Controvérsia, lirismo e referências são três palavras que definem bem a carreira e o sucesso de Eminem. O rapper americano traz em suas letras uma boa dose de sarcasmo e piadas politicamente incorretas, ao mesmo em que encaixa todo tipo de citação à cultura pop. Ele é influenciado por ela, e a influencia, e esse é apenas um dos aspectos que o alçaram de desconhecido a um dos maiores artistas do rap americano.
Já deixando para trás a época em que fazia piada com tudo e todos e usava a alcunha de Slim Shady para falar mal de tudo e todos, o Eminem que faz show neste final de semana no Brasil, no Lollapalooza, investe em sua história pessoal. E em meio aos quadrinhos, filmes e desenhos animados que o levaram adiante na infância estão também os games, uma paixão periférica do artista.
Paixão, por sinal, é a palavra certa para isso, ao ponto de levar Eminem, nascido Marshall Mathers, ao ranking dos 50 melhores jogadores de Donkey Kong do mundo, com 465.800 pontos. É claro, o recorde não foi verificado por órgãos oficiais, e aconteceu em uma máquina caseira que ele possui em seu estúdio.
Em 2010, numa entrevista para a revista Rolling Stone, ele deixou claro seu ideal – o de bater o recorde mundial do game, atualmente nas mãos do engenheiro Steve Wiebe, que é o assunto do documentário “The King of Kong: A Fistful of Quarters”, justamente o longa que levou Eminem a se dedicar ainda mais à jogatina. Porém, ele não comentou nunca mais no assunto, o que nos leva a crer que ou ele não se dedicou o bastante, ou percebeu que atingir a pontuação de ouro é impossível.
Foi também mais recentemente que as referências a jogos começaram a aparecer com mais frequência na obra de Eminem. Sim, ele passou boa parte do clipe de “We Made You” mandando letras em cima de uma interface de Rock Band, mas ali, o que temos é uma referência visual. Nos últimos anos, o rapper tem mostrado, com poucas palavras, que manja do assunto.
Pegue, por exemplo, o clipe de “Rap God”, que por si só, é um festival de referências. Tente identificar todos os cartuchos, discos e consoles antigos que aparecem na biblioteca que está sendo “upada” para a mente do rapper, enquanto ele brinca com os portais do famoso título da Valve. Se piscar, vai perder as aparições rápidas de títulos como Super Mario Bros. e Pong, que também tem efeitos sonoros sampleados na música.
Ou, então, uma das músicas mais profundas e fortes da carreira de Eminem, onde ele fala sobre as dificuldades de um relacionamento que, ao mesmo tempo, é cheio de amor e ódio. Na letra, ele afirma que “a vida não é como um jogo de Nintendo”, onde passamos por muitos desafios e obstáculos, mas ao contrário dos games, “não ganhamos outra chance”.
A relação entre Eminem e os games também segue o caminho inverso. O artista tem músicas em dois games da série Call of Duty – três, se você contar trailers como parte da trilha sonora. “Till I Collapse” aparece em um dos vídeos de divulgação de Modern Warfare 2, enquanto “Won’t Back Down”, parceria do artista com a cantora P!nk, toca nos créditos finais do primeiro Black Ops. No link, inclusive, você confere uma apresentação ao vivo dele ao lado de Travis Barker em um evento da Activision pré-E3 2010.
A aproximação, entretanto, veio de vez em Call of Duty: Ghosts. Como fã da franquia, ele se aliou à Activision para transformar o evento do anúncio do modo multiplayer do game, também, em um de revelação de sua nova canção, “Survival”, que é um dos temas do título e, inclusive, tem um clipe cheio de cenas do jogo.
Além de participar da trilha de Call of Duty, Eminem batiza, ao lado de Jay-Z, uma edição especial de DJ Hero com pickups em preto e dourado. Além disso, lançou no final do ano passado o game mobile Shady Wars, que traz suas músicas e uma pegada meio Space Invaders.
Se você ainda não conhece o rapper, vale a pena dar uma atenção. Dê mais atenção para as canções e álbuns mais recentes, muito mais profundos e interessantes que as músicas de zueirinha que fizeram boa parte de sua carreira no passado. Comece pelo último, The Marshall Mathers LP 2, e depois retorne para o primeiro, passando por Recovery pelo caminho. E faça um favor para si mesmo, e também para Eminem: ignore o péssimo Relapse.
O rapper é um dos headliners do Lollapalooza Brasil 2016, que acontece neste final de semana em São Paulo, no Autódromo de Interlagos. O show dele vai acontecer no sábado, mesmo dia de Mumford & Sons, Die Antwoord, Marina And The Diamonds, Tame Impala, Bad Religion, Eagles of Death Metal e uma porrada de outros. Infelizmente, para quem não vai, Eminem não autorizou a transmissão de seu show pela televisão.