XCOM Chimera Squad

XCOM: Chimera Squad

por Felipe Demartini

Problemas de um mundo novo

A guerra ferrenha vista nos jogos anteriores, quem diria, parece ter encontrado um ponto de pacificação. Ou não, já que a ideia de que aliens e humanos podem conviver é rapidamente colocada à prova com um atentado à bomba, que coloca uma cidade modelo de coexistência em polvorosa. Enquanto diferentes grupos tentam levar à cabo suas ideias, ainda que de maneiras violentas, a cooperação e a estratégias permanecem sendo os caminhos para manutenção da ordem, como foi nos tempos da resistência, ou desde sempre, na realidade.

XCOM: Chimera Squad não é descrito pela desenvolvedora Firaxis Games como uma sequência, tampouco como um spin-off. Em um game exclusivo para PC, o foco se volta para uma maneira diferente de contar uma história e, também, de se jogar a clássica franquia de estratégia, que em suas versões mais recentes, se tornou um dos grandes pilares de sustentação do gênero.

O esquadrão híbrido que dá nome ao título serve como a introdução dos jogadores para todas as novidades trazidas pelo novo game. Logo nas primeiras missões, por exemplo, ficam expostas as novas classes, como um nem sempre útil protagonista com um escudo balístico e, também, o próprio fato de que XCOM, agora, tem personagens além de comandantes e mandatórios. Você estará indo para o combate, efetivamente, com os condutores dessa história, o que trouxe, também, um novo caráter de storytelling para a franquia.

Ficou de lado o permadeath dos anteriores e também os longos diálogos expositivos, substituídos por cutscenes em estilo quadrinhos, com imagens estáticas, mas muito bem dubladas. Do assassinato da líder da Cidade 31 aos desígnios de grupos religiosos ou terroristas que buscam a segregação ou a validade de suas ideias por meio do sangue, seguimos em uma trama que traz caráter político e social, um grande ponto positivo para Chimera Squad, apesar de a abordagem ser um bocado rasa.

XCOM Chimera Squad

O que falta em narrativa sobra em mecânicas, com o novo XCOM trazendo um conjunto de novidades. Destaque para o modo Breach, uma nova camada de estratégia antes do combate começar.

Sai, também, o centro de comando e entra a própria City 31, com o gerenciamento de setores sendo substituído por uma espécie de controle de ânimos. Como sempre, cada missão de XCOM ocupa um dia e, ao jogador, cabe administrar o clima do município diante das ações do Chimera Squad e também da sempre presente tensão política. Afinal de contas, em uma realidade em que discursos se chocam, as pessoas podem seguir caminhos opostos, mesmo que isso signifique acreditar nos malucos.

Medidores de tensão aparecem em diferentes zonas da cidade e podem ser reduzidos com a realização de missões, colocação de times avançados ou a realização de investigações. Aos poucos, a trama vai se desenhando até que o esquadrão se vê diante de um combate central e importante, bem como mais desafiador. Saber escolher as fases é essencial e, também, envolvem um balanço interessante entre recursos, objetivos e gerenciamento do caos na cidade.

XCOM Chimera Squad

Tal faceta, porém, depende que o jogador entre em um clubinho, já que XCOM: Chimera Squad carrega consigo o aspecto repetitivo dos anteriores, mas sem ser tão instigante quanto. Se antes o jogador estava em uma missão efetiva para impedir que os alienígenas aterrorizassem um local ou em busca do salvamento de um VIP, nesta nova versão, a descrição dos objetivos ganham um pouco de corpo – mas somente em texto, já que o andamento das batalhas costuma ser o mesmo.

Tirando exceções que variam entre escoltar uma pessoa de importância até a saída ou chegar a um ponto específico do mapa para ativar ou destruir um equipamento, a maioria dos confrontos de XCOM: Chimera Squad podem ser resolvidos com a aniquilação dos inimigos. Mesmo objetivos que soam importantes, como não deixar que determinados oponentes fujam, perdem validade quando o jogador percebe que dá para completar uma fase e seguir adiante mesmo sem eles. Após algumas horas de jogo, a sensação é de que o novo XCOM é um título sempre igual, com a diferença entre ficar entediado ou instigado dependendo do quanto o jogador se envolver com uma história que até tenta ser profunda, mas nem sempre consegue.

Laboratório

XCOM Chimera Squad

O que falta em narrativa, entretanto, sobra em mecânicas, com o novo XCOM trazendo um conjunto de novidades. Fica claro o ar de “experimento” do novo game, uma produção claramente menor e que vem para mudar um pouco as coisas, sem levar os conceitos gerais da franquia muito adiante. Aqui, temos um playground da desenvolvedora Firaxis, com algumas ideias que funcionaram muito bem, enquanto outras nem tanto.

