A indústria de games pode funcionar de maneiras interessantes às vezes. Uma semana depois da chegada de Sekiro: Shadows Die Twice, um game que não apenas chamou a atenção por sua qualidade como levantou debate sobre sua dificuldade extrema, temos também uma amostra do outro lado da moeda. Yoshi’s Crafted World é um passeio no parque, colorido, imaginativo e, principalmente, simples.
Desenvolvido pela Good-Feel, uma empresa que já diz a que veio só pelo nome, o novo exclusivo do Nintendo Switch é uma amostra de que desafio não é tudo quando se fala em um game. É possível, sim, ser objetivo, prático e, também, belíssimo, entregando nessa mistura uma diversão profunda e algo que está, afinal de contas, na gênese dos vídeo games. Nenhum título é nada se não for bom de se jogar, e Yoshi’s Crafted World é delicioso.
Não dá para deixar de lado o foco infantil do título, afinal de contas. Ao mesmo tempo, como vem fazendo tão bem desde que começou a trabalhar com lã ainda em 2010, com Kirby’s Epic Yarn, a produtora mostra que dá para atrair mais e mais gente com esse mesmo estilo. O novo game do dinossaurinho mais querido do mundo dos jogos eletrônicos encanta a cada fase, mesmo que os usuários mais habilidosos sejam capazes de ir do começo ao fim com uma mão nas costas.
Isso se deve, principalmente, à inventividade por trás de cada estágio, que parece ter sido pensado de forma única para trazer uma experiência. Isso vai muito além da ideia já bastante interessante de que estamos dentro de uma brincadeira de criança, que cria cenários para seus bonecos igualmente feitos à mão usando sucata, papelão, muito papel, cola e tesoura. Tudo para tornar mais rica a própria história, que envolve os Yoshis indo atrás de gemas roubadas pelos vilões clássicos Kamek e Baby Bowser.
Se há uma palavra para definir Yoshi’s Crafted World é criatividade e, logo depois, variação. Inicialmente, seguimos no bom e velho estilo side scrolling, partindo em linha reta até o fim das fases coletando itens e cumprindo objetivos. Aos poucos, entretanto, as características do game vão se desdobrando, sendo utilizadas de maneiras diferentes a cada estágio e, também, entregando desafios variados.
Se em um momento você está apenas coletando flores e moedinhas, em outro pode estar pilotando um mecha Yoshi de papelão ou perseguindo cachorros fugitivos pelo cenário. Objetivos especiais transformam objetos de funcho em alvos especiais enquanto trens e carrinhos aceleram um pouco as coisas, exigindo um pouco mais de precisão nos controles.
Entra aqui, também, um estilo que a Nintendo parece gostar bastante desde os primórdios do Wii. Yoshi’s Crafted World é, essencialmente, um jogo de plataforma 2D, mas isso não significa que você está sempre andando em linha reta. Os cenários se ramificam, não apenas para entregar segredos escondidos e novos caminhos, mas também para transformar a solução de enigmas.
Yoshi’s Crafted World tem foco infantil, mas traz o tipo de carisma e envolvimento para todos os jogadores que somente a Nintendo é capaz de alcançar.
Yoshi pode, por exemplo, atirar um ovo não apenas em quatro direções, mas para todas elas, obtendo itens que estão no fundo do cenário. Inimigos podem se esconder atrás de elementos do plano de fundo, enquanto um grande gato inflável é capaz de assustar ratos ladrões de itens que correm em três dimensões e podem dar um baile no personagem principal.
Como nos títulos de plataforma tradicional, a aventura de Crafted World se divide em “mundos”, mas não da maneira comum a que estamos acostumados. A transição acontece de maneira mais fluida, mas é marcada por elementos como um jogo de sorte em que é possível conseguir roupinhas para o personagem e um robô que cobra um “pedágio” para conseguir liberar o caminho à frente.
São estes, também, os dois pontos principais do fator replay proporcionado pela Good-Feel. Todas as fases entregam flores, que servem como moeda de troca para seguir em frente, corações, moedas vermelhas e dinheiro tradicional para uso nas maquininhas. O jogador pode seguir uma rota direta até o final e não terá tantos problemas, mas os complecionistas vão investir um bom tempo tentando fazer 100% em todos os estágios.
Os desafios também aumentam a cada etapa, assim como os segredos escondidos, mas sem jamais perder a leveza e a ternura. As roupas de papelão para Yoshi servem como uma espécie de armadura e são perdidas caso sofram dano demais, tendo de ser obtidas novamente nas maquininhas. E existem, ainda, desafios com tempo que começam e terminam num piscar de olhos, exigindo mira boa e reflexos rápidos. Todos são momentos que variam a jogabilidade e transformam Yoshi’s Crafted World em mais do que apenas um game infantil, como sua aparência pode denotar.
É aquele tipo de coisa que somente os títulos da Nintendo são capazes de entregar, trazendo algo que serve para todo mundo, independentemente da idade e da habilidade. Afinal, estamos falando de entretenimento e o objetivo final de qualquer peça desse tipo é divertir. E se tem algo que Yoshi’s Crafted World efetivamente faz é isso, com louvor e cor.
Assim como aconteceu em outros games com aparência semelhante, como os recentes Unravels, o jogador rapidamente se verá envolvido pelo estilo e pela jogabilidade, e, acima de tudo, desejando ter um personagem de lã na mesa. Infelizmente, dificilmente alguém terá o nível de habilidade manual para compor o restante do cenário. Felizmente, o título sempre estará lá para ser jogado, desdobrado e recortado.
O jogo foi testado em cópia cedida pela Nintendo.