Foi anunciado nesta semana, sem muitos detalhes, que as histórias em quadrinhos do Sonic não seriam mais lançadas pela Archie Comics, após 25 anos de publicação. A grande surpresa para muitos, entretanto, é descobrir que o personagem tinha uma linha de quadrinhos tão longeva, mesmo longe do seu auge nos anos 90. Foram centenas de edições publicadas sem zerar a numeração da capa, algo muito comum entre as gigantes do meio, como Marvel e DC, de forma a impulsionar vendas, o que a tornou uma das HQs mais duradouras do mercado americano.

Mas como tudo isso começou? Para isso, é preciso lembrar que esse acordo ocorreu em um período muito diferente para a marca Sonic e para a própria SEGA, por assim dizer. Sonic The Hedgehog foi lançado em 1991 e estava em uma onda crescente de popularidade. A empresa ainda disputava pedaços do mercado mundial de consoles, com uma disputa ferrenha com a Nintendo pelo mercado americano. Para impulsionar ainda mais a popularidade do mascote, ela liberou o uso do ouriço para produções fora dos video games.

Foi assim que produções como as séries “Adventures of Sonic the Hedgehog” e “Sonic the Hedgehog” nasceram. Ambas tinham mais espaço que os cartuchos de 16 bits para contar histórias mais desenvolvidas e aprofundar seus personagens. Enquanto as animações ainda eram produzidas, a SEGA chegou em um acordo com a Archie Comics, uma editora relativamente pequena, mas com estabilidade de publicações graças à série de quadrinhos homônima, para produzir uma minissérie de quatro edições afim de divulgar as animações.

Assim nasceram os quadrinhos Sonic The Hedgehog, em novembro de 1992, que aproveitava o uso de personagens tanto dos jogos como dos desenhos.

As primeiras edições tinham um tom juvenil e focado em comédia, sem se distanciar muito do cânon que outras mídias já haviam estabelecido. Com o fim dos desenhos, os autores tiveram muito mais liberdade para criar seus próprios personagens e eventos.

Com Ken Penders no roteiro, a publicação começou a ganhar forma própria e se distanciar cada vez mais da simplicidade dos jogos, criando personagens novos e histórias complexas que se alongavam por inúmeras edições. Os games ainda ditavam a necessidade de ter seus elementos inseridos nos quadrinhos, como um meio extra de divulgação. Assim, personagens como Amy Rose e Shadow eram introduzidos dentro da continuidade dos quadrinhos, conforme os jogos eram lançados.

Assim como a história se tornava algo único, o departamento de arte também tomava algumas liberdades no que dizia a fisionomia de Sonic e seus amigos. Os artistas da série eram rotativos e os resultados nem sempre eram consistentes, dependendo de quem era por trás dos traços.

Em 2006, Ken Penders saiu da função de roteirista da revista e entrou com um processo judicial sobre o uso de suas criações originais. Isso obrigou a Archie a fazer um pseudo reboot, pelo qual os personagens de Penders nunca existiram na cronologia, apagando mais de uma década de histórias.

Assim, as revistas passaram a usar mais criações dos games e menos da autoria do escritor, o que incluiu até mesmo crossovers com Mega Man, que também tinha HQs da Archie. Ian Flynn, responsável também pelas históriass do robô azul da Capcom, assumiu o roteiro das histórias do ouriço até o seu abrupto fim em janeiro deste ano.

Após um hiato sem muitas explicações e justificativas, a SEGA fez o anúncio oficial que já parecia ser inevitável. Os quadrinhos produzidos pela Archie seriam cancelados e os direitos do ouriço seriam entregues à IDW, a editora responsável pelas HQs de Transformers, Arquivo X, Star Trek e outros.

Ainda que uma tenha perdido uma franquia, a Archie Comics ainda conta com o sucesso de série homônima, que acabou de ganhar uma adaptação para a TV, com o nome de “Riverdale”.

O fim dessa parceria condiz com a revitalização que a SEGA está fazendo com o personagem, lançando novos jogos como Sonic Mania e Sonic Forces na esperança de trazer um pouco o prestígio que o ouriço tinha anos atrás. Não há de se negar que, por mais que Mario tenha sido triunfante no que tange os jogos, o protagonista azul ainda se saiu melhor quando o assunto são as adaptações em outras mídias.

Sonic Archie

O encanador da Nintendo sempre teve dificuldades em sair do controle da empresa mãe (lembram-se do filme live action? Eu também, infelizmente). Enquanto isso, Sonic estrelava animações competentes (com uma sendo transmitida até hoje) e a história em quadrinhos mais longa e complexa que um jogo de video game pode pedir. Ainda que não seja o legado que a SEGA esperava para o personagem em sua criação, não deixa de ser um feito admirável por si só.

No Brasil, os desenhos “Adventures of Sonic the Hedgehog” e “Sonic the Hedgehog” foram transmitidos pela Globo e SBT, respectivamente. As primeiras edições dos quadrinhos do personagem foram publicadas pela Editora Escala, voltando a saírem no Brasil pela Editora Online, em 2009, e pela última vez, até o momento, pela Editora Alto Astral, em 2014.

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