Chimera Squad serve como uma caixa de brinquedos para testar diferentes possibilidades e combinações, sem as pressões de um game numerado. Algumas funcionam, outras nem tanto.

Uma das adições mais legais aparece logo no começo dos tradicionais encontros estratégicos da série. Antes mesmo de entrar no campo de batalha, o jogador deve passar pelo modo Breach onde, basicamente, decide o ponto de entrada de cada soldado. A estratégia é montada de acordo com indicadores de probabilidade, como nos confrontos tradicionais, assim como efeitos elementais e especiais que podem alterar no andamento da batalha.

Há desafio em, por exemplo, entrar com tudo por uma porta sem saber o que está do outro lado, ou separar os soldados sob possível pena de colocar alguns deles bem diante da linha de fogo do oponente.

Um segundo aspecto, o de gerenciamento, entra em ação na preparação para as incursões. O sistema de pesquisas para melhorias retorna e é unido a uma loja – com opção clandestina, também – de compra de itens. Os recursos são escassos, mas se bem usados, podem dar vantagem tática, com a compra de um explosivo plástico, por exemplo, criando um novo ponto de entrada para os agentes e surpreendendo o inimigo completamente. Caso prefira, o jogador pode ser mais conservador e investir em coletes ou granadas comuns, que abrem certa margem de erro ou permitem novas ações no combate.

XCOM Chimera Squad

O foco nos personagens trouxe consigo, também, um sistema de evolução mais simples, que contrasta com a falta de intuitividade dos menus. Por mais que XCOM: Chimera Squad tenha saído apenas para PCs, com a combinação de mouse e teclado fazendo milagres para a jogabilidade, a quantidade de informações na tela é absurda durante todo o tempo, fazendo com que o jogador, muitas vezes, acabe perdendo indicadores importantes ou fique simplesmente perdido. Sem localização para o português, isso piora, enquanto os agentes falam sem parar enquanto estão na base, confundindo ainda mais as coisas.

O mesmo também vale para os cenários, cheios de elementos e escombros como uma verdadeira zona de combate, mas poluídos e com elementos nem sempre claros. XCOM: Chimera Squad, por vezes, investe em um sistema ininterrupto de surgimento de inimigos como forma de fazer o jogador seguir determinado caminho, seja a extração de soldados ou o cumprimento de objetivos, mas acaba tornando a jogabilidade um tanto travada devido a outra mecânica inédita, com turnos alternados entre oponentes e agentes.

Por um lado, novas camadas estratégicas aparecem aqui, tornando o gameplay mais ágil e tenso, com apostas mais altas. Ao mesmo tempo, muitas vezes, o ressurgimento de oponentes ou a combinação nem sempre harmônica de habilidades faz com que o usuário acabe preso em determinadas ações ou momentos de combate, sem sentir que pode seguir adiante sem arriscar, uma alternativa nem sempre querida por alguns.

XCOM Chimera Squad

É o lado ruim do foco na entrega de uma história, que acaba por resultar na tentativa da desenvolvedora Firaxis de guiar a mão do jogador. Por estarmos controlando participantes de uma história, há mais envolvimento emocional e, claro, a escolha de preferidos entre os 11 agentes protagonistas, mas existe também a necessidade de se fazer as coisas de uma determinada maneira, que acaba sendo a maior distinção entre Chimera Squad e os outros jogos centrais da franquia XCOM.

A comparação entre jogos de diferentes franquias nunca é um bom parâmetro de análise, mas levando em conta a diferença de apenas cinco dias entre as chegadas de XCOM: Chimera Squad e Gears Tactics, fica difícil não colocar os dois lado a lado. E, aqui, fica clara a ideia de que é possível, sim, unir narrativa e envolvimento com protagonistas a uma estratégia bem aplicada e variada. Mas não foi a Firaxis que conseguiu sucesso nessa empreitada.

Não que o novo game seja ruim, pelo contrário, ele carrega consigo muitas das qualidades da franquia à qual pertence e ainda adiciona novas ideias. Entretanto, fica clara a intenção de, como dito, servir como uma caixa de brinquedos na qual a desenvolvedora pode testar diferentes possibilidades e combinações, sem as pressões de um game numerado. O que deu certo ou não, na visão dela, saberemos em um futuro XCOM 3, se existir – e, totalmente, esperamos que sim, já que Chimera Squad ajuda a matar as saudades, mas também nos faz lembrar com ternura um tempo em que soldados mortos ficavam mortos e nos víamos tendo que resetar o game quando decisões passadas vinham nos assombrar.

O jogo foi testado em cópia cedida pela 2K Games.