O primeiro Layers of Fear surgiu como uma rara peça em um mundo de terror virtual acostumado a jump scares baratos, vazios e completamente previsíveis. A ideia de acompanharmos a escalada de loucura de um pintor a partir de suas obras se mostrou bastante interessante, apesar do desfecho questionável e dos problemas de execução. Aqui no NGP, falei do game como um climáx com três horas de duração, que não entrega o desfecho esperado.
Em uma sequência, se espera evolução ou, pelo menos, melhoria em relação ao anterior. E foi justamente essa primeira abordagem que a desenvolvedora Bloober Team adotou no ótimo Observer, que além de focar no terror e no enredo, versava sobre tecnologia e sociedade em uma distopia simplesmente aterradora. Entretanto, em Layers of Fear 2, a produtora parece ter regredido nos aspectos que mais importavam.
Se ela ouviu as críticas à jornada do primeiro game da série, a escolha não poderia ter sido pior. De um clímax gigantesco que leva a um final insatisfatório, optou por seguir sem antecipação alguma, apresentando ao jogador uma série de alucinações que parecem jogadas e sem muita ligação entre si. É o jogador quem precisa tecer as amarras e criar a história na própria cabeça, em uma abordagem interpretativa que pode soar como benéfica, mas não se traduz no realismo fantástico visto no game.
De ambicioso, bonito e interessante, Layers of Fear 2 acaba se tornando um daqueles filmes medianos e pretensiosos, cheio de alegorias que não levam a nada.
Estamos a bordo de uma luxuosa embarcação e na pele de um ator de cinema, diante do papel que pode muito bem representar uma virada em sua carreira. Entretanto, o longa que está sendo rodado em alto mar vem pelas mãos de um diretor um tanto excêntrico, que gosta de joguetes e prefere extrair o melhor de seus intérpretes de maneiras pouco usuais, que mexem diretamente com os anseios, medos e temores do próprio protagonista.
É uma mudança de arte, da pintura para o cinema e o teatro e, também, um show de referências exibidas pelo Bloober Team. Estamos em uma época na qual a sétima arte era puro glamour e isso transparece não apenas no visual do game, mas também nas pressões e obsessões do protagonista. O contraste entre a decadência e a glória existe, assim como a noção de que aquela é uma indústria à qual quem quiser se bem-sucedido tem que se dedicar por inteiro.
São discussões e ensejos que instigam e levariam adiante, não fossem as amarras fracas. Como dito, Layers of Fear 2 investe em alucinações que têm seu próprio conteúdo e ambientação, mas falham em se ligarem umas às outras de uma forma que leve o jogador adiante. No começo, o usuário não percebe que há um mistério a ser resolvido ou algo acontecendo, e enquanto é apresentado a cenas que parecem desconectadas entre si, se espera apenas que ele siga em frente.
Esse resultado moroso, para não dizer chato, se estende por boa parte da experiência de Layers of Fear 2, com as primeiras conexões e sentido começando a aparecer, apenas, depois da metade do jogo. O título da Bloober Team ganha fôlego a partir de seu terceiro ato, recompensando os jogadores que resistirem até lá. Pelo menos isso.
De uma brincadeira infantil de piratas e flashbacks de uma irmã mais velha, somos levados a um filme policial em que temos que fugir de um refletor e, na sequência, escolher sem contexto algum entre dois bonecos para levarem um tiro. Dá para imaginar que a opção, uma de tantas que aparecem ao longo das horas de jogo, podem influenciar no andamento do enredo, mas não há nenhum contexto sobre o que, efetivamente, está sendo resultado daquilo.
No restante do tempo, estará seguindo pelo que parece ser um labirinto, mas na verdade são apenas corredores cheios de portas trancadas com apenas uma aberta. Não que andar pelos cenários seja um problema, pois eles são belos e vistosos, com um fotorrealismo impressionante que já vem se tornando marca da desenvolvedora. Porém, há pouco espaço para exploração e muito para o chato processo de tentativa e erro, já que, em Layers of Fear 2, a desenvolvedora decidiu adicionar novos aspectos de jogabilidade.
Na tentativa de dar “mais cara de jogo” ao título, foram criados obstáculos artificiais e elementos de jogabilidade que tiram o foco da história, onde deveria estar o maior brilho.
De vez em quando, e naqueles que são de longe os piores momentos do game, é possível morrer para as garras de um monstro sem rosto, capaz de nos matar com um único contato. O caminho a seguir, entretanto, nem sempre fica claro e as mortes serão muitas até que o jogador entenda a simplicidade do que precisa ser feito. Os puzzles, na maioria do tempo, se resumem a ativar uma alavanca para abrir algo ou encontrar a chave para uma passagem trancada.
Os desafios, se é que podem ser chamados assim, se repetem do começo até o final, no que é, ao mesmo tempo, uma tentativa de dar mais “cara de jogo” a Layers of Fear 2 (outra resposta a uma crítica relacionada ao primeiro) e também um aspecto que coloca obstáculos artificiais na história que a produtora deseja contar.
Existe, entretanto, beleza em diversos aspectos visuais de Layers of Fear 2, com algumas das imagens construídas se tornando verdadeiras representações do macabro. Fica difícil não se sentir atingido e incomodado por algumas alegorias feitas, enquanto outros momentos simplesmente sinistros brilham como pequenas pérolas em meio a um mar de dificuldade.
A viagem pela loucura do protagonista, pelas novas habilidades de storytelling do Bloober Team e as cutucadas certeiras no glamour quase nunca real das indústrias do cinema e do teatro impressionam numa primeira olhada, mas participar desse festival caótico, entretanto, é bem mais complicado. De título ambicioso e história aterradora, Layers of Fear 2 acaba se saindo como um daqueles filmes pretensiosos, mas bem medianos, que continuamos a assistir apenas para ver no que tudo aquilo vai dar, com um resultado quase nunca satisfatório ao final.
O jogo foi testado no PS4, em cópia cedida pela Gun Media.