A ideia de entrar em contato antecipadamente, e de forma gratuita, com um jogo bastante esperado, sempre agrada à galera. E a indústria, claro, sabe usar isso tudo muito bem. Afinal de contas, em um mundo com plataformas cada vez mais conectadas e sistemas online integrados e que formam parte integrante da diversão, é difícil garantir que tudo vá funcionar bem no lançamento.

E a alternativa – servidores fora do ar, lags, problemas de conexão e jogadores impedidos de aproveitar o lançamento – é apocalíptica. Por isso, cada vez mais empresas apostam nos testes fechados e abertos para, pelo menos, tentar garantir que tudo isso funcione bem e que os lançamentos aconteçam, pelo menos, sem grandes catástrofes.

As letras do alfabeto grego que estamos acostumados a ver se referem ao ciclo de desenvolvimento de um game. Apesar várias ramificações serem possíveis, bem como nomenclaturas diferentes existirem em diversos mercados, no mundo dos games, esse processo basicamente se resume a quatro estágios: Alpha, Beta, RC (ou candidato para lançamento, na tradução da sigla em inglês) e Gold.

Desenvolvimento

Para os jogadores, tudo isso pode parecer apenas uma amostra do que está por vir. Mas por trás disso está uma responsabilidade, e um trabalho muito maior, que é o assunto desse artigo da série “O que é”.

Alpha

Essa é a primeira fase de testes, mas isso, nem de longe, significa que os trabalhos estão apenas começando. Muito pelo contrário, aqui, já temos muita história por trás – o projeto de jogo já está fechado, o público a ser atingido já foi definido, a história está escrita e as mecânicas de jogabilidade já estão firmadas. Entretanto, diversas coisas podem estar faltando – em um multiplayer, por exemplo, alguns mapas podem apenas estar no papel, sistemas podem estar faltando e classes de personagens ainda não estão prontas.

Entretanto, o game já está rodando e se parece bastante com o produto final, que pode tanto estar a alguns meses de lançamento quanto a anos de distância. Apesar disso, mudanças ainda podem acontecer, mas elas se baseiam, principalmente, em elementos de “bastidores” – códigos que poderiam causar bugs, algum tipo de comportamento irregular em personagens ou no cenário ou melhorias de estabilidade em determinadas plataformas são alguns exemplos.

Um caso recente de Alpha, por exemplo, é Nioh, game baseado em um roteiro nunca finalizado do cineasta Akira Kurosawa. Apesar de estar sendo desenvolvido desde 2004, apenas neste ano ele chegou a uma versão jogável e apresentável para os usuários, tendo sido disponibilizada para o PS4 de forma a testar a saúde dos servidores e seu funcionamento no console. A grande mudança, aqui, deve se dar em termos de balanceamento.

Como estamos falando de uma etapa quase inicial do processo de testes, é também na fase Alpha que a maioria dos problemas podem acontecer. Vide o que aconteceu com Evolve, game totalmente baseado no multiplayer. Em alguns locais do mundo, inclusive no Brasil, houve muita dificuldade em achar e entrar em partidas, mesmo com grupos completos, o que, aqui no NGP, motivou o primeiro não-gameplay do site.

Beta

A segunda letra do alfabeto grego, logicamente, indica a segunda fase de testes. Aqui, os problemas e soluções obtidos durante o período Alpha já foram implementados e o título está quase completo – ou pelo menos, bem próximo disso. E se anteriormente o foco era ver se tudo está funcionando como deveria, agora a ideia é garantir que esse seja exatamente o caso.

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Por isso, testes Beta normalmente se concentram na usabilidade e estabilidade, não do game rodando no console, mas de servidores e arquiteturas. Menus podem ser alterados caso se perceba que o usuário não está sabendo lidar com eles, bem como combinações de botões. Além disso, no caso de modos multiplayer, aplica-se telemetria sobre a infraestrutura para mensurar regiões problemáticas, tempos de matchmaking e outros aspectos que melhorem a experiência no lançamento.

Entretanto, aqui, é importante deixar claro uma coisa – independente do estágio de desenvolvimento, grandes mudanças dificilmente vão ocorrer e aquela versão, provavelmente, já é bem parecida com a que você terá em mãos no futuro. Se o título é difícil, claro, o desafio pode ser reduzido. Mas se você não gostou de um elemento da história ou a jogabilidade parece travada e pouco adequada, isso provavelmente não vai mudar até o lançamento.

Vide o caso de Resident Evil 6, que desde suas primeiras apresentações na E3 de 2012, ainda em Beta, e também em uma versão de demonstração liberada mais tarde aos usuários, foi criticado pela jogabilidade esquisita, bugs de movimentação e performance gráfica ruim. Quando o jogo chegou às lojas, o último aspecto estava solucionado ou, pelo menos, suavizado, enquanto os primeiros permaneceram por lá, e estão até hoje, como já cansamos de comentar por aqui.

