Epic, Valve e Unity querem dominar o mercado liberando engines de graça

Foram três notícias distintas, anunciadas em um intervalo de dias, e que juntas, representam uma mudança bastante profunda no panorama do mercado de desenvolvimento de jogos. Na mesma semana – e no mesmo evento – Epic Games, Valve e Unity anunciaram a liberação gratuita de suas engines, respectivamente, a Unreal, a novíssima Source 2 e a Unity.

Principalmente no primeiro caso, temos aqui uma mudança interessante. Para a Epic, seu motor gráfico sempre foi a galinha dos ovos de ouro, estando presente – até hoje – em grandes games como Mortal Kombat X, Batman: Arkham City ou Tekken 7, apenas para citar alguns exemplos de uma lista que, agora, promete aumentar ainda mais.

O mesmo vale para as outras empresas que, apesar de não alcançarem cifras tão grandes, também contam com tal faturamento para se manterem de pé. Todas, quase que ao mesmo tempo, anunciando gratuidades, tomando emprestadas dinâmicas do mundo mobile e, acima de tudo, lutando para se manterem relevantes em um mercado cada vez mais plural.

E é justamente aqui que está o grande x da questão. Foi-se o tempo em que o desenvolvimento de jogos era renegado às grandes empresas e plataformas. Hoje, uma única pessoa, em seu quarto, pode criar um game de sucesso – como Flappy Bird – muitas vezes maior do que uma Electronic Arts e seus grandes blockbusters. E é para achar um espaço dominante nesse novo cenário tão flutuante que Epic, Valve e Unity entregaram, durante a GDC, suas galinhas dos ovos de ouro para o público.

Ganhos (e pagamento) justos

Na realidade, dizer que tudo sai de graça agora, não seria necessariamente correto. A melhor forma de definir a situação – para Epic e Unity, pelo menos, já que a Valve não falou em detalhes – é que as companhias querem que você faça sucesso. A ideia é simples: pode fazer tudo de graça. Seu game vendeu bem? Ganhou dinheiro? Então pague o aluguel. Não rolou? Segue em frente, tem outros jogos.

No caso da Unreal Engine, por exemplo, é cobrada uma taxa de 5% de todo o faturamento dos jogos a cada trimestre de vendas, desde que eles ultrapassem a marca de US$ 3 mil por período. Já a Unity tem um sistema um pouco mais complexo – caso seu título tenha um financiamento menor do que US$ 100 mil, ou fature menos do que isso, sai tudo de graça. Caso contrário, são duas opções: uma taxa única de US$ 1,5 mil ou o pagamento mensal de US$ 75 enquanto o título estiver a venda.

Em ambos os casos, são formas de taxar quem realmente tem dinheiro, sem enforcar os pequenos que, muitas vezes, não possuem nem mesmo um escritório próprio ou budget para pagar seus colegas de trabalho. E todos, desde o novo blockbuster da Activision até o pequeno produtor de um potencial grande sucesso da App Store, estão sujeitos às mesmas condições e podem contribuir de acordo para a continuidade do desenvolvimento dos motores gráficos.

Aqui, também, vale citar a inclusão de elementos dignos do mundo mobile no trabalho com as engines. Tanto a Epic quanto a Unity revelaram que, além de continuarem atualizando suas ferramentas, também dedicarão esforço adicional aos mercados de venda de assets, que incluem sons, texturas e até mesmo gráficos pré-prontos para facilitar o desenvolvimento. Tudo isso, claro, é vendido em troca de dinheiro, e também ajuda a financiar o trabalho de quem trabalha nos bastidores dos bastidores do desenvolvimento de jogos.

Mundos maiores

Eu não preciso ficar aqui falando sobre a importância do mercado mobile, e de como ele, cada vez mais, toma o espaço no tempo livre dos usuários e nos faturamentos de grandes companhias. Sendo assim, dá para entender porque as companhias do setor querem um pezinho também nesse segmento, com suas engines sendo usadas na produção do próximo grande hit do Android.

Existe, agora, um cenário ainda mais amplo, que envolve não apenas os PCs, consoles, celulares e tablets, mas também os dispositivos de realidade virtual. E aqui, temos a presença ilustre não apenas de desenvolvedores de jogos, mas também produtores de cinema, criadores de softwares e até mesmo profissionais de setores como educação e acessibilidade, todos interessados em usar as novas tecnologias para mais do que apenas dar mais imersão naquela sua partidinha de Counter-Strike.

Agora, mais do que estar por trás dos zumbis de Dead Island 2 ou dos próximos episódios de République, os motores gráficos podem aparecer também na sala de cinema virtual do Netflix para o Morpheus ou nos sistemas de comunicação do Facebook para o Rift. E o custo envolvido, muitas vezes, pode ser a diferença entre o uso de uma ferramenta ou o desenvolvimento de um sistema específico dentro de casa.

Pelo que dá para prever, a demanda por esse tipo de sistema será maior do que nunca daqui em diante. E, nesse ensejo, a gratuidade deve ser um fator predominante pelo qual uma empresa ou desenvolvedor escolha um sistema ou não. No fim das contas, então, o combate acontece em termos de inovação tecnológica e funcionalidade. E aqui, não só produtores de jogos, mas também os usuários, só têm a ganhar.