No fim do primeiro dia da CCXP 2018, um amigo de infância envia uma mensagem de WhatsApp perguntando se eu queria um ingresso para ir no sábado, pois ele estava satisfeito (entenda cansado) e não gostaria de ir de novo ao evento. Qual não foi minha surpresa quando percebi que iria à minha primeira Comic-Con, o maior evento nerd do Brasil, e poderia dividir minha experiência nesse evento gigantesco, com o olhar voltado à ótica dos games.

Adentrei o Centro de Exposições Imigrantes com ansiedade baixa e muita disposição. Logo fui correr todo o espaço e, já na entrada, encontro o estande de “Game of Thrones” com vários cosplayers que, mais tarde, perceberia serem os coadjuvantes da edição 2018: Dychan e outros encarnando os personagens do seriado em parceria com o uísque Johnny Walker, criando o espaço “White Walkers, Johnny Walker”, que dava bebida de graça pra quem aguardasse na fila. Não encarei as esperas para nada e isso tornou minha experiência gratificante, pois o ritmo foi mais intenso e, como recompensa da minha abstinência alcoólica, encontro a mundialmente famosa Giu Helsing vestida de Morrigan ao lado do marido, o atento e silencioso Tom, que simpaticamente recebia seus fãs e amigos.

Mais para a frente, descubro que existe todo um espaço voltado para cosplay, com camarim, área de fotos e, suspeito, que deram prioridade para cosplayers famosos das redes sociais em relação às modelos de agência vestidos de personagens. Isso passa mais profissionalismo ao evento e causa uma comoção verídica nas pessoas, por estarem diante de seus ídolos da arte.

Vale citar o grande número de ótimas produções com baixíssimo número de “cospobres”, deixados de lado por motivos óbvios, e um grande número de pessoas altamente dedicadas a serem o personagem que decidiram incorporar e não somente parecerem similares. Esse esmero deixava o Espaço Cosplay sempre lotado de pessoas que não foram em busca só dos famosos, e sim, de qualquer um que embasbacasse os passantes com produções superiores às de Hollywod, visto que esses cineastas multi-milionários têm sério problema de visão quando precisam adaptar algo para um live action oficial.

Interessante frisar que algumas armas fictícias pareciam reais e funcionais de tão bem feitas, mas a surpresa do dia vai para as pessoas de meia idade se aventurando a brincar de cosplay junto dos mais jovens e sendo bem recebidos. Novos tempos com mais respeito aos artistas.

Andando por todo evento, notei que o apelo aos games estava muito reduzido em relação aos cosplayers e à YouTube Game Arena, com Just Dance 2019, League of Legends e DotA. Mesmo com pouco espaço nesta edição da CCXP, os jogos estavam lá na forma da febre do momento, a musa memística Bowsette, ou com a incrível capacidade das empresas de transformar os personagens geek em qualquer tipo de produto consumível pelos fãs, principalmente os colecionadores.

Só para Street Fighter temos chinelos, io-iôs, camisetas, action figures e o mais impressionante: perfume! Como seria uma essência de Street Fighter? Cheiro de suor? Sangue? Cigarro de fliperama? Só sei que quando o vendedor me abordou usei o clássico “estou só dando uma olhadinha” e evadi do local antes de me oferecerem o “V-Trigger Parfum”, que só dura sete segundos de efeito.

Em outros cantos, tivemos o SENAC montando um espaço Cyper Punk com vários atores caracterizados explicando sobre o mercado de games, apesar de o jogo que mostraram como exemplo no telão ser algo muito mal feito e inacabado, causando o efeito contrário e desperdiçando a chance trazida pelo evento. Já pra quem queria action figures e Funkos estaria realizado e deixaria ali seu décimo terceiro e, possivelmente, uma parcela do IPVA.

Mais adiante uma loja de games disponibilizava jogos de Switch e PS4 pra os visitantes jogarem livremente, enquanto, no telão, um campeonato de Mario Kart 8 valia um console da Nintendo. Um outro espaço disponibilizava três fliperamas de mil jogos cada, com um manche tão horrível que fazer um movimento de Hadouken era como realizar um parto numa ponte de cordas.

Na parte de jogos clássicos e remakes, só encontrei no dia uma simpática cosplayer de Carmen SanDiego e o local com a demo do remake de Resident Evil 2 próximo a um atencioso Leon solitário, que precisou se contentar com os zumbis de The Walking Dead. Vi um menino de aparentemente 8 anos vestido de Scorpion clássico. No estande da Sony, o destaque era Spyro the Dragon e títulos que faziam uso do PlayStation VR, mas os jogos eram simples e sem nenhum atrativo.

Achei que haveria um destaque para o GOTY God of War, mas Kratos e Atreus ficaram somente no painel mesmo. Já Just Dance ganhou um grande palco onde se podia dançar e o povo na platéia se empolgava fácil fazendo as coreografias sem pudores, como se estivessem competindo.

Quem iria competir de verdade no Just Dance se dirigiu à YouTube Gaming Arena e todos os lugares estavam lotados, mas não fiquei pra ver o desfecho, pois o Tom “Homem-Aranha” Holland junto do Jake “Príncipe da Pérsia” Gyllenhaal haviam adentrado o palco principal do outro lado, e quem não viu, dançou! Eles falaram sobre o futuro dos filmes e o resto não consegui entender pois o nível dos decibéis ficaram ensurdecedores, só porque o menino Teioso levantou pra arrumar a cueca adentrada no rêgo e deu um tchauzinho pro público pra disfarçar. O telão realmente mostrava tudo…

Engraçado ver que a CCXP representa um resumo anual de acontecimentos e destaques do mundo pop. Com o renascimento dos quadrinhos americanos nos cinemas e a renovação dos mangás, o destaque ficou para os super-heróis, sendo maioria nas representações durante o evento e com suas indumentárias baseadas nas vistas na telona, com um All Might muito bem misturado entre Heras Venenosas, Thors, Mulheres-Maravilhas e Aquamen. Falei no plural porque os cosplayers iguais andavam juntos. Não sei se é um código da categoria, mas achei engraçado.

Apesar de todos os pesares, 2018 foi um ano incrível para a cultura pop, deixando imensas expectativas para 2019. Espero estar de novo na CCXP ano que vem para ver se essas promessas foram cumpridas e quais novas tendências da internet vão abalar o coração dos fãs. Também espero que o espaço para independentes vá além do Beco dos Artistas, que estava gigantesco, e receba os desenvolvedores de jogos indies também, cada vez mais intensos na indústria mundial de jogos eletrônicos. Os irmãos Castro estavam lançando a versão quadrinhos d’A Lenda do Herói, já mostrado aqui, em um lançamento intermídia.

Impossível não ser grato aos organizadores do evento que deixaram tudo organizado e funcional, à paciência e simpatia dos cosplayers que eram fotografados a cada passo e com um ânimo de fazer tudo acontecer da melhor forma possível, mesmo sendo o terceiro dia e exigindo muito do corpo em relação ao cansaço. Agora é só esperar o ano que vem!

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