Quem nunca comprou um jogo pela capa, não é verdade? Ainda mais naquela época de trevas, quando vagávamos por vários vendedores, devidamente sem o registro da prefeitura para exercer sua atividade, o tal “amigo camelô” e suas banquinhas, com alguns trocados no bolso e saíamos de lá com um saco de lixo de 20 litros recheado de CDs/DVDs mal gravados e seus encartes impressos com o mínimo de tinta possível, apenas com a cara do jogo e sem muitos detalhes sobre o gameplay.
Numa dessas, um amigo chegou a comprar o primeiro Syphon Filter acreditando ser um jogo sobre NINJAS. Porém, haviam os vendedores alternativos que eram bastante caprichosos,, e suas “réplicas” de 25 pratas chegavam a ser tão bem feitas quanto aos originais. Com a mídia prensada, bonitinha e a capa com cores vivas e sem falta de detalhes. Dava até gosto de comprar. Capa irada, jogo baratinho, sem culpa e BUUM! O game era uma bomba.
Esse processo se repetia numa freqüência frustrante e desanimadora, que formava pilhas de jogos ruins que nunca mais seria colocados novamente nos consoles. Culpa das malditas capas enganadoras que me vendiam algo fantástico e entregavam tristezas. E o pior de tudo isso é estar ciente que estava chorando de barriga cheia.
Antes das mídias que comportam até 700 MB de dados, com trilha orquestrada e gráficos com um 3D bacana, algo que na época era o topo da qualidade (Oi, Final Fantasy VII, gosto de você e do Cloud “Braço do Popeye” Strife até hoje), antes mesmos dos 16 bits, haviam os jogos e consequentemente suas capas. E o quanto aquilo era diferente do que nos apresentava. Ressaltando, é claro, que todos eles eram frutos da sua época e não havia como serem muito diferentes do que foram, mas uma pequena trapaceada não fazia mal…
Uns bons exemplos…
Começo citando um jogo para o antigo Commodore 16, Rockman.
Analisando o jogo pela capa, nos deparamos com um coroa badass (ou um Elfo Drow, talvez) destruindo pedras com as próprias mãos, enquanto habilmente lida com demônios das profundezas, ou uns caras um tanto feios para andar na superfície, buscando jóias e outras pedras preciosas para dar entrada num PS4 no Brasil.
Porém, o gameplay nos mostra um ajudante do Papai Noel (não o cachorro) esquivando-se das rochas e dos inimigos para coletar toda riqueza que encontrar. Jogo simples com poucas coisas que nos remetem à sua apresentação inicial. E assim, éramos felizes.
Esse é um clássico. Nos dois sentidos, tanto do jogo quanto da capa bizarra. E graças aos céus, o primeiro Megaman para o NES em nada teve a ver com sua capa. Até porquê nem nos sonhos mais loucos daria pra imaginar um bom jogo sendo protagonizado por um sujeito que já na capa aparenta estar pensando: O que eu estou fazendo aqui? E, o que era de se esperar, devido à desgraça em forma de capa, no lançamento, o jogo teve vendas fracas nos Estados Unidos. Quem em sã consciência compraria um jogo de um polícial de meia idade e meio triste, vestido de Tron e com sua pistola d’água?
E o que piora é que a série possui outras capas de gosto duvidoso. Talvez o mesmo artista possa ser o responsável por esse filme de 1h:30min com o melhor de Megaman, com o protagonista com um tubo de Pringles no braço servindo de Buster Gun. Vale a pena (não) ver.
Para o Atari 2600, no jogo do Homem de Aço, era necessária uma capacidade de imaginação fora do comum. E lá no final dos anos 70, quando o jogo foi lançado, enquanto nos quadrinhos Superman já resolvia altas tretas de escala cósmica, como na capa, no jogo prendíamos pixels de chapéu. Ao mesmo tempo que, em Pitfall!, lançado três anos depois (Ok, isso faz uma diferença tremenda, mas mesmo assim…), trazia uma capa bem bonita e bastante honesta. Quanto ao jogo não é preciso dizer que é o mais reconhecido e querido, em se tratando da primeira leva de consoles como conhecemos hoje.
E apesar de pertencer à mesma lógica, evitarei mencionar o famoso jogo X-Man (sem piadas com os quadrinhos, por favor) também para o Atari, pois posso estar ofendendo alguém que curtia o lance. Tem de tudo nesse mundo, vai saber.
E hoje…
Cada vez mais, ao repararmos nas artes das capas mais recentes e ao jogarmos seus jogos, percebemos com deleite certas cenas ingame onde ficamos embasbacados com um detalhe ou outro da ambientação, ou com cutscenes, que, claro, não haviam antigamente devido à limitação do seu tempo. Hoje, chegamos ao ponto de salvar o progresso para rever aquele por do sol enquanto cavalgamos a caminho de Armadillo, em Red Dead Redemption, ou então quando conseguimos encaixar vários combos com o Batman, lutando em Arkham Asylum, e a fluidez de como tudo aquilo foi feito.
São pequenos exemplos de que a capa, a sua vitrine inicial, nada entrega. Utilizando sempre que pode artes mais conceituais, deixando toda boa experiência para o ato do jogo, a sua vitrine atual está no Youtube. A capa virou uma mera roupa elegante. Ainda bem.