Trata-se de um aspecto, digamos, “macro” do desenvolvimento de games. Alterar as mecânicas seria, basicamente, alterar um jogo inteiro. E isso, em um projeto de tal magnitude, seria simplesmente impossível. A ideia de que um jogo que parece ruim “está apenas em Beta” pode até ser acalentadora e trazer certa esperança, mas saiba desde já que ela, provavelmente, é falsa.

Existem duas categorias de Beta, ainda, o fechado e o aberto, e os nomes já indicam o que cada uma delas é. Na primeira, estamos falando de um grupo restrito de usuários – aqueles que fizeram a pré-venda do título, ganharam um concurso ou foram selecionados, por exemplo – enquanto, no segundo caso, a experiência é liberada para todos que quiserem participar. Isso também pode indicar fases diferentes dos testes, com escala crescente, começando pelos fãs e terminando com todo o público.

Demo

Normalmente, é aqui que a confusão acontece. Com a profusão de testes Alpha e Beta sendo usados como ferramentas de marketing para os jogadores, o propósito desse tipo de coisa acabou atrás de um nevoeiro. Como já falamos até aqui, as letras gregas indicam testes. Mostrar o game e dar uma amostra deles, e apenas isso, é ao que se refere uma demonstração, que pode ser liberada aos usuários até mesmo depois do lançamento de um título.

Aqui, temos um trecho selecionado de um jogo já finalizado, ou extremamente próximo disso. Ele pode, muitas vezes, nem mesmo se referir ao início do título em si – virtualmente qualquer capítulo aleatório pode ser selecionado. Ou, ainda, nem mesmo ter qualquer relação com o jogo em si, como aconteceu com a recente Platinum Demo de Final Fantasy XV. Temos, aqui, uma demonstração exclusiva, e não necessariamente uma amostra do que teremos no jogo completo.

Então, é importante deixar claro, caso já não tenha ficado – existe uma diferença entre Alpha, Beta e demo. Enquanto os primeiros são testes, apenas o segundo tem como propósito efetivo mostrar o game. É claro, querer jogar e não conseguir sempre é bem frustrante, mas a ideia, nos experimentos, é garantir que tudo funcione para que você, efetivamente, possa desfrutar do título. Com exceção das demonstrações, claro, estamos ajudando os produtores, que, em troca, nos dão um gostinho do que está por vir, mas esse não é o objetivo final.

Release candidate

Aqui, vamos citar esse termo apenas em nome da continuidade do ciclo de desenvolvimento, apesar de ele não ser comum na indústria dos jogos. O RC, release candidate ou candidato para lançamento é uma versão “quase final”, que pode efetivamente vir a ser lançada caso nenhum bug ou falha grave seja encontrada.

Esse estágio também pode ser chamado de gama ou delta, para manter a nomenclatura em grego, e é bastante comum na indústria de software. No ano passado, por exemplo, usuários cadastrados em um sistema disponibilizado pela Microsoft poderiam baixar gratuitamente o RC do Windows 10, tendo o sistema operacional rodando em suas máquinas de forma quase completa – mas ainda passível de problemas – antes de todo mundo.

Gold

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Essa é uma notícia que vemos por aí com bastante frequência. A chegada de um título em estado Gold, basicamente, significa que ele está pronto para ser lançado. O desenvolvimento chegou ao fim e os principais bugs localizados foram encontrados e resolvidos. Ele segue, então, para as fábricas, onde será prensado nos discos que você encontra nas prateleiras, ou é upado nos servidores das redes online, onde fica aguardando a data de lançamento.

A produção, claro, pode não parar. Como os consoles são plenamente conectados, a desenvolvedora pode continuar trabalhando em atualizações e correções – os famigerados patches de primeiro dia – e também conteúdos adicionais, como DLCs e expansões que serão liberadas mais adiante no ciclo de vida de um título.

Normalmente, a revelação de que um jogo está finalizado acontece, pelo menos, um mês antes do lançamento. E é isso que leva muita gente a criticar o funcionamento da indústria, já que ela estaria pervertendo o ciclo de desenvolvimento. O lançamento de uma atualização de primeiro dia para solucionar bugs ou realizar melhorias gráficas seria uma evidência de que a produção de um título, na realidade, não chegou ao fim.

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Nesse caso, o que a produtora chama de Gold, na verdade, seria algo mais próximo de um release candidate – um título, sim, bem próximo de sua versão final, mas que ainda não está efetivamente pronto. Mas essa é uma discussão semântica, na qual não vamos nos alongar.

Esse texto foi sugestão de um leitor e é parte da série “O que é”, que de tempos em tempos, elucida termos bastante usados na indústria dos jogos. Você pode contribui com dúvidas e sugestões pela área de comentários ou em nosso grupo no Facebook.

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