Metal Gear Solid V: The Phantom Pain

por Edes WR

A Ameaça Fantasma

Quando do lançamento de Metal Gear Solid V: Ground Zeroes, muitas eram as esperanças, expectativas e especulações em relação a que rumos tomariam a serie nesse capítulo que já prometia ser o derradeiro, ao menos no que se refere a estar nas mãos de seu criador, Hideo Kojima. Em minha analise desse prólogo, acreditei que tudo apontava para uma conclusão épica e sem precedentes, constatação corroborada por vários trailers que nos faziam entrar cada vez mais no “hype”. Mas, essa mesma esperança pelo jogo mais incrível de nossas vidas, pode ser nosso maior inimigo.

Esta análise pode conter alguns spoilers, esteja avisado!

Snake, através do espelho

Depois dos dramáticos acontecimentos vistos em Ground Zeroes, vemos nosso protagonista acordando em um hospital após ficar nove anos em um estado de coma profundo, escondido de seus inimigos. Os mesmo responsáveis pelo ataque e destruição da Mother Base logo ficam sabendo do nosso paradeiro e mobilizam uma nova operação para terminar o trabalho iniciado nove anos antes.

É difícil a acreditar que o gameplay primoroso, a divulgação e o início de The Phantom Pain tenham sido criados pela mesma equipe que conclui o game.

Auxiliados por uma figura enigmática de voz bastante familiar, que tem seu rosto convenientemente enfaixado, somos guiados para fora do hospital, passando pelas mais bizarras e intrigantes situações, tal como um ser fantasmagórico envolto em chamas que nos persegue incessantemente, até mesmo se valendo de uma montaria em forma de unicórnio flamejante.

Depois dessa loucura intrigante, que só faz despertar nossa curiosidade em desvendar toda a trama, um rosto familiar passa a nos guiar, substituindo o enigmático homem sem face: Ocelot, inimigo e respeitoso rival de Big Boss em jogos anteriores, que aqui, assume o papel de nosso instrutor na missão de trazer o lendário Big Boss de volta à atividade.

Uma rápida explicação sobre a nossa reabilitação tenta nos convencer que, mesmo acabando de sair de um coma de nove anos, estamos prontos para encarar nossa primeira missão, sendo uma das mais importantes da trama: resgatar Kaz Miller, “sócio” de Big Boss e a mente por traz da finada organização de mercenários “Militares Sem Fronteiras”.

A missão em si consiste em um grande tutorial que demonstra as principais evoluções na jogabilidade em relação ao prólogo Ground Zeroes, que por sua vez, também já mostrava uma grande evolução em relação aos demais jogos da série. E é aqui que Metal Gear Solid V: The Phantom Pain começa a brilhar.

Eu sou Big Boss!

Finalmente no controle do nosso protagonista de fato, montado em seu cavalo D-Horse, o primeiro de uma série de companheiros que teremos no jogo, adentramos no vasto e belíssimo deserto do Afeganistão, onde a luz do sol já torna o gameplay stealth muito mais desafiador. Via rádio, recebemos orientações de Ocelot sobre como proceder com os controles (funcionais mas pouco intuitivos) nos primeiros contatos com inimigos e na nossa procura por pistas do paradeiro de Kaz.

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O comportamentos dos soldados espalhados pelos inúmeros postos de vigilância, bastante distantes entre si, demonstra todo o cuidado e trabalho aplicado na inteligencia artificial do jogo. Desde um barulho até passagem dinâmica do tempo (ou condições climáticas) são elementos que alteram a “personalidade” dos inimigos, tornando a infiltração algo desafiador na medida certa e possibilitando inúmeras formas de se aproximar do objetivo.

Assim como em Ground Zeroes, os controles fluidos e os movimentos mais realísticos do protagonista nos dão um maior controle de nossas habilidades, permitindo uma maior precisão quando precisamos nos esconder da luz de uma lanterna, rastejar por traz de inimigos distraídos ou saltar de um telhado para outro. Sim, saltar, mas apenas como um comando contextual.

Com a possibilidade de “marcar” inimigos com nosso binóculo, recurso introduzido em Ground Zeroes, examinar o local e planejar nossas ações nunca foi tão encorajador e recompensador. Também levando em conta a infinidade de “gadgets” que podemos adquirir ou desenvolver no sistema de criação de itens, as possibilidades aumentam exponencialmente, assim como a forma com que o jogo reage a todas as variáveis possíveis.

