A entrevista que você vai ler agora aconteceu completamente por acaso. Assim que cheguei à BGS 2014 – e após jogar Resident Evil Revelations 2 – fui até o estande da Ubisoft para testar o que, para mim, era o segundo jogo mais esperado da feira. Não entendi muito bem a disposição da fila e pedi informação a uma pessoa com a camiseta do game, que parecia fazer parte da organização do espaço. Era Matthieu Crépaux, produtor associado, passando despercebido em meio às primeiras pessoas que chegavam para experimentar o título.
Ele não fala português, e eu, despreparado para aquele momento, comecei a me embaralhar com o inglês, em meio a todo aquele barulho de começo de feira. Pedi uma entrevista e, com simpatia, ele aceitou, dispensando a intérprete e afirmando que a gente ia “se virar” com a diferença de idioma. E para tornar a situação ainda mais inusitada, nos refugiamos do som alto de Just Dance, logo ao lado, dentro do tuktuk, o carrinho que era uma das atrações do estande. O momento acabou sendo registrado, sem querer, na foto que você vê abaixo.
Entre elogios aos títulos anteriores da franquia e muita expectativa pelo que está por vir, o papo sobre Far Cry 4 se baseou, principalmente, na imensidão desse mundo e como temos “coisa para caralho” para fazer nele, nas palavras do próprio Crepaux, que atua também como level designer do jogo. Confira:
Para mim, Far Cry 3 é um dos melhores FPSs da geração passada, justamente pela liberdade que ele dá ao jogador. Podemos esperar o mesmo dessa sequência, ou veremos algo mais linear, focado na história?
Queremos levar adiante aquilo que já fizemos de bom, pois entendemos que os jogadores querem esse mundo aberto muito grande, rica e, acima de tudo, pessoal. É a sua maneira de jogar que define sua experiência, queríamos trabalhar ainda mais com isso em Far Cry 4 com novos “brinquedos”, animais e diferentes biomas e ambiente.
Não queremos forçar ninguém a ter uma experiência pré-definida e sabíamos que fazer isso ia ser negativo para muita gente. Existem jogadores que preferem ser furtivos, outros que preferem sair para o combate. Há aqueles que gostam de caçar e os que curtem acompanhar a história. Queremos atender todas essas pessoas e a melhor maneira de fazer isso é construir um mundo aberto rico e que dê ao usuário a oportunidade de seguir como quiser. Não se preocupe, você terá coisa para caralho para fazer em Far Cry 4.
E como dar conta de tudo em um game tão diverso assim?
Nós conhecemos o nosso público e sabemos que os jogadores vão enlouquecer em Kyrat. Não podemos prever tudo o que vai acontecer por lá, então tentamos criar algo que permita que eles sejam livres para experimentar. Esse é o nosso grande desafio: permitir que as pessoas joguem da própria maneira.
Mal podemos esperar para recebermos os primeiros vídeos, como aconteceu em Far Cry 3, e descobrir a quantidade de coisa que nem imaginávamos e os usuários foram capazes de fazer.
Existem mais diferenças entre as versões para a nova e a velha geração, além do aspecto gráfico?
Queremos entregar exatamente a mesma experiência em todos os consoles. Para nós, esteja você jogando no PlayStation 3 ou no Xbox One, o mundo sempre precisava ser o mesmo. Claro, existem mudanças que precisam existir do ponto de vista técnico, mas na medida do possível, os jogadores terão o melhor game possível em qualquer uma das plataformas.
Far Cry está se tornando também uma série com grandes vilões. Vaas foi ótimo e Pagan Min parece ser ainda melhor. Quais as influências para a criação de figuras desse tipo?
Criar personagens fortes é sempre um processo enorme, com coleta de referências e testes para ver o que queremos entregar para o jogador em termos de antagonista. O vilão carismático é tão parte do DNA de Far Cry quanto o mundo aberto, então criamos alguém com uma personalidade extremamente forte a partir de centenas de influências diferentes de todos que estavam envolvidos na produção. É um trabalho longo e extremamente interativo.
Que tipo de referências? Pessoas reais, como ditadores ou políticos, ou protagonistas do cinema, games e televisão?
Pagan Min é uma mistura de tudo isso. Todos os produtores e desenvolvedores chegam ao escritório na manhã de segunda com referências de filmes que assistiram no final de semana, livros que leram ou notícias que viram na TV. Colocamos tudo isso na mesa, diante dos diretores de narrativa e arte, e pensamos o que vale a pena colocar no jogo e transformar em um traço de personalidade para os personagens.
Um dia, por exemplo, alguém chegou do nada e disse que ele deveria ter um paletó pink. E pensamos, porque não? E veja só você [apontando para um cosplayer oficial que estava presente no estande, vestido justamente como o ditador de Kyrat].
Você já ouviu falar do Clodovil?
Nunca. Mas vou procurar, pode deixar.
Aqui, Crépaux realmente parecia não fazer a menor ideia do que eu estava falando. Por isso, tirei um pedaço de folha do meu bloco de notas e anotei o nome do apresentador, para que ele pesquisasse mais tarde. Queria saber se ele realmente fez isso…
Para terminar, podemos esperar um Far Cry no Brasil? Por aqui, também temos esse mesmo tipo de diversidade que vocês gostam, com florestas, cidades, praias e tudo mais. Queremos ver alguém como Pagan Min falando português.
Sem dúvida, por que não? Estamos sempre buscando ideias novas. No momento, estamos finalizando Far Cry 4 e passamos pela fase mais maluca da produção. Assim como no mundo aberto da série, nossa porta sempre está aberta para novas experiências e ideias. E nisso se encaixa também novos locais para criarmos um novo jogo.
Far Cry 4 chega às lojas na próxima terça-feira (18), com versões PC, Xbox One, PlayStation 4, PS3 e Xbox 360. Confira nossas impressões e saiba o que esperar do jogo.