novidades e diversos elementos adicionais para uma jogabilidade que já era bastante interessante por si só, XCOM 2 também representa um retrocesso em termos técnicos. Pelo menos em sua versão para consoles, o título apresenta graves falhas de performance e exigirá bastante paciência dos jogadores devido aos altos períodos de carregamento.
XCOM 2 se comporta basicamente como seu antecessor, mas a falta de tutoriais que cubram todos os seus aspectos pode deixar os novatos bem confusos.
As quedas na taxa de frames estão em todo lugar, bem como os serrilhados nos cenários e personagens. Travamentos também acontecem em diversos momentos, seja durante as partidas ou nos momentos a bordo da base de operações. Aqui e ali, inimigos e soldados deixarão de carregar durante uma ação, ou simplesmente apresentarão comportamento errático, além de apresentarem problemas frequentes nas texturas.
O sistema de salvamento também não ajuda, com uma mecânica automática esquisita que cria diversos pontos de dados ao longo de uma mesma missão, nem sempre coincidindo com seu início. Esqueça também alguma forma de resetá-las manualmente caso cometa um erro.
Tais problemas aparecem em um game que não tem gráficos tão bons assim, ou seja, um que, pelo menos em teoria, não estaria exigindo tanta coisa do PlayStation 4 e Xbox One. Os carregamentos de missão, muitas vezes, chegam a ultrapassar a marca de um minuto, e são exigidos também quando o jogador decide carregar um salvamento antigo, mesmo que na mesma fase em que estava.
O sistema de progressão de soldados e as novas ameaças que aparecem a cada nova missão são interessantes o bastante para manter o jogador ligado por algumas horas, enquanto a customização de personagens permite a criação de laços emocionais com os soldados que vão a combate. O resultado dessa conta, então, é estritamente pessoal, cabendo a cada um decidir se vale a pena ou não esperar e lidar com as falhas.
Mesmo com seus problemas, XCOM 2 se mostra como um bom expoente do gênero e prova, novamente, que existe amplo espaço para a estratégia nos consoles de mesa, tradicionalmente renegados pelas empresas que produzem games do gênero.
O jogo foi testado no PlayStation 4, em cópia cedida pela 2K Games.