Pode-se dizer que os jogos indies subiram em um novo patamar, pois Rise of Ages é claramente inspirado em um outro indie, Terraria, que traz uma mecânica similar. Neste título, ela está muito mais sofisticada e com gráficos melhores do que o Pixel Art simples, sem contar que se pode evoluir nas eras da humanidade de acordo com a capacidade do jogador em se virar na pré-história entre bisões, ursos, mamutes e até um Elasmotherium. Com gráficos em alta resolução e paisagens com profundidade, é uma aula de história jogável
Com uma criação de personagens básica, mas não simplória, você pode montar um, nomear como quiser e tudo começa quando seu avatar acorda devido à baderna incomum na tribo. Ao descobrir que se tratava de um ataque, você e um amigo fogem da confusão e já é necessário saber lidar com o ambiente e a mecânica de sobrevivência do personagem, sem nenhum tutorial ou curva de aprendizado além do “errando é que se aprende”, algo simples para quem está acostumado com o estilo. Rise of Ages combina ação de plataforma com simulação de gerenciamento de recursos para simular uma realidade que, às, vezes vai além.
Percebe-se que faltou um pouco de sintonia na composição das cenas e da situação de jogo, onde de início o jogador se vê necessitado a fugir às pressas de seus perseguidores e fica muito tempo garimpando sua saída pela caverna, tarefa demorada e não divertida, mesmo dando recursos valiosos. Quando finalmente liberto das ameaças, temos um sistema parecido com Apotheon, tanto no estilo de animação quanto de ataques, com uma arma principal equipada na mão e uma ferramenta na outra. Há também crafting, inventário, a coleta de recursos de animais derrotados e batalhas provocadas do nada, mas sem precisar percorrer tanto para encontrar um final de tela.
Minha maior reclamação são os grandes espaços que se percorre, mesmo correndo, para atravessar o cenário e alcançar um local desejado ou simplesmente para ir atrás das caças e vegetais necessários para suprir metas e missões das mais clichês e triviais. Os objetivos envolvem trazer peles de bichos, sementes ou frutas enquanto arrebenta morcegos ou águias. Os animais, pelo menos, dão penas para fazer flechas, mas os arcos viriam depois.
É muito fácil se encher de tralhas e para isso, o game permite criar caixas de pedras pra armazenar itens, outro ponto para sábias escolhas. Ainda assim, ficar andando em cenários longos e repetitivos é realmente um desestímulo.
Por mais que hajam cenários bonitos, o design dos personagens não é carismático e a música não é empolgante. Rodar, inicialmente, sem destino, atrás de uma missão é bem chato. A situação melhora quando você funda a sua cidade e vira um chanceler da Era do Gelo, tentando buscar gente e recursos. Podemos recrutar pessoas perdidas que vagam por aí e que, inicialmente, só podem ser guardas, mesmo não havendo nada para defender ainda, algo que deveria ser obviamente trocado pelas profissões que realmente existiam na época: os coletores e caçadores.
Superando isso, pode-se obter um machado para derrubar árvores e construir cabanas, mas não tão sofisticados quanto os que alguns NPCs conseguem. Como não existe uma escala evolutiva de combate, é muito fácil se deparar com muitos ursos com o porrete inicial e, mesmo após conseguir um maior, ele é lento e a esquiva pra trás presente no jogo não é tão eficaz quanto esperado. Ou, então, o personagem pode morrer de sede após sobreviver a algumas batalhas, algo frustrante em uma época em que squeezes ainda não haviam sido inventados.
Apesar de ser chamado de sandbox 2D, Rise of Ages não passa essa impressão por ter apenas alguns poucos pontos de exploração em um continente inicial, o que obriga a ficar cumprindo missões e submissões tribais que não têm profundidade no diálogo ou relevância para o jogador, que deveria estar sendo bombardeado de história e cultura primitiva, algo muito presente visualmente no jogo.
Como todo homem das cavernas que se preze, você precisa aprender a se virar em um meio-ambiente hostil até conseguir criar uma moradia decente. Para isso precisa aprender o básico da época: dominar o fogo, colher vegetais, assar carne ou arriscar comer carne crua e se infectar, perdendo assim energia vital. Neste game, existem quatro barras essenciais que podem ser chamadas de HP, fôlego, fome e sede. Existe o status de condição do corpo em relação à umidade e frio, mas este não requer explicação como estas quatro principais.
HP é a energia de combate do personagem, fôlego é o limite de esforço que ele pode fazer em movimentos além de andar, correr e pular, como nadar e o recuo rápido. Se o fôlego acabar durante a travessia de um rio grande, você se afoga, por exemplo. Já fome e sede são similares, pois caso esvaziem, começam a consumir o HP e o personagem morre se chegar a zero, mas a barra de fome é mais fácil de se recuperar. Já a de água, só em lugares específicos e não determinados no mapa-mundi.
Apesar da grande promessa, Rise of Ages começa bem chato e desestimulante, pois não há diversão de início nem um design cativante de personagens e cenários, mesmo sendo um jogo de ação 2D com plataformas a grosso modo, com traço de mangá e muita riqueza cultural nas vilas humanas. As tarefas que seriam divertidas em jogos como Harvest Moon são maçantes, você realmente se sente trabalhando e não jogando pra se divertir e as recompensas não satisfazem o esforço. Certamente um fã de jogos de gerenciamento de sobrevivência vai curtir, mas não é um título recomendado para quem está estreando no gênero.