A vingança nunca é plena…

Com a possibilidade de “marcar” inimigos com nosso binóculo, examinar o local e planejar nossas ações nunca foi tão encorajador e recompensador.

Na trama principal, alem de incorporarmos o lendário Big Boss com nosso protagonista, a vingança contra os responsáveis pela destruição da Mother Base é o objetivo que guia nossas ações. O líder da organização denominada XOF, Skull Face, foi quem arquitetou todo o ataque à base de operações de Kaz e Big Boss, sendo esse apenas uma pequena fração do grande plano megalômano de extermínio em massa.

A ideia é usar vírus que mata seu hospedeiro ao “ouvir” o mesmo pronunciar qualquer outro dialeto que não a “lingua franca” nomeada pelo próprio Skull Face, o inglês.

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No decorrer do primeiro capitulo (o jogo conta com um prólogo e dois capítulos), outras sub tramas são apresentadas, seja em meio à missão principal ou entre as paralelas, ampliando as conexões com os demais jogos e deixando explicito todo o trabalho que foi planejado para que possíveis pontas soltas da trama fossem devidamente amarradas de forma coerente.

O fim do primeiro segmento, apesar de não aproveitar bem o vilão Skull Face, tem um ótimo clímax e, se por um lado serve como fechamento para a trama principal, por outro, abre uma infinidade de possibilidades. A partir desse ponto, as missões que antes eram tratadas como paralelas, passam a se confundir com enredo principal, não deixando claro nossa real missão, apenas jogando mais e mais questões e fazendo aguçar nossa curiosidade.

A queda…

Metal Gear Solid The Phantom Pain

Algo de podre aconteceu entre a Konami e os gigantescos planos de Hideo Kojima nos meses que antecederam o lançamento de The Phantom Pain, e talvez isso tenha afetado o desenvolvimento do jogo. O fato é que, do inicio do segundo capítulo em diante, exceto pelo gameplay em si, toda a grandiosidade prometida para a historia de Metal Gear Solid V se perde em meio a missões literalmente repetidas e falta de motivação convincente para os personagens e seus atos. A maioria das etapas que antes eram paralelas, e que agora são classificadas como importantes, têm suas resoluções apresentadas de forma apressada e convenientemente pouco elaboradas.

A missão que nos leva ao previsível final, amplamente explorado em teorias baseadas nos inúmeros trailers, só corrobora a sensação de que o fechamento do projeto foi apressado ou, na melhor das hipóteses, mal adequado ao cronograma como um todo. Ela simplesmente “aparece” no menu, sem que seja construído um caminho para alcançá-la, sem clímax nem recompensa. O jogo simplesmente precisava terminar e ponto final.

É difícil a acreditar que o gameplay primoroso, o título anterior, a divulgação e o início de The Phantom Pain tenham sido criados pela mesma equipe que desenvolveu e conclui o game na forma como o capítulo dois é apresentado.

Acreditei que tudo apontava para uma conclusão épica e sem precedentes. Mas, essa mesma esperança pelo jogo mais incrível de nossas vidas, pode ser também nosso maior inimigo.

Exemplificando essa falta de “fechamento”, o caso mais bizarro é o de Eli, criança que está sob a custódia do protagonista e que no futuro será conhecido como Liquid Snake, que rouba o tanque Metal Gear que estava em poder dos Diamond Dogs. Lembrando, ele é apenas uma criança… Essa trama jamais é concluída dentro do jogo, sendo apenas apresentada como conteúdo cortado e não terminado presente em um making of que acompanha a edição especial.

Eu não sou Big Boss…

A série Metal Gear já teve inúmeros altos e baixos em seus quase 30 anos de existência e é irônico que o denominado capitulo final sob a batuta de seu criador, o elo perdido entre os jogos originais de MSX e os capítulos modernos, consiga ser ao mesmo tempo o ápice da serie em questão de gameplay (coisa que sempre deixou a desejar), e ,por outro lado, o ponto mais baixo no que se refere à história e desenvolvimento de personagens, o ponto alto de Metal Gear desde sempre.

Assista agora ao novo trailer de Metal Gear Solid 5

Talvez a saída de Hideo Kojima da Konami e do título seja exatamente o que a série precise para voltar a impressionar (a empresa já confirmou um novo game da série). Assim como o título desta análise sugere a comparação com Star Wars, aparentemente o afastamento de seu criador fará muito bem ao futuro da franquia.

O jogo foi analisado no PlayStation 4.